“Olá, Sabrinah! Eu me chamo Lygia Loiola. Tenho 31 anos e sou paraibana. Há alguns meses, descobri seu blog buscando no google, já que eu queria encontrar dicas para cabelos cacheados, pessoas que amassem seu tipo de cabelo, etc.
Para minha surpresa e alegria, encontrei seu blog e me identifiquei imediatamente, pois pude ler histórias de várias mulheres, que assim como eu, aprenderam a amar e valorizar seu cabelo como é, e deste modo, a fazer as pazes com sua beleza real.
Aceitar o cabelo como é e amá-lo faz com que nos abracemos por inteiro como somos, como nascemos e com nossa naturalidade. Eu compreendi isso à duras penas há quatro anos atrás!
Eu cresci ouvindo em casa que meu cabelo ‘ dava trabalho para pentear’, que era ‘alto’, e que eu precisava domá-lo e prendê-lo. Cresci sem aceitar meu cabelo e, consequentemente, sem aceitar a mim mesma! Para mim, as garotas bonitas eram as que possuíam cabelo liso. Simples assim.
Na adolescência, a coisa ficou ainda pior! Estudei em um colégio em que a maioria tinha aquele perfil ‘perfeito’ que a sociedade impõe: Cabelo liso, pele branca, etc. Sofri muito preconceito por fazer parte da minoria, por ser diferente.
Me lembro que meu cabelo vivia cheio de creme para ‘baixar o volume’, o que dava a ele um aspecto repugnante. Posteriormente, resolvi cortar e deixá-lo curtinho, e um dia, quando ia para a escola durante a tarde, um homem, que fumava na rua, pegou o resto do cigarro e apagou em minha cabeça. Eu nunca senti tanto medo ou tanta humilhação.
Eu queria sumir dali, e realmente, sai o mais apressada que pude. A minha amiga, que me acompanhava, achou um absurdo, mas de certo modo, não se incomodou muito.
Desde então, decidi não ser mais humilhada por ninguém: ‘Vou mudar meu cabelo’, pensei. Só que deixar de ser humilhada é mudança de atitude, e não tem nada a ver com cabelo, com aparência de modo geral. Eu posso ter as melhores roupas, ou um cabelo fantástico, mas se eu não me amar e fizer os outros me valorizarem, nada irá mudar. Esta percepção é atual, mas na época, mudar o cabelo para mim poderia ser solução.
Minhas duas amigas mais próximas do colégio disseram-me: Faz um relaxamento, vai ficar linda! Como se a beleza estivesse associada ao tipo de cabelo. Elas tinham cabelos lisos lindos.
Eu comecei a alisar com 15 anos e não parei. A questão é que o cabelo ficava sem forma, esticado nas pontas, alto na parte que ia crescendo, e ia ficando, deste modo, cada vez pior. Eu continuei me sentindo péssima. Mas de uma vez, outras coleguinhas falaram algo do tipo: Eu sei que devemos nos aceitar como somos, mas porque você não alisa seu cabelo de vez?
As pessoas que me rodeavam estavam próximas, mas com o coração bem distante, porque na verdade, para estar perto delas, precisava ser como elas. Precisava me ‘encaixar’. Uma das que eu considerava como melhor amiga, em uma tarde em sua casa, enquanto escovava os longos fios lisos, olhou-me e disse: Como é maravilhoso ter cabelos lisos!
Eu talvez nunca me esqueça disso, mas hoje tenho uma maneira diferente de enxergar as coisas. As pessoas nos anos 90 tinham uma mente mais fechada, eram mais escravas de padrões. Hoje, eu acredito, sinceramente, que temos mais abertura. Já tivemos uma negra linda, com cabelos lindíssimos, sendo protagonista de uma novela. Vemos poucos, mais ainda têm comerciais que envolvem mulheres de cabelos cacheados.
Porém, passei a adolescência, e alguns anos de minha vida adulta, refém de relaxamentos. Felizmente, nunca fiz progressiva! Mesmo assim, meu cabelo era terrível, e eu só o achava bonito quando pranchava. O que passou a ser frequente. Quando eu os lavava e deixava-os sem pranchar, sentia uma liberdade indescritível, como se aquela fosse eu.
O tempo foi passando , me casei, e meu esposo sempre me falava do quanto achava meu cabelo natural bonito. Ele vira várias fotos minhas quando criança. Acredito que ele foi um dos meus maiores incentivadores, assim como minha irmã. Mas a libertação só veio quando eu estava grávida de meu segundo filho, e decidi não relaxar mais por causa da química forte.
Cheguei a ir a um salão, fiz um teste de mecha, e a cabeleireira me disse que meu cabelo era lindo cacheado, mas se eu quisesse, faria um processo de alisamento no meu cabelo sem formol. Eu pensei e ponderei muito.
Decidi deixar meu cabelo ao natural e reuni toda coragem que tinha. Pois eu tive que ir cortando em casa mesmo,( meu esposo fez isso) e ele ficou curto. Assim, eu fui retirando as partes de relaxamentos anteriores. Não vou mentir que meu cabelo ficou bonito, que me senti bem. Na transição não porque o cabelo tinha duas texturas.
Mas hoje, quatro anos depois, quando olho para meus cabelos, eu me sinto realmente eu! Eu amo os meus cabelo s tenho ajudado outras pessoas a se aceitarem, a e se acharem bonitas com seus cabelos naturais. Tenho certeza que me amar como sou faz com que as pessoas me respeitem e me admirem. Sempre acontece de alguém me parar para dizer: Que cabelo lindo! Como faz para deixar os cachos tão bonitos?
Nesses últimos meses, encontrei uma amiga, que assim como eu, ama seus cachos. Na verdade, foram os cachos que nos aproximaram (risos).Trocamos dicas, e falei para ela do blog também.
Aceitar-nos como somos faz com que os outros nos aceitem e nos respeitem. Eu me amo como sou, e não preciso de um cabelo liso para isso!!! Obrigada por abrir um espaço tão maravilhoso na internet, onde muitas mulheres como eu, encontram pessoas com histórias semelhantes e incentivo para se aceitarem e se amarem.
Um abraço, Lygia Loiola.”
Ao pedir fotos para ilustrar este post, recebi mais este relato emocionante da Lygia:
“Olá Sabrinah!
Estou te enviando as fotos em anexo!
Confesso-te que foi uma viagem ao passado, pois eu vi muitas fotos minha de infância, em que sorria mais um sorriso triste. Era o sorriso da Lygia que não se sentia bonita, nem sentia que tinha um lugar no mundo por não ter um cabelo liso.
No fim, vendo umas fotos da adolescência( poucas) e da fase adulta, vi que continuava triste, nem havia conseguido me inserir no ‘grupo’ das lisas, nem estava no grupo das cacheadas. Acredito, sinceramente, que isso acontece a muitas garotas que não se sentem aceitas por não ter o cabelo padrão, se é que existe um! Elas acabam por danificar o cabelo com processos químicos que prometem manter o cabelo liso, e continuam interiormente sem se sentir elas mesmas.
Foi um longo processo até compreender- como lhe falei- que a beleza é uma questão interna. Se você se aceita como é, se ama a si mesma e se acha linda como é, a opinião das outras pessoas é irrelevante. Logo, você não precisará mudar o que é ou seu cabelo para agradar as pessoas ou se sentir aceita!
A aceitação tem que partir acima de tudo de você mesma!!
Obrigada Sabrinah pela oportunidade de compartilhar com outras mulheres a minha história que estava ‘presa’ dentro de um báu interior que eu não abria a muito tempo dentro de mim. Essa história precisava ser liberada, o baú precisava ser aberto e esvaziado! Por quê?
Porque eu precisava me desfazer das lembranças que me entristeciam, das vozes que guardei desnecessariamente, e que diziam: ‘Você precisa alisar os cabelos’, ‘você seria mais bonita com cabelos alongados, lisos’, etc.
Porque eu precisava compreender que, quando nos amamos como somos, ninguém terá poder para nos desvalorizar ou nos rotular de feia ou bonita!
Precisava também compartilhar essa história para me sentir mais leve e para encorajar outras que,assim como eu naquela época, se sentem feias por ter cachos!
Sou grata por ter os cabelos cacheados, eles fazem parte de quem sou, e eu me sinto bonita assim!
Um abraço, Lygia Loiola.”
Gostou da história da Lygia? Quer ler outras histórias de superação? Clique aqui! Quer ver a sua história publicada neste espaço? Escreva para cachosefatosoficial@gmail.com, com Meu Cabelo, minha história no assunto. Fotos são obrigatórias.
Suelen Loiola says:
Estou chocada com a história do cigarro. Que absurdo!
Julia Bob says:
Lindo relato… É exatamente assim que me sentia quando criança…
Lygia says:
Meninas! Eu imaginei quando escrevi para a Sabrinah que algumas pessoas fossem mesmo se identificar, às vezes achamos que ninguém mais passa pelos mesmos temores ou indagações que nós.; mas existem muitas que como nós sofreu algum tipo de exclusão por causa do cabelo!
Obrigada por lerem minha história!!
Se ajudar vocês, eu terei cumprido meu papel compartilhando!
Beijos!!
Lygia Loiola.