Meu namorado herdou do antigo relacionamento quatro filhos caninos, e eu, por tabela, acabei sendo agraciada. No início, confesso que tive receio. Até porque sempre fui da filosofia de que 1 é suficiente; 2,um exagero e 3, um despropósito. Mas, enfim, a vida me mostrou o contrário. Temos o Frodo ( sim, o nome veio da trilogia do Senhor dos Anéis), que é o grande patriarca. Suas filhas, a Princesa, uma vira-latinha linda, toda branca e com pêlos bem compridos – mas que vivem encardidos e embaraçados. E a Hiena, toda malhadinha, que parece muito com uma hiena de verdade, e também com o pai. Os três dividem o quintal da casa, onde têm uma casinha de madeira, que foi construída pelo meu namorado com os restos de uma antiga mesa de jantar. A ideia do telhadinho, feito com uma gaveta descartada, foi minha. Ficou um encanto. Para a minha surpresa, no momento de estrear a casa, os três urinaram um atrás do outro na entrada. Foi como uma espécie de rito de passagem, “como se estivessem estourando uma garrafa de champanhe na porta”, explicou meu namorado. Achei nojento, mas fazia sentido. Nessa vida em conjunto do trio rola muita disputa territorial, onde a Hiena é a grande prejudicada, pois como fêmea Alpha, a Princesa é quem manda. E coloca a irmã no devido lugar. Frodo, já castrado, tem uma relação incestuosa com as filhas, o que é natural no reino animal. No final, brincam, brigam e disputam incessantemente nossas atenções na hora de dar comida. Parecem filhotes de canguru. Já a Gogue, o meu bebê cão, que é um misto de labrador com dogue alemão é nossa filhinha mimada. E vive com a gente dentro da casa. Consegue quase tudo o que quer com aquela cara de camponesa de nobre coração que vai todos os dias ao bosque para coletar lenha. Gulosa, faz chantagem emocional a cada mordida que escuta. Não cedemos. ” Se você a ama, não dê”, insiste sempre meu namorado. De coração partido, tento entender. Mas de vez em quando não resisto e faço um ‘dama e vagabundo’ com ela. É o momento quando compartilhamos um fio de macarrão. Sempre quis fazer isso.
O bebê cão, como costumo chamá-la sempre, foi me conquistando aos poucos. Assim como quem não quer nada. Hoje virou o meu xodó. É como se fosse meu bicho de pelúcia. Aperto até não aguentar mais. Ganho beijos de bom dia e festinha no portão. E muitas risadas quando constato que ela roubou nosso edredom na madrugada e tenho que acordar o ‘pai’ para resgatar. A casa vive cheia de brinquedinhos espalhados pelo chão. Como se houvesse criança por lá, mas não deixa de ser. Sempre que chega alguém ela corre pra buscar o bichinho, e não me surpreenderia se a encontrasse brincando com um ladrão que tentasse invadir a casa. O amor que recebi deste quarteto de cães mal cabe no meu coração. Transborda. A sensação que eu tenho, é que por mais que eu me doe, nunca terei amor suficiente para retribuir o que eles me oferecem. Na hora do banho, quem toma banho sou eu. É preciso um arrastar de patas para enfiar debaixo do chuveiro. E por fim tenho a recompensa. São tantos beijos, que nem preciso me secar depois. É por essas e outras que não duvido mais de que os cães são, não apenas, os melhores amigos, mas os maiores amigos do homem. Têm um amor indescritível dentro deles, que não dá pra mensurar. Ainda me lembro da minha cachorrinha de infância, a Miminha. Outra vira-lata querida. Ouvia minhas confidências e um dia até rosnou para minha irmã que havia brigado comigo. É tanta lealdade que não dá pra explicar. Só vivenciando mesmo. Hoje li duas matérias comoventes nesse sentido. Um morador de rua que estava internado num hospital, recebia a visita diária de sua cachorrinha vira-lata. Comovidos, os funcionários tiveram que abrir uma exceção para que ele pudesse retribuir o carinho. Outra matéria mostra um momento de cumplicidade entre um cão e seu dono. Dentro de um lago, o cachorrinho abraçado ao dono, encostou a cabeça no seu ombro e dormiu. Amor e confiança, foi isso que vi nessa foto. E depois dizem que não existe amor de verdade.
Mas não há amor que substitua o amor de um cão. Só peço que Deus me garanta minha cota de beijos caninos por toda eternidade. Isso seria uma garantia de felicidade que nunca mais quero abrir mão. Se todo mundo fosse agraciado por um beijo ou abraço canino, as pessoas seriam mais felizes, se sentiriam mais amada, e talvez tivéssemos
um mundo melhor. Beijos caninos a todos!
Claudia Sciré says:
beijos caninos, abanos de rabo e companhia constante são a maior prova de um amor bondoso, sem medos, receios e rancores. Devíamos aprender mais com os cães…
Sabrinah Giampá says:
Você precisa escrever um posto sobra a Hannah! bjks