Com 42 anos de idade, ela passou a metade alisando os fios. Das tranças feitas pela avó ao pente quente foi um pulo. Quando as químicas vieram, vieram para ficar. As lembranças não eram nada agradáveis, assim como as piadas maldosas. Cansada de tanta autopunição, decidiu aos 38 parar com tudo, até para servir de incentivo para a filha Beatriz. Foi na máquina 02 sem medo e sem apoio nenhum. Neutralizou as críticas familiares e redescobriu o cabelo natural, que para  a sua surpresa: era estonteante! O volume hostilizado virou seu grande aliado. Hoje, não se imagina mais com outro cabelo que não seja o seu, mas diariamente tem que lidar com o racismo velado pelo simples fato de ser negra e ter o cabelo crespo natural. Por outro lado, ajuda outras mulheres negras a se empoderarem e se libertarem dos padrões de beleza, aceitando seu DNA e sua ancestralidade com orgulho. Por isso ela foi uma das youtubers convidadas para o #projetosecretodoscachos, representando o cabelo 3C. Fora da casa dos 20 anos, ela não se intimida diante das novatas, e esbanja charme, beleza, e acima de tudo poder, o poder de ser mulher, mãe, negra e, acima de tudo, empoderada.

Entrevista Marfim Rosa: Cabelo Crespo e Empoderamento Feminino

Sabrinah Giampá- Você sempre usou o seu cabelo natural ou também foi adepta de químicas?

Marfim Rosa – Dos meus 42 anos de idade, fui adepta de químicas alisantes por 22 anos. Comecei aos 16 e fui parar de usar aos 38. Eu nem lembrava como era meu cabelo….

Sabrinah Giampá – Conte sobre sua trajetória capilar e relação com o cabelo na infância

Marfim Rosa – Eu lembro que desde muito pequenina, minha avó fazia tranças em meus cabelos. Ela não sabia fazer tranças de raiz e sempre fazia as mesmas. Eu fui crescendo e aquelas tranças foram me incomodando. Eu via minhas coleguinhas de escola sempre com seus cabelos soltos ao vento. E o meu não. Naquela época, minha avó tratava meus cabelos com babosa e óleo de tutano, receitas bem caseiras. Não existia muitas opções a não ser alisante ou o famoso pente quente. Quando eu não estava de tranças, estava com os cabelos alisados pelo pente quente. Aquela tortura, que muitas vezes queimava meu couro cabeludo, testa, orelhas, era a opção mais próxima de ter um cabelo liso, o que era aceito pelas minhas coleguinhas, sem que eu utilizasse química. E antes da química, iniciada aos 16 anos, foi o que mais utilizei pra me sentir “aceita”.

cabelo crespo

Eu lembro que desde muito pequenina, minha avó fazia tranças em meus cabelos. Ela não sabia fazer tranças de raiz e sempre fazia as mesmas. Eu fui crescendo e aquelas tranças foram me incomodando. Eu via minhas coleguinhas de escola sempre com seus cabelos soltos ao vento. E o meu não.

Sabrinah Giampá- Você começou usando que tipo de alisamento?

Marfim Rosa – A primeira que utilizei após o pente quente foi o henê, pois ‘amaciava’ o cabelo tirando o volume. Depois foi a guanidina (amaciamento), e por fim, o tioglicolato (permamente afro).

Sabrinah Giampá – Por que decidiu parar?

Marfim Rosa – Fui ficando de saco cheio de usar químicas, estar sempre dependente delas. Fiquei em transição por 4 meses sem saber que estava, eu só não queria mais ser escrava daquele processo químico que era caro, demorava pra fazer e não durava, e que não me refletia realmente como eu queria. Decidi não passar mais nada e ver a textura do meu cabelo. Nesses 4 meses vi que meu cabelo não era o que me diziam (feio). A curiosidade de redescobri-lo fez com que eu decidisse cortar e ver como ele era.

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Fiquei em transição por 4 meses sem saber que estava, eu só não queria mais ser escrava daquele processo químico que era caro, demorava pra fazer e não durava, e que não me refletia realmente como eu queria. Decidi não passar mais nada e ver a textura do meu cabelo. Nesses 4 meses vi que meu cabelo não era o que me diziam (feio).

Sabrinah Giampá – Como foi seu big chop?

Marfim Rosa – Cortei curtinho. Fiz uns três cortes em menos de três meses, até que em Janeiro 2013 resolvi passar a máquina 2. Não tive apoio, mas tive críticas de como ficou da parte da minha avó e de pessoas na rua. Nunca liguei. Sabia o que eu queria, que era ser livre, me redescobri! Foi a melhor coisa que fiz! Hoje não me vejo mais com outro cabelo sem ser o meu, volumoso do jeito que gosto e que sempre me ensinaram a odiar.

Sabrina Giampá – Ter uma filha ajudou a mudar sua relação com seu cabelo? Fale sobre isso.

Marfim Rosa – Sim. O cabelo da minha filha, quando ela nasceu, era muito liso, e foi cacheando com o tempo. O dela é um 3b/3C hoje. Eu não queria que ela passasse pelas mesmas situações que eu passei. Eu sempre fiz e faço questão de ensinar e mostrar como ela é linda com seus cabelos. Ter meus cabelos naturais reforçaria que o cabelo dela é lindo, do jeito que veio,nasceu e cresceu na cabecinha dela.

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Marfim com a filha Beatriz, amor próprio passado de mãe para filha : ” Não queria que ela passasse pelo que passei”

Sabrinah Giampá- Assumir o cabelo natural é um ato político e de empoderamento feminino? Fale sobre.

Marfim Rosa – Com certeza. Como eu sempre digo, você não consegue se sentir empoderada, bonita, se você se acha feia. A autoestima é parte fundamental em qualquer empoderamento. Quando eu me identifico com meu cabelo, eu me sinto empoderada, independente do que qualquer pessoa diga. E a partir do momento que eu tenho que dizer isso, levanto esta bandeira política sobre o que sou, como sou, como me aceito, como meu cabelo tem DNA da minha família, dos meus ancestrais, das minhas raízes.

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Eu busco passar o empoderamento sempre com foco no empreendedorismo. As mulheres precisam de empoderamento financeiro para serem livres em outras áreas (sim, sou feminista também). E a melhor frase que criei na vida me define: A liberdade de ser quem você é, onde, como quiser e em qualquer idade!

Sabrinah Giampá – Já sofreu preconceito por conta do cabelo natural. Como mulher negra, já passou por alguma situação de racismo? Comente.

Marfim Rosa – Já sofri preconceitos sim, e na maioria velado. Hoje eu tiro de boa, não ligo para os olhares maldosos, pois cheguei num ponto que me sinto tão feliz com meu cabelo que a opinião dos outros é só isso: opinião dos outros. Importa eu me aceitar. Mas lembro quando eu era criança que uma amiguinha disse que meu cabelo era duro como uma palha de aço. As crianças são maldosas e o que se ouve na infância se leva para vida adulta, causa estragos quando são maldades. Eu, como mulher negra, mais de 40 anos e de cabelo crespo, passo por situações de racismo no dia adia nas oportunidades que me são negadas pela minha cor de pele e cabelo crespo. Mas ainda é tudo muito velado.

08-18mar2013

Cortei curtinho. Fiz uns três cortes em menos de três meses, até que em Janeiro 2013 resolvi passar a máquina 2. Não tive apoio, mas tive críticas de como ficou da parte da minha avó e de pessoas na rua. Nunca liguei. Sabia o que eu queria, que era ser livre, me redescobri! Foi a melhor coisa que fiz!

Sabrinah Giampá- Dizer que o cabelo natural dá mais trabalho que o quimicado é um mito? Explique o porquê?

Marfim Rosa – Mito! Qualquer cabelo que você queira manter saudável e bonito requer cuidados, seja ele quimicado ou natural. Uma pessoa que gosta de lisos vai precisar fazer muita escova, chapinhas para mantê-los bonitos, mas nem sempre saudável. Meu cabelo é mantido com muitas hidratações, umectações e não vejo como trabalho. Vejo como cuidado, investimento, bem estar. Eu levo muito menos tempo do que quando usava química. E tem a questão da liberdade: posso fazer escova se quiser, testar mil produtos, técnicas. Eu prego a liberdade de usar o cabelo como quiser, mas um cabelo sem química é muito mais versátil, eu acredito! E posso falar, já que transitei pelos dois lados.

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Mas lembro quando eu era criança que uma amiguinha disse que meu cabelo era duro como uma palha de aço. As crianças são maldosas e o que se ouve na infância se leva para vida adulta, causa estragos quando são maldades. Eu, como mulher negra, mais de 40 anos e de cabelo crespo, passo por situações de racismo no dia adia nas oportunidades que me são negadas pela minha cor de pele e cabelo crespo. Mas ainda é tudo muito velado.

Sabrinah Giampá- Por que criou o canal e qual a mensagem que pretende passar para as suas seguidoras?

Marfim Rosa – Inicialmente, criei o canal para dividir vídeos com a família, e depois para dar dicas de comprinhas para as minhas amigas. Quando resolvi assumir meu cabelo natural é que veio toda uma consciência do que era ser crespa e negra. Eu busco passar o empoderamento sempre com foco no empreendedorismo. As mulheres precisam de empoderamento financeiro para serem livres em outras áreas (sim, sou feminista também). E a melhor frase que criei na vida me define: A liberdade de ser quem você é, onde, como quiser e em qualquer idade!

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