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Há mais de um ano atrás, fui procurada por uma estudante de jornalismo, a Brunielly, para contribuir com uma matéria da faculdade, que falava sobre mulheres que assumiam seu cabelo natural. O tempo passou e tive a oportunidade de conversar com essa mineira de Divinópolis mais uma vez.

Ela que estava em transição, na época que me entrevistou, hoje, aos 20 anos, e ja no 6º período do curso, se tornou minha entrevistada.  Ostentando um cabelo crespo exuberante, Brunielly, recentemente, ganhou destaque nas redes sociais, com um vídeo que viralizou, onde reage à injúria racial dos colegas de faculdade, recitando uma poesia.

O que mais  indignou essa estudante da Faculdade Pitágoras, não foi a injúria em si, e sim de onde ela partiu, que foi dentro de uma faculdade de jornalismo, onde ao seu ver, as pessoas têm acesso a informação e não deveriam ter um comportamento tão racista e ignorante. Leia a entrevista na íntegra abaixo:

Sabrinah Giampá – Eu li a matéria do jornal e fiquei horrorizada com o racismo que sofreu em pleno século XXI, numa faculdade de jornalismo. Isto te surpreendeu também?

Brunielly Keith – Me assustou muito. Fiquei perplexa.

Sabrinah Giampá – Conte às leitoras do Cachos e Fatos o que ocorreu.

Brunielly Keith – Na quinta-feira passada (18) eu não fui a aula. No horário do intervalo, uma amiga estava sentada na sala e um grupo de quatro pessoas começou a falar do meu cabelo. Dizendo para ela me dar uns toques e ‘tals’.

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Na quinta-feira passada (18) eu não fui a aula. No horário do intervalo, uma amiga estava sentada na sala e um grupo de quatro pessoas começou a falar do meu cabelo. Dizendo para ela me dar uns toques e ‘tals’. Falando pra cortar, passar creme, e que eu estava levando A SÉRIO DEMAIS essa coisa de ter cabelo natural. Na sexta-feira ela me contou a história na parte da manhã, mas fiquei em choque, e na hora eu não acreditei

Sabrinah Giampá – E que tipo de ‘toques’ eram esses?

Brunielly Keith – Falando pra cortar, passar creme, e que eu estava levando A SÉRIO DEMAIS essa coisa de ter cabelo natural. Na sexta-feira ela me contou a história na parte da manhã, mas fiquei em choque, e na hora eu não acreditei

Sabrinah Giampá – Após o momento de incredulidade, como surgiu a ideia de responder com uma poesia?

Brunielly Keith –  No primeiro momento, eu não acreditei que aquilo era real, mas depois que caí em si, comecei a pensar em formas para responder. Daí me lembrei que eu havia ouvido o poema do Thiago Yuri minutos antes da minha amiga me contar o acontecido, isso na sexta. Então eu tive o fim de semana para pensar e resolvi responder da melhor forma, com uma poesia.

12118812_925639734196201_1517513279575861491_nPara Brunielly, a melhor forma de desconstruir o racismo dos colegas era responder com poesia:

“O meu cabelo não é ruim/ Ruim é ter que discutir cotas com quem ainda não aceitou a lei áurea e vai pra faculdade tremendo de medo de os mulatos invadirem a área/ O meu cabelo não é ruim/ Ruim são os seus conceitos, sujeito sem jeito, que traz o preconceito no peito a quem eu tenho sempre que explicar que o meu cabelo não é ruim”.

Sabrinah Giampá  – E esta resposta foi dada na sua sala de aula, diretamente pras pessoas que te hostilizaram?

Brunielly Keith – A resposta foi dada na sala que eu estudo. Onde todas as pessoas que cometeram o ato estavam ali dentro. Mas o meu objetivo era que a resposta não fosse dada somente ao grupo. Meu intuito era que todas as pessoas ouvissem a mensagem. E que se ali dentro tivesse mais alguém com o mesmo pensamento deles, serviria de lição, por isso o vídeo.

Assista abaixo o vídeo onde Brunielly responde à injúria racial dos colegas de classe com poesia:

Sabrinah Giampá – Como foi a reação dessas pessoas após sua leitura?

Brunielly Keith- Eu não consegui ver no momento. Não fiquei olhando diretamente para eles. Aparentemente não houve nenhuma reação, pelo menos não houve reação hostil. Não estavam esperando por isso.

Sabrinah Giampá – Mas depois o vídeo viralizou rapidamente. Por que você acha que isso ocorreu?

Brunielly Keith –Acho que as pessoas se identificaram de alguma forma, sabe? Boa parte das mensagens que recebi foram de meninas dizendo que se sentiram representada naquele momento. Porque muitas vezes passamos por isso e não reagimos.

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Acho que as pessoas se identificaram de alguma forma, sabe? Boa parte das mensagens que recebi foram de meninas dizendo que se sentiram representada naquele momento. Porque muitas vezes passamos por isso e não reagimos.

Sabrinah Giampá –Há quanto tempo você usa seu cabelo natural?

Brunielly Keith – Em junho fará 2 anos

Sabrinah Giampá- Você era adepta de algum tipo de alisamento? O que te levou a assumir os cachos?

Brunielly Keith – Eu usava todos os tipos de alisamento, se você dissesse na época: – Olha Brunielly, isso aqui alisa – então eu ia lá e passava! O que  me fez assumir foi a necessidade de conhecer a minha identidade.

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Eu usava todos os tipos de alisamento, se você dissesse na época: – Olha Brunielly, isso aqui alisa – então eu ia lá e passava!

Sabrinah Giampá – O feminismo negro teve papel fundamental nessa descoberta?

Brunielly Keith-  Eu conheci o feminismo negro depois que comecei a deixar o cabelo natural.A busca em me encontrar foi algo que abriu minha cabeça, inclusive para entender sobre o feminismo.

Sabrinah Giampá -E hoje como é sua relação com seu cabelo e consigo mesma? Pode dizer que é uma mulher empoderada? Que mudanças assumir o cabelo natural trouxe em sua vida?

Brunielly Keith – Minha relação hoje com o meu cabelo é de puro amor! De orgulho da minha cor e de ser quem eu sou, sem precisar da opinião de ninguém. Sim, eu sou uma mulher empoderada. E hoje, meu objetivo é ajudar todas a se empoderarem também. Assumir meu cabelo natural não foi uma mudança estética , foi de dentro pra fora.

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Assumir meu cabelo natural não foi uma mudança estética , foi de dentro pra fora. Uma das maiores mudanças foi saber e entender que eu precisava fazer algo de alguma forma. Que o mundo precisa quebrar muitos estereótipos e eu, sem dúvida quero ajudar nessa desconstrução de padrão. Se hoje podemos sair pelas ruas, estudar, votar e ser donas das nossas próprias vidas. É porque alguém lutou por isso.

Sabrinah Giampá – E você criou seu canal no youtube então com esse objetivo, certo?

Brunielly Keith – Foi a forma que encontrei de ajudar outras mulheres e dar continuidade a este processo de empoderamento. Não sou a única no mundo, né?

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