“Oi Sabrinah! Primeiramente, parabéns pelo seu blog e pelo seu trabalho incrível. Meu nome é Beatriz Ventura, sou do Rio de Janeiro, tenho 20 anos e faz sete meses que meu cabelo está 100% natural.

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Beatriz Ventura com seus cachos 100% naturais

Tem uma coisa que ouço desde que me lembro: ‘Nossa, quanto cabelo! ’. Mas ninguém dizia isso como um elogio, sempre tinha aquela entonação negativa. Por isso minha mãe o prendia, fazia tranças, enrolava com bobs e tudo que estivesse ao seu alcance para que ele ficasse ‘controlado’.

formatura alfabetização

Antes das químicas, que começaram aos 6 anos, Beatriz ainda exibia seus cachinhos naturais. (Em destaque, em primeiro plano)

Fiz minha primeira química com uns seis anos de idade, então eu mal me lembrava do meu cabelo natural quando decidi entrar em transição. Durante a infância, eu fazia relaxamentos que apenas diminuíam o volume. Conforme fui crescendo, as químicas foram ficando cada vez mais fortes, até que com 15 anos, resolvi alisar de vez e passei a usar formol.

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Antes de aderir o formol, Beatriz passou muitos anos fazendo relaxamento. Este era o seu penteado do dia a dia, na adolescência.

Me diziam que eu era feia e que tinha cara de suja por ter os cabelos crespos. Ouvi isso toda a infância e adolescência. Hoje em dia, eu saberia como responder esse tipo de abordagem, mas para uma criança ou adolescente isso é algo muito duro de se ouvir. Por isso, quando alisei os fios, achei incrível. Pela primeira vez na minha vida eu usava meu cabelo solto e a minha autoestima melhorou bastante.

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Após sofrer muito preconceito por conta do cabelo cacheado e com relaxamento, Beatriz se entregou ao alisamento com formol, e sentiu sua autoestima se restaurar, por ter se protegido, em parte, dos comentários preconceituosos.

Continuei com progressivas até os 18 anos. Alternei técnicas, deixei o formol, mas continuava alisando, diminuindo cada vez mais os espaços entre as químicas. Antes da transição, eu ia no salão mês sim, mês não e, em pouquíssimo tempo, meu cabelo estava completamente detonado, os fios ralos e porosos. Então, eu novamente fiquei insatisfeita com a minha aparência. Foi quando pensei na possibilidade de parar de alisar, mas ainda fiquei um ano ponderando antes de tomar esta decisão.

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Pouco antes de entrar em transição: cabelo ralo e poroso.

Em agosto de 2013 fiz minha última química, mas ainda não tinha decidido voltar ao natural. Afinal, eu pensava que meu cabelo era ‘ruim’. Meu plano inicial era fazer escova/prancha por um tempo, e quando estivesse saudável, faria um relaxamento para diminuir o volume, mas preservando os cachos.

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Durante a transição, Beatriz ainda continuou escrava da chapinha e rabos de cavalo.

Durante os primeiros meses de transição, eu comecei a pesquisar sobre cuidados com cabelos cacheados e conheci todo esse movimento na internet. Foi quando, finalmente, descobri que meu cabelo não é feio, mas que essa é uma imposição social totalmente preconceituosa. Antes mesmo do ano acabar, eu já tinha decidido que meu cabelo voltaria ao natural, seja lá como ele fosse.

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Final da transição, pouco antes do big chop

Passei um ano e quatro meses em transição. O período mais difícil foi quando completei um ano. A chapinha já não dava jeito porque ele estava muito grande, mas eu não tinha coragem ainda de cortar por causa do comprimento.

Para piorar, tinha acabado de terminar um relacionamento, estava insatisfeita com o meu corpo e não conseguia um estágio satisfatório na minha área. Tudo se acumulou e passei uma semana chorando, testando texturizações que nunca pegavam e pensando se cortaria ou não. Resolvi ficar no rabo de cavalo durante os quatro meses restantes, mas completamente insatisfeita com minha aparência. O que me animava eram os exemplos que eu via em grupos de cacheadas e em blogs, como o Cachos e Fatos.

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Beatriz após o bc

Eu também pegava meu álbum de formatura da alfabetização, umas das poucas fotos com meu cabelo solto e natural que eu tinha. Naquele dia, minha mãe havia me levado para fazer uma hidratação para diminuir o volume, não era química. Então, mesmo com o volume reduzido, brilho e definição, meu cabelo continuou volumoso, o que fez com que eu acreditasse que o procedimento havia ‘dado errado’.

Quando criança, eu odiava aquele álbum. Sempre que minha mãe mostrava para amigos ou família, eu morria de vergonha, e briguei por um bom tempo com ela por não ter feito um penteado. Hoje em dia eu acho lindo, sinto um orgulho danado de ter estado cacheada em uma data tão especial.

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Beatriz com seus cachos naturais de volta

Fiz meu BC no dia 20 de dezembro de 2014, e me senti uma pessoa completamente diferente. Além de mais bonita, com meus cachos eu me sinto mais confiante. A mudança durante o período de transição não foi só física, mas também psicológica. Eu passei a apreciar não só todo tipo de cabelo, mas também todo tipo de corpo, de rosto, de aparência, afinal, afirmar que meu cabelo é ruim, é a mesma coisa que falar que só existe um tipo de cabelo bonito, pele, e assim por diante.

Demorou 20 anos, mas hoje em dia sou totalmente desligada de padrões e me considero muito mais politizada graças à essa mudança. Felizmente, não ouvi comentários negativos desde que assumi a textura natural dos meus fios, mas estou sempre com a resposta na ponta da língua. Quando cortei meu cabelo, eu decidi que nunca mais atribuiria à minha aparência qualquer adjetivo negativo, e isso fez toda a diferença na minha vida.

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Beatriz participou da Promoção Meu cabelo, minha história, que teve início no dia 19/07 e encerrou no dia 22/08. Leia aqui a história vencedora. Embora a promoção tenha acabado, a seção Meu Cabelo, minha história continua. Quer ver sua história publicada aqui? Envie para cachosefatosoficial@gmail.com com quatro ou mais fotos anexadas. Quer ler outras histórias de superação? Clique aqui!

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