Ainda lembro dos sonhos que eu tinha sobre carreira quando saí do interior e me aventurei pela capital paulista há 14 anos atrás. Eu pensava que quando chegasse aos 30 estaria numa posição consolidada e com um salário suficiente para fazer planos futuros. Também achava que teria alguns bens materiais e alguma sensação de segurança.Doce ilusão. Hoje, aos 32, percebo que não há muitas perspectivas. E olha que não sou uma pessoa pessimista. A análise que faço não é apenas da minha própria realidade, mas de depoimentos que colhi de amigos e conhecidos. E não só na minha profissão, a de jornalista, mas em várias. Tenho uma amiga que fez mestrado e doutorado em Pedagogia, na Universidade do Porto, em Portugal. Já retornou há mais de um mês e de todos os currículos que enviou, não recebeu sequer um telefonema para entrevista. Outra está terminando o doutorado e apesar de enviar currículos diariamente para os sites de emprego que se cadastrou, não recebeu sequer uma proposta. (Ela está empregada mas quer mudar de trabalho). O que eu percebo ( escrevi isso no meu artigo de conclusão da pós-graduação) é que há um nicho elitizado que detém as melhores vagas, ou seja, aquelas que NUNCA aparecem em lugar algum. Muito raro ver uma, e quando isto ocorre é para constar no processo burocrático que pede (às vezes) um processo seletivo, que na verdade é um processo fantasma. Só pra constar.
A figura marcada já está lá. E os participantes gastam tempo e dinheiro para serem feitos de bobos. E ainda são obrigados a passar por situações constrangedoras criadas pelas temíveis dinâmicas de grupo, afinal, como imitar um sapo provará suas competências em detrimento dos outros participantes? Por essas e outras, vejo que pertenço, sem sombra de dúvidas, à classe de marginalizados. Não estou na panela que pipoca entre as melhores vagas. É cruel, é frustrante, mas é real. Só não enxerga quem não quer, ou quem pertence a nata dos melhores empregos. Para nós, da classe dos marginalizados, as vagas que aparecem são de gritar e sair correndo. São trabalhos com mil funções e com remuneração de estagiário. Muitos de nós, tentamos não se prostituir profissionalmente, e para isto, somos obrigados a ficar muitos anos num emprego que não nos satisfaz, mas que pelo menos nos mantenha dentro do piso salarial mínimo. Os que se prostituem acabam corrompendo ainda mais a nossa classe. Esses dias, minha irmã mais nova veio me falar sobre uma amiga que está cursando jornalismo. Me deu pena. Ou melhor, fiquei pensando se ela teria sorte de estar do lado de lá. Talvez se conhecesse as pessoas certas na faculdade, ou no primeiro estágio. Enfim… aquela velha história do estar no lugar certo, na hora certa e com a pessoa certa, que meu pai sempre me falava. Mas no meu caso parece que estou sempre no lugar errado, na ora errada e com a pessoa errada. Eu e uma legião de pessoas.