Não conheço sequer uma mulher que não tenha passado por isso. A história é sempre a mesma. Ela encontra um cara que parece ser diferente dos outros. Ele tem interesse em conhecê-la a fundo e não apenas desfrutar alguns momentos sexuais. Tem um papo interessante e muitas afinidades. É inteligente, divertido, e muitas vezes sabe até cozinhar. A aproximação é brutal. E em pouco tempo não conseguem mais se desgrudar um do outro. São sms-s diários, telefonemas, filmes e jantares. É a intimidade de dormir de conchinha e a cumplicidade de dividir momentos cotidianos. Ela fica deslumbrada, afinal, homens assim são raros. Já não esperava nada após o segundo encontro. Mas com esse foi diferente. Permaneceu e foi ficando até tecer uma névoa envolvente de paixão. Foi conquistando-a aos poucos, sem pressa, e demonstra ter sido conquistado também. Faz planos futuros com ela. E até dá flores no dia dos namorados. Compartilha de momentos íntimos de sua vida e angaria até a aprovação das amigas. O relacionamento, aparentemente perfeito, dura aproximadamente uns dois meses. Daí vem o espirro.
“É como se ele desse um espirro e puft… tudo sumiu. Não faço mais parte de sua vida. Tudo que vivemos se dissolve”, tentou descrever uma amiga. Eu resumo o espirro do desamor como um viral da nossa ‘sociedade líquida’, onde as relações se dispersam como tudo ao nosso redor. “Não consigo entender o que se passa com um homem que vive um relacionamento tão intenso comigo e de um dia para noite age como se nada houvesse, e ainda tem a pachorra de dizer: temos alguma coisa?” – relatou outra conhecida. Já ouvi um caso terrível em que o espirro veio somado ao um festival de zombaria. A tal mulher ludibriada ligou para o cara, para chamá-lo para um jantar agradável (como faziam há meses), e o tal cara, deu gargalhadas dizendo que ela estava ansiosa para vê-lo. Reconhecendo o espirro, e um tanto indignada, essa outra amiga desligou o telefone e nunca mais procurou o dito cujo. ” Parecia que estava ligando para um desconhecido”, descreveu. Um mês depois, descobriu que ele havia engatado um romance com uma desconhecida. Histórias como essas têm criado uma legião de mulheres desiludidas e amarguradas. Estão descrentes não apenas nos homens, mas em si mesmas. Tomam a culpa da vulnerabilidade alheia para si. E quando conseguem enfrentar a frustração e estão prontas pra outra, são novamente pegas pelo espirro. Acredito que seja uma epidemia. Segundo meu terapeuta, nossa geração feminina está literalmente ferrada. Ele diz que os homens da nossa faixa etária são criados para não se comprometerem com nada. Menosprezam os vínculos e enxergam tudo e todos como meros objetos de consumo esporádico. Permanecem estagnados na adolescência e adoram tripudiar em cima dos sentimentos alheios. Aliás, quanto maior o rastro de corações partidos que deixam para trás, maior o sentimento de satisfação. É como se precisassem disso para nutrir o próprio ego. Uma autoafirmação constante e cruel. E apesar da epidemia de espirros do desamor ter se tornado um retrato de nossa realidade, ainda acredito no amor. E mesmo que nunca encontrem uma vacina para este mal, ainda acredito nos homens que são autênticos, espontâneos e que entram na nossa vida sem medo de criar vínculos e falsas ilusões.
São raros. Mas existem. Meu namorado é um exemplo. Já os homens contaminados pelo espirro podem deixar infecções por onde passam, mas são os principais prejudicados. Afinal, como podem ser felizes de verdade se não são honestos nem com eles mesmos? Ou se não se permitem viver uma entrega real?