Antes da grande revelação do #projetosecretodoscachos, resolvi fazer uma série de entrevistas com as youtubers convidadas, para que as leitoras do blog possam conhecer um pouco da trajetória de cada uma e sua relação com seu cabelo natural. Para dar um start nesta série, a primeira youtuber entrevistada é Amy Laize, de 29 anos, do Hj eu resolvi mudar.

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Ondulada de cabelo 2A, nunca sofreu grande preconceito por assumir sua textura natural (pois sabemos que este está atrelado ao racismo), em compensação, por ser adepta de cores fantasias, que traduzem sua personalidade moderna e criativa, já perdeu as contas de quantas vezes ouviu piadinhas na rua e teve que ignorar as críticas familiares. Por trabalhar com comunicação, não teve problemas no mercado de trabalho. Mas ainda lamenta que a sociedade interprete seu estilo de vanguarda como o perfil de uma pessoa irresponsável e ‘barra pesada’. Com o canal, ela ajuda outras mulheres a se libertarem dos padrões de beleza impostos. Ela foi uma das escolhidas para o projeto por contribuir diretamente com o empoderamento feminino e representar o time das onduladas. E sim, nós podemos decidir mudar, e por que não hoje?

Sabrinah Giampá- Você sempre usou seu cabelo ondulado, ou como a maioria das onduladas sempre acreditou que tinha um liso estranho? Me fale sobre sua relação com seu cabelo natural da infância, adolescência até os tempos atuais.

Amy Laize- Quando eu era criança eu não pensava muito sobre o formato do meu cabelo, mas sempre o achei estranho e difícil de lidar. Mantinha ele sempre preso, trançado, com coque. Minha mãe sempre penteava ele e o volume era demais, e eu detestava. Quando estava na adolescência, vivia fazendo escova no cabelo, até que conheci uma menina cacheada que me apresentou os cremes de pentear. Comecei a usar alguns cremes e fui descobrindo meu cabelo, que era bem onduladinho. Eu até que gostava, mas ainda não estava de acordo com os padrões de beleza, então em todas as ocasiões especiais, eu fazia escova.

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A primeira vez que pintei meu cabelo de cor fantasia eu tinha 23 anos, eu estava em um emprego estável e já tinha uma boa reputação profissional. Foi uma decisão meio arriscada, pois, infelizmente, cabelos coloridos são associados à pessoas irresponsáveis, intransigentes, ‘barra-pesada’

Sabrinah Giampá- Já passou por algum tipo de alisamento para ‘conter’ o ondulado natural?

Amy Laize- Quando eu comecei a trabalhar eu ainda não sabia muito sobre meus cabelos. Por exemplo, eu não sabia que não deveria penteá-los – pois isso desmancha todo seu formato – e começou a ficar muito difícil de lidar com a rotina trabalho x faculdade x cuidados capilares. Por consequência, fiz o que a maioria das cacheadas faz, alisamento. No começo fiz relaxamento, na onda dos lisos também fiz progressivas durante anos. Depois de certo tempo decidi deixar as químicas alisantes, que eram extremamente agressivas para meu couro cabeludo, porém, fui contratada para trabalhar em um lugar onde uma das exigências era que eu estivesse com o cabelo ‘impecáve’l (sinônimo de liso), daí voltei a ser escrava das escovas e progressivas.

Sabrinah Giampá – Imagino que a paixão pelas cores fantasias veio então após a fase dos alisamentos, sendo que o corte químico, nessa combinação, é eminente.

Amy Laize -Quando já era adulta e estava em um emprego mais estável na área de comunicação, comecei a pintar o cabelo de colorido e percebi que eu teria que escolher entre alisar e ser colorida. Meu marido sempre me incentivou muito a deixar as químicas alisantes e, depois de um tempo, eu decidi que não faria mais progressivas pra ver como meu cabelo ficaria. No final das contas eu gostei do resultado e comecei a me interessar demais por cabelos. Percebi que pessoas com cabelos ondulados ou cacheados também poderiam ousar em cores e texturas, e isso mudou a minha vida e minha relação com minhas madeixas.

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Além do típico descaso por ser mulher, eu sofria olhares de reprovação e muitas vezes não era levada a sério, fui obrigada a ser mais fechada e séria para conseguir impor respeito e ser ouvida.

Sabrinah Giampá – Ao aderir às cores fantasias, você sentiu algum tipo de rejeição ou preconceito social?

Amy Laize- A primeira vez que pintei meu cabelo de cor fantasia eu tinha 23 anos, eu estava em um emprego estável e já tinha uma boa reputação profissional. Foi uma decisão meio arriscada, pois, infelizmente, cabelos coloridos são associados à pessoas irresponsáveis, intransigentes, ‘barra-pesada’, mas mesmo assim eu fiz porque era algo que eu SEMPRE quis fazer. Eu trabalhava como diretora de arte em uma agência de comunicação e lá não tive muitos problemas, porém fora da empresa as coisas eram totalmente diferentes. Além do típico descaso por ser mulher, eu sofria olhares de reprovação e muitas vezes não era levada a sério, fui obrigada a ser mais fechada e séria para conseguir impor respeito e ser ouvida.

Sabrinah Giampá- E como foram as reações no ambiente familiar?

Amy Laize- Até mesmo em família não foi muito fácil, achavam que eu queria chamar a atenção e que isso me prejudicaria demais, além do que meus familiares também não gostavam muito desta estética ‘diferentona’, e até hoje dizem pra eu voltar a ter cores ‘normais’ nos cabelos. Na rua ouvia muitas piadinhas, mas eu sempre as ignorei e hoje nem ouço mais.

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Eu tentei desistir dos cabelos coloridos pelo menos 2 vezes nos últimos 6 anos, mas todas as vezes me arrependi. Meus cabelos coloridos fazem com que eu me sinta bonita, poderosa e diferente, fico mais à vontade com minha imagem e tenho a possibilidade de mudar a cor com muita facilidade, sempre que quero.

Sabrinah Giampá – Como as reações negativas te impactaram? Você acha que as cores refletem sua personalidade?

Amy Laize- Eu tentei desistir dos cabelos coloridos pelo menos 2 vezes nos últimos 6 anos, mas todas as vezes me arrependi. Meus cabelos coloridos fazem com que eu me sinta bonita, poderosa e diferente, fico mais à vontade com minha imagem e tenho a possibilidade de mudar a cor com muita facilidade, sempre que quero. Hoje meu cabelo é super importante para mim, ele reflete minha personalidade livre e criativa, eu cuido dele, gosto de aprender sobre suas estruturas e busco sempre os melhores produtos para mantê-los lindos e saudáveis.

Sabrinah Giampá- Como lida com as pessoas preconceituosas?

Amy Laize- Eu decidi não ligar para pessoas preconceituosas, e não ceder a pressões para mudar meu visual. O mercado de trabalho e a sociedade são sim extremamente conservadores, preconceituosos e machistas, mas se cedermos de alguma forma, nada mudará! Eu tenho fé e luto para que a diversidade vença todo tipo de discriminação, a individualidade de cada um deve ser respeitada. No âmbito profissional o que importa são as qualificações e habilidades, não a cor do cabelo, cor da pele, sexo, enfim… Eu procuro sempre destacar meu lado profissional com força e seriedade, para que meu visual – que me representa completamente – não ofusque minhas qualidades.

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Eu tenho fé e luto para que a diversidade vença todo tipo de discriminação, a individualidade de cada um deve ser respeitada. No âmbito profissional o que importa são as qualificações e habilidades, não a cor do cabelo, cor da pele, sexo, enfim…

Sabrinah Giampá- Como surgiu o blog e qual a proposta inicial? Você acredita na democratização da beleza, das mulheres se amarem com o cabelo que nasceu com elas, sem criar uma dependência de alisantes e escovas? Que mensagem você gostaria de transmitir com blog e canal do youtube?

Amy Laize- O Canal e o Blog surgiram da escassez de informações sobre cabelos ondulados-cacheados-crespos coloridos, pois todas informações que eu encontrava a respeito eram de pessoas com cabelos lisos. Inclusive eu demorei tanto pra colorir meus cabelos com cor fantasia justamente porque eu achava que cabelos enrolados e coloridos não eram possíveis nem bonitos. Nicki Minaj foi quem me fez mudar de ideia em 2010 e 2011! Eu criei o canal para compartilhar minhas descobertas, ensinar a fazer, cuidar e indicar produtos para cabelos coloridos e cacheados. Eu quis mostrar que é possível mudar, ser bonita e feliz com um visual totalmente diferente, por isso o nome do Canal e do Blog é Hoje Eu Resolvi Mudar (@hjeuresolvimudar), porque eu queria uma mudança em vários aspectos, tanto na aceitação da textura do cabelo natural quanto na liberdade de se ter a cor de cabelo que se quer! A mensagem que eu procuro transmitir é que tudo é possível, basta querer! Amor próprio é algo essencial na vida e não importa o que os outros dizem, a sua vida pertence a você e a mais ninguém, por isso suas decisões tem que fazer bem pra você, te valorizar, te deixar confiante, mesmo que para isso você deixe de seguir padrões que a sociedade aceita facilmente. Eu acredito SIM na democratização da beleza, e se uma pessoa quer ter cabelo liso, cacheado, loiro, preto, verde, ondulado, natural ou quimicamente tratado, que seja por sua felicidade e não por uma necessidade criada pela indústria da beleza e imposta pela sociedade, muito menos para fazer parte de modinhas ou padrões. É nisso que acredito e confio!

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