Suzane chegou na Garagem dos Cachos com o cabelo em transição de quatro meses, onde ela havia passado por uma série de relaxamentos, e também progressivas. Ela veio de Diadema, e estava com uma certa dificuldade no caminhar, usando muletas, e acompanhada da irmã e do cunhado.
Fiquei surpresa de ver a determinação dela, que mesmo debilitada, esteve disposta a enfrentar conduções e uma caminhadinha a pé para fazer uma mudança em seus cabelos. Mas fiquei ainda mais surpresa quando descobri o real motivo dela estar com aquelas muletas. Quem me narrou o episódio foi a irmã, sendo que Suzane não aguentava mais repeti-lo, e de certa forma, revivê-lo.
Ela passou por uma tentativa de homicídio, que a deixou com 10 costelas quebradas, e uma série de complicações que não a deixaram sair da cama por alguns meses.

 

Muletas não impediram Suzane de sair de Diadema e ir até São Paulo para cortar seus cabelos na Garagem dos Cachos

Tudo aconteceu durante um encontro casual entre ‘amigos’, num apartamento, onde também estava o cara que ela estava ‘ficando’ pela terceira vez. O dito cujo fez um comentário machista para uma das meninas que estava na tal reuniãozinha, e Suzane, indignada, se interpôs, dizendo que ele havia sido grosseiro. E adivinhem vocês como essa criatura reagiu com o comentário? Acho bem difícil que alguém consiga imaginar. Eu mesma não consegui ir tão além. Ele simplesmente a jogou pela janela do 4º andar. E hoje, o fato de Suzane estar viva, pode ser considerado um milagre. Quanto ao monstro, que fez esta barbaridade com ela, está foragido. E o que me deixou mais perplexa foi constatar que nenhum dos presentes no tal encontro denunciou o criminoso. Foi preciso que Suzane saísse do coma para que a denúncia fosse feita, o que deu tempo suficiente para a fuga.

Conhecer a história por trás do cabelo prestes a passar pelo bc, ou melhor, parte do ser humano que está ali, já é de fato emocionante pra mim, que já me considero honrada, por fazer parte de um momento tão marcante da vida de uma pessoa. Agora, me deparar com uma história como essa, que chegou a ser manchete policial de vários veículos de imprensa, me deixou totalmente sem palavras. Como jornalista, estou mais acostumada a lidar com números e estatísticas, mas desta vez eu estava com uma personagem real, ou seja, a mulher que estava por trás de um daqueles números. Eu estava com Suzane, de apenas 23 anos, vítima de violência contra a mulher, vítima de homicídio.

 

Lidar com as duas texturas estava inviável, ainda mais para ela que ficou meses hospitalizada

Suzane também me contou sobre a história do seu cabelo. Desde seus 12 anos foi estimulada pela mãe a alisar os fios: “Ela sempre alisou o dela, e sempre foi um grande motivo de orgulho para mim, chegar com o cabelo lisinho na escola, e receber elogios, o que antes não acontecia de modo algum. Eu acreditava que alisar os fios era o normal a se fazer para qualquer garota que tinha um cabelo como o meu: cacheado, meio crespo e rebelde, então nunca questionei”.

Durante sete anos ela só usou relaxamento, mas depois disso saiu experimentando vários tipos de progressivas para “ver no que dava”. Porém, depois de ter passado pela tentativa de assassinato, ela ficou sem condições físicas e mentais para alisar seu cabelo, e durante todo o tempo que ficou em recuperação, usou o cabelo ao natural, mesmo com as texturas diferentes.

 

“Pra mim era difícil, pois além de muito machucada, humilhada, eu não me via atraente, não me reconhecia no espelho com meu cabelo sem escova, e era sempre horrível tentar arrumá-lo, eu diria até mesmo traumatizante, pois eu não o conseguia fazer sozinha e não tinha ideia de como cuidar”.
Assim como a maioria das crespas, ela foi educada para acreditar que o cabelo crespo era uma anomalia genética,
e por isso, precisava ser domado a todo custo.

Com o tempo, ela foi descobrindo os grupos no facebook em prol do cabelo natural, e chegou até o Cachos e Fatos, onde finalmente se deu conta que o cabelo crespo natural era lindo sim. Foi o que deu forças pra ela vir de muletas até à Garagem dos Cachos, e se decidir a encarar o big chop

“Optei pelo Big Chop somente após encontrar seu blog em um dos grupos que participo. Passei muito tempo admirando o resultado das transformações e me imaginando no lugar das meninas.Eu estava com o cabelo bem grande pros meus padrões, mas a química restante não o deixava como eu queria, então resolvi encarar a transformação de uma vez pra ver no que dava”. 

E deu no que deu (rss). Uma nova, ou melhor, a verdadeira Suzane, ressurgindo como uma fênix, deixando um passado difícil para trás, como uma página virada, e recomeçando do zero. Suzane, literalmente, renasceu.

Acompanhar as transformações pelo blog, deu forças pra Suzane encarar seu BC, e eliminar de vez as partes lisas
A Suzane pra mim é a tartaruguinha guerreira de uma música infantil que eu escutava e cantava quando criança:

 

 

É preciso assistir o vídeo pra entender o quanto esta musiquinha inocente é tão parecida com a história dela. E como todo conto para crianças, o final foi feliz mesmo quando tudo parecia perdido. “Pai do céu juntou os caquinhos e colou. Mais bonita ela ficou”. Não tenho dúvidas.
Suzane que sempre se meteu em questões políticas e nutriu admiração por garotas que assumem sua negritude sem medo dos padrões vigentes, logo, resolveu assumir sua identidade: “Me mudar e me assumir, para assim ter mais autoestima para retornar minha vida depois do acidente”.
Suzane estudava História na USP e teve que trancar a universidade para cuidar da saúde, mas aos poucos vem retomando a sua vida, inclusive as aulas. O cabelo novo também a ajudou nesta retomada.

 

Após o big chop, Suzane ainda demorou uma semana para se acostumar com o novo visual

Tempos após o corte, entrei em contato com ela para pedir autorização para publicar este post. Não apenas as fotos, mas sua história de determinação e coragem. Com a docilidade de sempre, ela não só me autorizou, quanto me deu seu testemunho sobre o novo cabelo: ” Acho que nunca estive tão satisfeita! De verdade! Eu tinha uma ‘nega’ linda escondida aqui dentro, e todo dia eu me surpreendo ainda mais em ver o potencial que ela tem”.

Redescobrir o cabelo de origem lhe ajudou a resgatar sua autoestima: “Eu tinha uma nega linda escondida aqui dentro, e todo dia eu me surpreendo ainda mais em ver o potencial que ela tem”
O resgate da autoestima lhe deu forças, inclusive, para lidar com o preconceito vigente: “Hoje eu me sinto mais forte até pra rebater comentários preconceituosos quanto ao visual novo, isso dá um up maravilhoso na vida”.

 

“O corte me deu um ar moderno e de atitude que sempre achei que me faltou”

Mas o resgate da autoestima não veio de imediato, e no começo não foi tão fácil pra ela se reconhecer no espelho com o novo visual: ” Pra ser sincera, eu não me reconheci nos primeiros dias. Cheguei a chorar pensando que havia feito bobagem, mas depois de uma semana, eu já era só amores! O corte me deu um ar moderno e de atitude que sempre achei que me faltou. Também me deu mais confiança pra sair por aí sem pensar se minha raiz está ou não grande demais, se meu cabelo está artificial ou não. Fora a liberdade de poder tomar chuva, não ser escrava da rotina, e poder sair sem passar um tempo enorme brigando com a chapinha. Acho que combinou mais com meu rosto e comigo mesma. E apesar de ainda ouvir da família que foi um erro, que eu ficava melhor alisada, e todo esse tipo de coisa, hoje estou confiante para rebater isso e não pretendo voltar a alisar”.

Gostou do corte? Quer cortar também? Minha garagem fica em São Paulo, capital, pertinho do metrô São Judas. Para mais informações, me adicione no Facebook Sabrinah Giampá, e me chame inbox. Se preferir, escreva para cachosefatosoficial@gmail.com. Também vendo os produtos da Deva Curls, que são liberados para as rotinas Low Poo e No Poo.

* Tive autorização da minha cliente para divulgar essas fotos

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