Fronha de cetim funciona como antifrizz?

Ganhei de presente de uma cliente da Garagem dos Cachos, a Bárbara Kammer, uma fronha de cetim, que é usada por várias cacheadas como uma forma de evitar o frizz no dia seguinte. Algumas, inclusive, usam toucas feitas deste mesmo tecido, o que não é e nunca será meu caso, conforme comentei neste post aqui!

Resolvi fazer o teste no meu próprio cabelo, e troquei a tradicional fronha de algodão/elastano, pela de cetim, e confesso que percebi uma certa redução de arrepiado sim.

Ganhei esta fronha de cetim, da minha cliente, a Bárbara Kammer

Antes de mais nada, gostaria de destacar que o frizz não é um defeito do cabelo cacheado, e ter um pouco faz parte do conceito do que é ser uma cacheada, crespa ou ondulada. Entretanto, quando o cabelo fica  mais frizz do que cachos, temos a sensação de que levamos um choque num cabo de alta tensão, e recorrer a estes pequenos artifícios, ajuda bastante a amenizar este efeito.

Gostaria de destacar também, que o cabelo liso também não acorda bonitinho e alinhado. Para que isso aconteça, é preciso penteá-lo e escová-lo, e nós, obviamente, não podemos nem pensar em passar pentes e escovas em nossos cachos secos.

Como fiquei bastante satisfeita com o uso da fronha de cetim, mas não tenho base científica para argumentar isso, convidei o Prof. Claudio Furukawa, do Instituto de Física da USP, para nos dar um parecer científico sobre o que ocorre com os nossos cabelos:

Sobre o Frizz

“A eletrização ocorre quando dois corpos de materiais diferentes se atritam ou se esfregam. Dependendo dos tipos de materiais, quanto mais atrito, mais se eletrizam. Para entender esse processo, vamos dar o exemplo de um átomo, que são as partículas que compõem a matéria. Todos os átomos, a princípio, são neutros, ou seja, possuem a mesma quantidade de cargas positivas (prótons), quanto de cargas negativas (elétrons). Ao esfregar um corpo com o outro, um átomo pode ceder elétrons para o outro corpo. Neste caso, o corpo que recebeu elétrons, fica eletrizado negativamente, enquanto que o corpo que cedeu estes elétrons, fica com falta deles, ou eletrizado positivamente. Por exemplo, quando esfregamos um pente de plástico nos cabelos secos, os elétrons do cabelo passam para o pente, ficando o cabelo carregado positivamente e o pente carregado negativamente”.

Cabelos X Umidade

“Outro aspecto importante na eletrização é a umidade: quanto mais úmido, menos eletrização ocorre ou menos carregado ficam os corpos. É que a umidade é capaz de descarregar os corpos eletrizados com facilidade. Em dias muito úmidos é muito difícil de eletrizar os corpos, ao contrário de dias muito secos, em que o atrito das roupas com a pele, carregam as pessoas com eletricidade estática, que levam choquinhos ao tocar em materiais condutores de eletricidade ou com o terra.”

Esta afirmação me deixou intrigada, pois nós cacheadas, sempre temos problemas com frizz em dias mais úmidos. Nesse caso, questionei novamente o Prof. Furukawa, que contra-argumentou:

“Ao contrário do que você está dizendo, em dias úmidos é muito mais difícil de eletrizar os objetos pelo atrito, pelo fato da umidade do ar ‘descarregar’ os corpos eletrizados. Em dias muito secos é que ocorrem os casos de faíscas e choquinhos quando tocamos maçanetas de metal, justamente pela falta de umidade do ar.  Desta forma, não estou entendendo este fato dos cabelos ficarem mais mais eletrizados em dias úmidos. A não ser que o fato de os cabelos ficarem frizados não estar ligado com eletrização, mas algum outro motivo. Por exemplo, o fato dos fios de cabelo absorverem a umidade do ar e ficarem mais compridos e/ou volumosos. O fio de cabelo pode ser usado montar um higrômetro, ou seja, um aparelho para medir a umidade relativa do ar, exatamente por este motivo. Desta forma, pode ser que os cabelos cacheados absorvam a umidade do ar e se expandam ficando mais frizados, mas não pelo fato de ficarem eletrizados, mas pelo fato de ficarem mais compridos e volumosos. Se fosse eletrização, os cabelos loiros e compridos também deveriam ficar mais eletrizados em dias muito úmidos, mas, pelo contrário, as loiras sofrem mais em dias mais secos com eletrização dos fios de cabelo.”

Meus cachos na fronha de cetim: menos atrito, menos frizz!

Fronha de Cetim X Cabelos

“Se atritarmos vigorosamente os cabelos, por exemplo, com uma bexiga de borracha cheia, veremos que eles ficam eletrizados com facilidade, pois após o atrito, os fios são atraídos pela bexiga e ficam bastante eriçados. É que o atrito da borracha com o cabelo é muito grande e há bastante troca de elétrons entre eles. No caso do cetim, que é feito com material sintético (poliéster), se o atrito fosse muito vigoroso com os cabelos secos, certamente eles ficariam bem eletrizados. Porém, o tecido de cetim é um material muito liso, de modo que o atrito com os fios de cabelo é muito pequeno. Com menos atrito, há menos troca de cargas entre eles e, consequentemente, haverá menos eletrização.”

Fronha de algodão X Cabelos

“No caso da fronha de algodão, o atrito é maior entre os fios de cabelo e o tecido, melhorando a troca de cargas entre eles. Além disso, o algodão absorve mais a umidade natural dos cabelos, deixando-os mais secos suscetíveis a eletrização pela falta de umidade. Ao contrário, o cetim não absorve tanto a umidade, e como vimos, a umidade ajuda a descarregar corpos eletrizados.”

E trocar a toalha de banho pela camiseta na hora de secar os fios, funciona?

“Quanto a trocar as toalhas de banho por toalhas descartáveis ou camisetas, acho que é um pouco relativo. Dependendo do tipo de substância que esses materiais são feitos, poderá haver maior ou menor eletrização, pela facilidade ou pela dificuldade de troca de elétrons entre os átomos dos materiais. Porém, cada pessoa pode sofrer efeitos diferentes nesses processos de eletrização, dependendo do tipo de pele (seca, mais úmida ou oleosa), do tipo de cabelo (loiro, preto, castanho, ruivo, liso, cacheado, fino ou grosso, etc..). Portanto, nem sempre uma ‘receita’ serve igualmente para todos. O ideal é cada pessoa tentar descobrir o que melhor funciona em cada situação.”

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