Como participo de vários grupos no facebook para cabelos crespos, cacheados e ondulados, sempre sou bombardeada (de uma forma positiva, é claro) por fotos de mulheres em transição, seja antes do processo, durante e/ou depois. Numa dessas, me deparei com a imagem de Georgia Pedro, de 30 anos, com seu black poderosíssimo. De imediato, me senti ‘obrigada’ a curtir aquela foto. O cabelo era incrível, e parecia leve e solto, assim como a Georgia, feliz da vida por estar livre. A sensação de liberdade expressa por aquela foto era impressionante. 
Por isso não resisti e procurei por ela no bate papo da mesma rede social. Acabei descobrindo que além da transição capilar, também tínhamos a profissão e uma atividade paralela em comum: ela também é jornalista e blogueira. O blog dela é o Modismos e Makes, e ainda tem um canal no youtube, onde dá dicas de como cuidar do cabelo crespo.

Em pouco tempo de conversa, descobri outra historia de superação tão interessante quanto a última que publiquei aqui, a entrevista da Juliana Ferreira. Assim como a Juliana, Georgia também tem um grupo destinado às discussões sobre cabelos crespos e em transição, o Amo meu crespo! Ambas têm suas vertentes em comum, mas sem perder a individualidade e a essência, fundamentais para uma boa entrevista. 

Entretanto, Georgia mora e trabalha em Barueri, e eu moro na zona sul de São Paulo, e trabalho próximo à Paulista,  e por isso, acabou ficando complicado nos encontrarmos pessoalmente, como aconteceu com a Sandy Santos. De qualquer forma, acho que tenho em mãos outra matéria-prima, outra historia que vai servir de incentivo para diversas mulheres que estão vivenciando o seu processo de transição, ou como prefiro chamar: de auto aceitação. Inspire-se!

Sabrinah Giampá-  Pela foto que você postou no facebook, percebe-se que você passou pelo ‘Big Chop’ recentemente.  Há quanto tempo faz isso? 

Georgia Pedro: Assumi meu cabelo natural há dois meses, quase três.

Sabrinah Giampá – Na infância, quem cuidava do seu cabelo?

Georgia Pedro: Quem sempre cuidou do meu cabelo sempre foi minha mãe, e sempre cuidou muito bem. Ela era uma expert em tranças, fazia trança embutida, de lado, trancinhas soltas…

Sabrinah Giampá – Mas você aceitava seu cabelo nesta época?

Georgia Pedro: Quando eu era criança, eu não aceitava não, mas minha família sempre aceitou numa boa. Meu pai é negro, e não teria porque não aceitar, minha mãe é branca e sempre me apoiou. Ela só alisou meu cabelo na infância porque eu não me aceitava, e não porque ela não gostava. A ideia foi minha, não dela. A medida que fui crescendo, comecei a entender como era o meu cabelo, ou melhor, como ele era visto de fato, e o preconceito relacionado às suas origens. Então, passei a repudiá-lo, e consequentemente, comecei a me achar feia. Todo dia era uma choradeira porque eu não suportava me olhar no espelho.


“A medida que fui crescendo, comecei a entender como era o meu cabelo, ou melhor, como ele era visto de fato, e o preconceito relacionado às suas origens. Então, passei a repudiá-lo, e consequentemente, comecei a me achar feia. Todo dia era uma choradeira porque eu não suportava me olhar no espelho.”

Sabrinah Giampá- Imagino que a auto rejeição tenha sido um passo para o alisamento, certo?

Georgia Pedro: Acompanhando o meu sofrimento de perto, teve um dia que minha mãe não aguentou mais e chamou uma amiga para passar aquele antigo pente quente em mim. Nem era o elétrico, era aquele que esquentava no fogão mesmo.

Sabrinah Giampá – Misericordia! Imagino o sofrimento… Mas qual foi o resultado?

Georgia Pedro – Eu imaginava que o meu cabelo iria ficar todo esvoaçante, mas não foi bem assim. Ele ficou horrível e armado, todo esticado… Fora o sofrimento de ficar com a cabeça e orelha um tanto quanto queimadas.

“Acompanhando o meu sofrimento de perto, teve um dia que minha mãe não aguentou mais e chamou uma amiga para passar aquele antigo pente quente em mim. Nem era o elétrico, era aquele que esquentava no fogão mesmo. Eu imaginava que o meu cabelo iria ficar todo esvoaçante, mas não foi bem assim. Ele ficou horrível e armado, todo esticado… Fora o sofrimento de ficar com a cabeça e orelha um tanto quanto queimadas.”

Sabrinah Giampá – Mesmo com tanto sofrimento, o ferro quente permaneceu na sua vida ou você procurou outro método?
Georgia Pedro –Depois disso, minha mãe aplicou em mim o famoso produto, Jennifer Black, acho que nem existe mais. Eu adorei, pois ‘soltou’ meu cabelo. Lembro-me vagamente de estar me sentindo toda feliz por ficar balançando meu cabelo de um lado para o outro. 
Sabrinah Giampá –Além deste produto e do ferro quente, o que mais você usou?
Georgia Pedro – Minha mãe também aplicou em mim o antigo Welin, misturado com um pouco de creme, pra não ficar muito forte. Mesmo assim, eu nunca estava satisfeita. Um belo dia, eu vi uma amiga de escola, negra, com o cabelo mega escorrido.Fiquei morrendo de inveja e pedi pra minha mãe investigar com a mãe dela o que a garota havia feito. A mãe da menina disse que era um amaciamento, nome que se dava antigamente ao relaxamento, que ainda é usado nos dias de hoje. 

“Depois disso, minha mãe aplicou em mim o Jennifer Black. Eu adorei, pois ‘soltou’ meu cabelo. Lembro-me vagamente de estar me sentindo toda feliz por ficar balançando meu cabelo de um lado para o outro. Mas, um belo dia, eu vi uma amiga de escola, negra, com o cabelo mega escorrido.Fiquei morrendo de inveja e pedi pra minha mãe investigar o que a garota havia feito. A mãe da menina disse que era um amaciamento.”

Sabrinah Giampá – E você chegou a fazer o amaciamento?

Georgia Pedro –Eu fui com minha mãe até a pessoa que aplicava e já te digo, nunca sofri tanto! O homem aplicou uma espécie de soda no meu cabelo. Ardia tudo. Chorei o tempo inteiro. Durante a aplicação, por ser forte demais, nem o próprio cabeleireiro aguentava. O tempo todo, lágrimas escorriam pelos olhos dele.O produto era imensamente forte, sofri demais. No entanto, o resultado era perfeito quando o cabelo estava seco. Parecia a progressiva de hoje em dia, mas quando o cabelo precisava ser molhado, ele virava um elástico completo. Então, minha mãe precisava pentear com todo o cuidado do mundo para não quebrar. Hoje, vejo que por sorte eu não fiquei careca.

“O homem aplicou uma espécie de soda no meu cabelo. Ardia tudo. Chorei o tempo inteiro. Nem o próprio cabeleireiro aguentava. O tempo todo, lágrimas escorriam pelos olhos dele. No entanto, o resultado era perfeito quando o cabelo estava seco. Parecia a progressiva de hoje em dia, mas quando o cabelo precisava ser molhado, virava um elástico completo. Hoje, vejo que por sorte eu não fiquei careca.”

Sabrinah Giampá – Provavelmente teve sorte, ou parou na hora certa. Se lembra da sua próxima etapa?

Georgia Pedro –Depois disso, eu não me lembro o que foi feito. Provavelmente, minha mãe deixou meu cabelo crescer novamente e foi cortando aos poucos a parte estragada. Foi a pior experiência da minha vida. Depois de um tempo, eu devia ter uns 11 anos, meu cabelo devia estar natural, não me lembro muito bem, só sei que era comprido, um pouco abaixo do ombro. Dai, num belo dia, minha mãe disse para mim e minha irmã, que seria bom que cortássemos um pouco o cabelo. Como iríamos à praia, e ela já estava um pouco cansada de cuidar das nossas madeixas e aguentar nossas reclamações, sugeriu  o corte para que ficasse mais prático.No fim, o cabeleireiro tosou meu cabelo, que ficou um black curtinho, mas eu odiei, me senti a pessoa mais feia e horrorosa do mundo.E me sentindo assim, sofri muito bullying na escola. Vários meninos me chamavam de Higuita, um tal jogador de futebol da época. Só eu sei o quanto sofri.


“Como iríamos à praia, ela sugeriu  o corte, para que ficasse mais prático. No fim, o cabeleireiro tosou meu cabelo, que ficou um black curtinho, mas eu odiei, me senti a pessoa mais feia e horrorosa do mundo. E me sentindo assim, sofri muito bullying na escola. Vários meninos me chamavam de Higuita, um tal jogador de futebol da época. Só eu sei o quanto sofri. “

Sabrinah Giampá – Pelo visto o preconceito fazia parte do seu dia a dia

Georgia Pedro – Sem dúvidas. Todo dia tinha alguém me zoando por causa do meu cabelo.Foi um grande tormento na minha vida. Justo eu, que já não me achava bonita. Ah… isso me fez lembrar um fato que não esqueço até hoje.

Sabrinah Giampá – Conte, por favor

Georgia Pedro – Quando eu estava na 4ª série, uma professora de outra sala foi verificar o cabelo dos alunos. Aquele procedimento básico, pra ver quem tinha piolho.Isso era normal naquela época. Meu cabelo estava preso, a professora então olhou pra ele muito rapidamente. Para a menina que estava na minha frente, minha colega de cabelo liso, a mesma professora disse a seguinte frase: “Nossa, como é fácil olhar um cabelo desses!”. Pode não parecer nada, mas nunca me esqueço isso.

“Quando eu estava na 4ª série, uma professora foi verificar o cabelo dos alunos, pra ver quem tinha piolho. O meu estava preso. Ela olhou pra ele rapidamente. Para a menina que estava na minha frente, de cabelo liso, ela disse: “Nossa, como é fácil olhar um cabelo desses!”. Pode não parecer nada, mas nunca me esqueço isso.”

Sabrinah Giampá – Fico abismada em constatar que existam ‘educadoras’ como esta.  Mas deste episodio traumático em diante, como foi sua trajetória capilar?

Georgia Pedro – Depois de algum tempo, meu cabelo cresceu. Como sempre, eu estava insatisfeita, me achando feia e portadora do cabelo mais feio do mundo. Sendo assim, ainda passei por vários processos químicos até chegar no permanente afro. Eu gostei do resultado, mas ainda não sabia cuidar do cabelo em casa, e quando ele armava, eu odiava.Vivia com o cabelo molhado pra evitar que ele se rebelasse. Chegava a hora do recreio e lá estava eu, molhando o cabelo na torneira do banheiro, que ridículo!

Sabrinah Giampá – Acho que não conheço sequer uma menina crespa ou cacheado que já não tenha passado por isso, ou seja, ficar molhando o cabelo numa tentativa inútil de domá-lo. Mas o pior de tudo é a reação preconceituosa das pessoas e nossa falta de maturidade para lidar com ela.

Georgia Pedro – Exatamente. Eu sempre estava sofrendo bullying. Sempre tinha alguém pra fazer algum comentário maldoso pra mim. Foi uma fase muito difícil. Um dia eu estava na calçada da minha casa com uma amiga, que inclusive é minha amiga até hoje, e falei pra ela: um dia eu vou ficar tão bonita, mas tão bonita, que todos vão olhar pra mim. Não esqueço disso.

 “Como sempre, eu estava insatisfeita, me achando feia e portadora do cabelo mais feio do mundo. Sendo assim, ainda passei por vários processos químicos até chegar no permanente afro. Eu gostei do resultado, mas ainda não sabia cuidar do cabelo em casa, quando ele armava, eu odiava.Vivia com o cabelo molhado. Chegava a hora do recreio e lá estava eu, molhando o cabelo na torneira do banheiro, que ridículo!”

Sabrinah Giampá -E pelo visto foi uma profecia que fez consigo mesmo, porque afinal, deu certo! Na verdade a beleza natural já te pertencia, você que ainda não sabia reconhecê-la e desfrutá-la. Mas imagino que da infância até o momento atual ainda teve chão, e que teve que comer muita areia…

Georgia Pedro – Foi bem por aí. Já na 8ª série, eu comecei a usar bobs no cabelo. Outra coisa que esqueci de mencionar, é que minha mãe é cabeleireira. Até hoje temos aquele secador grande de salão, acredita?

Sabrinah Giampá – Que legal! Adoro esse secador, é perfeito pra cabelo crespo e cacheado. Sei que a Deva comercializa um assim.

Georgia Pedro – Voltando aos bobs, que usei pra alisar meu cabelo, durante muito tempo, eu nunca havia feito escova, e os bobs me acompanharam, mais ou menos, até o 3º colegial, isso foi no ano 2000. Mas antes disso, em 1998, quando eu estava no 1º colegial, uma professora disse pra mim que existia um instrumento que alisava o cabelo e que se chamava prancha (chapinha). Até então, era pouco conhecida, e claro, fiz minha mãe comprar. Era aquela prancha de ferro, mas nós não sabíamos usar muito bem, e sendo assim, continuei com os bobs até o 3º colegial.

“Sempre tinha alguém pra fazer algum comentário maldoso pra mim. Um dia eu estava na calçada da minha casa com uma amiga, que inclusive é minha amiga até hoje, e falei pra ela: um dia eu vou ficar tão bonita, mas tão bonita, que todos vão olhar pra mim. Não esqueço disso.”

Sabrinah Giampá – Dos bobs, finalmente aderiu a chapinha, indicada pela tal professora?

Georgia Pedro – Esporadicamente. Quando eu estava na faculdade, lá pelo 2º ano, em 2003, surgiu o alisamento japonês. Eu fiquei indignada pelo fato de que só era possível fazer em cabelos lisos. Naquele tempo, não dava pra fazer em cabelo crespo, e eu não me conformava com isso.Depois de um tempão, surgiu a progressiva. Ela já podia ser feita em cabelos crespos, mas até então, eu resisti, porque tinha medo.

Sabrinah Giampá – Por que tinha medo?

Georgia Pedro – Porque já naquela época, falavam muito que era perigoso, por causa do formol.  Por isso, só fui aderir à progressiva bem depois da faculdade, acho que entre os anos de 2006 ou 2007. E depois da primeira, não parei mais. Mesmo assim, eu continuava insatisfeita, pois sonhava em ter um mega cabelo liso, igual ao das negras americanas, que hoje sabemos que eram perucas ou mega hair.

“Fui aderir à progressiva bem depois da faculdade. E depois da primeira, não parei mais. Mesmo assim, eu continuava insatisfeita, pois sonhava em ter um mega cabelo liso, igual ao das negras americanas, que hoje sabemos que eram perucas ou mega hair.”

Sabrinah Giampá – Chegou a colocar mega hair?

Georgia Pedro – Sim,em 2008, eu fiz meu primeiro mega hair. Amei, fiquei com um baita cabelão liso, me sentindo a Beyoncé. Acontece que o mega com queratina dura pouco tempo, e quando tirei,não quis colocar de novo.  E assim fui levando.Eu mesma fazia escova nele. Tinha dias que ficava lindo, em outros, ficava feio demais.

Sabrinah Giampá – Sendo assim, voltou pro mega hair ou escolheu outro caminho?

Georgia Pedro – Em 2011, eu ensinei minha mãe a fazer entrelaçamento, que  é uma técnica de alongamento. O cabelo é todo trançando, e depois uma tela de cabelo natural é costurada no seu próprio cabelo. Fiquei assim até pouco tempo,tirava o alongamento e colocava.


“Em 2008, eu fiz meu primeiro mega hair. Amei, fiquei com um baita cabelão liso, me sentindo a Beyoncé. Acontece que o mega com queratina dura pouco tempo, e quando tirei, não quis colocar de novo.  E assim fui levando.Eu mesma fazia escova nele. Tinha dias que ficava lindo, em outros, ficava feio demais.”




Sabrinah Giampá – Daí finalmente partiu para o Big Chop?

Georgia Pedro – Então, eu fiz o Big Chop no dia cinco de julho deste ano. Eu passei a maior parte da transição com o entrelaçamento, que é uma ótima opção pra quem esta nesta fase, pois não agride seu cabelo natural. No começo foi meio difícil, eu tinha tirado o alongamento porque queria tentar ficar um pouco sem, então, eu fazia trancinhas pra tentar enrolar meu cabelo, mas não dava muito certo porque estava muito liso, então eu resolvi continuar com o entrelaçamento.  Assim meu cabelo ia crescendo e eu não via como ele estava ficando.

Sabrinah Giampá– Mas o que te levou ao Big Chop, ficou cansada de tanta química e alongamento?

Georgia Pedro – Eu fiz o BC depois que me deu o famoso ‘cinco minutos’. Eu cansei do alongamento. Simplesmente, cheguei em casa um dia e pedi pra minha mãe tirar o cabelo. Quando vi as duas texturas, não tive dúvida, cortei a parte alisada na hora, depois de dez meses de transição.

“Eu fiz o BC depois que me deu o famoso ‘cinco minutos’. Simplesmente, cheguei em casa um dia e pedi pra minha mãe tirar o cabelo. Quando vi as duas texturas, não tive dúvida, cortei a parte alisada na hora, depois de dez meses de transição.”

Sabrinah Giampá– Foi o único motivo?

Georgia Pedro –Como eu disse, já fiz permanente afro, usava bobs, escova, progressiva e depois também acabei aderindo a chapinha, todo santo dia. Mas vou contar porque decidi ficar natural. Na verdade, foi um acidente de percurso que me fez decidir voltar às minhas origens.

Sabrinah Giampá – Como assim?

Georgia Pedro –O correto pra quem alisa o cabelo é alisar de três em três meses, mas eu fiquei na loucura de alisar eu mesma todo mês, e daí aconteceu o inevitável: minha franja que era enorme, ficou elástica e começou a quebrar.Por sorte, isso não aconteceu no cabelo todo.


“Na verdade, foi um acidente de percurso que me fez decidir voltar às minhas origens. O correto pra quem alisa o cabelo é alisar de três em três meses, mas eu fiquei na loucura de alisar eu mesma todo mês, e daí aconteceu o inevitável: minha franja que era enorme, ficou elástica e começou a quebrar.Por sorte, isso não aconteceu no cabelo todo. “



Sabrinah Giampá – Você alisava para deixar o alongamento mais natural?

Geórgia Pedro –Sim, eu sempre alisei, mas como o cabelo estava elástico e eu perigava ficar careca, acabei sendo obrigada a cortar a franja bem curta. Foi quando eu prometi pra mim mesma que iria dar um tempo no alisante.  E um dia, acabei me surpreendendo durante o banho, enquanto lavava meu cabelo. Eu senti umas ondas e fui correndo mostrar pra minha mãe. Perguntei pra ela como era o meu cabelo natural, que nessa altura, eu nem lembrava mais como era. Nas minhas fotos de criança,eu sempre estava lá, com o cabelo preso. Eu fiquei toda boba com a textura natural do meu cabelo e cheguei até a cortar uma mecha pra eu poder ver de perto.

“E um dia, acabei me surpreendendo enquanto lavava meu cabelo. Eu senti umas ondas e fui correndo mostrar pra minha mãe. Perguntei pra ela como era o meu cabelo natural, que nessa altura, eu nem lembrava mais como era. Nas minhas fotos de criança, eu sempre estava com o cabelo preso. Eu fiquei toda boba com a textura natural do meu cabelo e cheguei até a cortar uma mecha pra eu poder ver de perto.”

Sabrinah Giampá – E qual foi a grande descoberta?

Georgia Pedro –Eu descobri que o meu cabelo cacheava. E como nosso cabelo na parte da testa é diferente do restante, eu achava que meu cabelo não cacheava pelo fato da minha franja ser mais crespa, então eu não dava muita bola, e não queria de jeito nenhum deixar o cabelo crescer. Mas graças a Deus meu cabelo quebrou aquele dia, caso contrário eu não teria parado de alisar!

Sabrinah Giampá – Sem querer cair no senso comum, há males que vem pra bem. Mas como lidou com o preconceito desde então? Ele continuou existindo?

Georgia Pedro –Sofri muito quando era criança e adolescente, mas durante a transição foi tudo bem. Sinto um pouco mais hoje, mas é aquele preconceito velado. A gente percebe que algumas pessoas te olham torto, por outro lado, também recebo muitos elogios.  Eu estive em Cancun, no México, na segunda semana desse mês de setembro, e me surpreendi muito lá. Vários nativos elogiaram meu cabelo: atendentes de lojas, garçons, foi incrível! Até uma americana (branca) disse:”Love your hair” (amo seu cabelo) e eu ameiii, fiquei muito feliz com a reação positiva na rua, e olha que eu estava insegura em pensar como seria o comportamento das pessoas de lá.

“Eu estive em Cancun, no México, e vários nativos elogiaram meu cabelo: atendentes de lojas, garçons, foi incrível! Até uma americana (branca) disse:”Love your hair” (amo seu cabelo).”

Sabrinah Giampá – Pelo visto, o retorno ao natural conseguiu mudar sua relação com seu cabelo. Fale sobre isso.

Georgia Pedro – Quando eu fiz o BC, mesmo tendo certeza do que tinha feito, foi difícil me olhar no espelho depois e me aceitar. A sensação que eu tinha era de que o cabelo não combinava com a minha roupa, parecia até que tinha algo de estranho comigo rsrs. Agora, já consigo me ver e me reconhecer. Posso dizer, e digo: essa sou eu! Mesmo alisando meu cabelo e usando apliques, eu sempre achava lindo quando avistava um o cabelo natural, mas eu não tinha coragem e, além disso, achava que meu cabelo não era bonito. Gostaria de ter sido mais corajosa antes, mas sempre há tempo de correr atrás do prejuízo.

Sabrinah Giampá – Acredito que nunca e tarde pra recomeçar. E mesmo você, que aparentemente, teve o apoio dos pais para se autoaceitar, acabou internalizando um preconceito social, que interferiu em várias esferas de sua vida. Como enxerga o apoio de seus pais nesse sentido, e que educação pretende passar a seus filhos, se um dia tiver?

 Georgia Pedro- Não tenho filhos, mas quando tiver, farei o máximo para que eles se aceitem do jeito que vierem, seja com cabelo liso ou crespo. Meus pais sempre me apoiaram, talvez pelo fato de apoiarem, eles não gostavam de me ver sofrendo, e por isso, fizeram de tudo para me ver feliz, e minha felicidade, naquele momento, era alisar o cabelo. Vale lembrar, que naquele tempo eu não tinha referências capilares, minha mãe não tinha o cabelo como o meu, e o meu pai usava cabelo curto. Então, neste caso, os meus filhos terão uma referência crespa em casa. Eu serei a referência para os meus filhos, ele irão me ver de blackpower! Minha irmã, que sempre usou cacheado com permanente afro, resolveu há pouco tempo alisar, mas já a convenci do contrário, e agora ela está em transição. Espero muito que ela também consiga!

“No começo, meu namorado não gostou nem um pouco, mas fui contra ele e cortei sem comunicá-lo, pois se avisasse, com certeza iria dar briga. Atualmente, ele está tão acostumado, que até me pede para armar o cabelo quando está muito baixo rsrsr.”

Sabrinah Giampá – Você já falou do seus pais, da sua irmã, mas não falou do seu namorado. Gostaria de saber como foi a reação dele diante da sua mudança.

Georgia Pedro- No começo, meu namorado não gostou nem um pouco, mas fui contra ele e cortei sem comunicá-lo, pois se avisasse, com certeza iria dar briga. Atualmente, ele está tão acostumado, que até me pede para armar o cabelo quando está muito baixo rsrsr.

Sabrinah Giampá – Como você percebe sua mudança, como uma mudança externa, interna, ou ambas?

Georgia Pedro-  A mudança foi interna e externa.Sempre quis ser estilosa,rsrs, e hoje, acho que sou devido ao meu cabelo. Me sinto mais confiante e poderosa, já chego chegando hehehe.

“Nada melhor que se sentir livre, poder lavar o cabelo sem se preocupar em ter que fazer escova, é demais! Infelizmente, o preconceito existe sim, mas o blackpower é mais forte que ele, força no black! Assumir o cabelo crespo não é só estética, é uma questão política e de atitude.”


Sabrinah Giampá – Como você estiliza seu cabelo? É adepta das rotinas lowpoo/no poo? Que produtos usa? 

Georgia Pedro – Eu não sigo o low poo e nem o no poo, porque ainda não encontrei um creme de pentear, sem os derivados proibidos ,que fique bom no meu cabelo. O creme que mais uso, mas que não serve pra essas duas técnicas, é o Natu Hair.Ele é um creme bem grosso e oleoso, e meu cabelo ama óleos. Já tentei usar cremes mais leves, mas não gosto do resultado. Tenho vários shampoos sem sulfato, mas só uso quando não estou usando cremes com derivados de petróleo, silicones e parafina. Procuro sempre usar shampoos que não ressequem o cabelo e lavo no máximo três vezes por semana. Gosto sempre de testar novos produtos, adorooo conhecer novos cremes. Como tenho bastante cabelo, priorizo os mais densos e oleosos. Amo também usar óleo de rícino e óleo de coco. Eu geralmente sigo o cronograma capilar, hidratando também,três vezes por semana.

O queridinho da Georgia!

Sabrinah Giampá-  Quanto tempo leva para estilizar seu cabelo? Acha que dá trabalho? Como aprendeu a cuidar do seu cabelo natural ?

Georgia Pedro –Eu levo uns 40 minutos porque tenho muito cabelo, e procuro aplicar o creme de pentear mecha por mecha, mas vale a pena. Confesso que ainda estou aprendendo a cuidar, cada dia aprendo algo novo e isso é muito legal.

Sabrinah Giampá – Qual o recado que você deixaria para outras meninas que tem uma história parecida com a sua, mas que não conseguem se aceitar devido ao preconceito?

 Georgia Pedro –Atualmente, o que mais temos são meninas e meninos crespos para se inspirar.Nada melhor que se sentir livre, poder lavar o cabelo sem se preocupar em ter que fazer escova,uauuu, é demais! Infelizmente, o preconceito existe sim, mas o blackpower é mais forte que ele, força no black! Assumir o cabelo crespo não é só estética, é uma questão política e de atitude.

  1. Parabens pela sua atitude. Queria ter a sua coragem; vc é uma inspiração. Estou em faze de transição, deixando o cabelo crescer mais para poder cortar. Mais esta sendo muito difícil, pois meu cabelo é do tipo 4b e 4c, ai tenho medo de não formar cachos quando eu cortar. É difícil … mexe muito com a estima da mulher.

  2. que reportagem linda!! parabéns. acompanhando essas historias, vejo o quanto é importante a aceitação, e sentir-se bem. desejo sinceramente que minha filha nunca tenha que passar por essas questoes. me esforço pra que ela ame o cabelinho dela, pra que se sinta maravilhosa com ele. não tenho cabelo muito crespo, mas deixo meu cabelo sempre muito natural, e sei o quanto é libertador não ser refem de chapinhas e etc. Sabrina, estou amando todas as coisas que já li no teu blog. beijoss

  3. Aline, a Georgia é mesmo linda, mas a verdadeira beleza está em todo mulher, só precisamos resgatá-la.

    Teka,imagino o que esteja passando. Mas não tem nenhum problema no cabelo 4b e 4c, embora a gente cresça vendo a sociedade recrimina-lo. O black é lindo, poderoso, independente de ter cachos ou não. O importante é se amar, se aceitar e cuidar com amor do cabelinho. Aqui no blog tem uma postagem onde mostro cabelos poderosos, de celebridades com 4b e 4c assumidos. Procure por: você sabe qual o seu tipo de cabelo? Força pra vc. bjks

    Niandra, você é uma mãe maravilhosa, fico feliz que o blog sirva de inspiração para que continue estimulando sua filha linda a se aceitar como é: perfeita! Bjks

  4. Em primeiro lugar, parabéns Sabrinah pelo blog, descobri hoje e já estou louca pra ler tudo que existe nele rsrsrs. Em relação a entrevista com Georgia, eu simplismente me vi, acredito que muitas crespas também. Sofri horrores na infância e na adolescencia. Hoje sou eu amo meu cabelo crespo e com certeza não me vejo mais de outra forma, meu cabelo, minha identidade.

  5. Parabéns Sabrinah pelo blog, conheci hoje e já estou ansiosa para ler cada post dele rsrsrs. Em relação a entrevista com Georgia eu simplismente me vi em muitas das situações ruins que ela passou. Eu também sofri muito na infância e principalmete na adolescência( época de paquera srsr)por não ter o cabelo dos “sonhos”. Hoje amo meu cabelo,meu cabelo minha identidade.Não me vejo de outar forma.

  6. Linda história…
    Cabelo crespo é muito lindo porem necessita de muito mais cuidado e tempo para ficar lindo o meu era crespo mais eu como nunca via o crescimento dai optei pelo liso e hj eu quero só liso …

    Mais te parabenizo pela sua determinação…

    Lindo seu belo crespo…

  7. Monique, ao contrário do que a maioria das pessoas imagina, o cabelo crespo não precisa de tantos cuidados assim. Geralmente, um cabelo crespo alisado requer MUITO mais cuidados, além da manutenção constante, é claro. Pense nisso! bjks

  8. Me identifiquei muito com a história. Em suma, na infância eu implorei para minha mãe que eu queria um cabelo liso e bonito (seguindo o padrão social), eu me sentia um patinho feio porque era assim que meus colegas me tratavam. Passei por várias fases e nenhuma delas me deixou satisfeita. Há um ano e meio fiz as tranças afro, fui apelidada de rasta e me senti muito bem com isso, foi um período muito feliz em minha vida. A dor era quando colocava e retirava-as (Nossa, que dor!). Tomei coragem e fiz o corte há 3 dias, estou simplesmente amando. Outra semelhança é o namorado não aceitar, o meu ainda está tentando se acostumar, ele me confessou que não gosta do estilo, que amava meu cabelo como era antes (as tranças afro), mas que me ama tanto que isso jamais seria um empecilho para nós dois e que com o tempo aceitará, eu tenho fé que tudo dará certo.
    Estou amando muuuuito a liberdade dos meus cachos que há anos ficou preso em casulos, nossa relação está cada dia melhor ! 😀
    Adorei sua história inspiradora Georgia 😀

  9. Anonymous says:

    Adorei a reportagem. Eu tive uma infancia pior do que a dela: a minha propria familia mi discriminava. A minha mae é descendente de italianos e se casou com um afrobrasileiro. Eu sou filha unica e todos os parentes da minha mae me odiavam. Quando a minha tia vinha em casa me olhava e me dizia que eu era feia e nao queria fazer fotos comigo. Na escola pior ainda, e alem do mais tive uma mae muito ignorante que nunca ligou pra mim..

    Na mentalidade deles criança feia nao merece ser feliz entao eu era mal nutrida, mas nao porque faltasse dinheiro em casa, mas porque ninguèm tava nem ai para a minha saude, e meu pai era um egoista que ligava somente para ele. Eu tive uma infancia infernal e mi odiava porque eu mesma me achava horrivel (e a minha cor amarela anemica nao ajudava). Minha mae me levava para alisar o cabelo com o amacihair (acho que se chama assim), com o cabelo espichado a familia me aceitava um pouquinho….

    Quando eu comecei a trabalhar e me cuidar as coisas melhoraram um pouco (as discriminaçoes dentro de casa continuaram porém) eu era a negra entre os brancos, e eu nem negra era, digamos que seou mais clara que a Camila Pitanga. Até que um dia eu conheci um italiano louro de olhos verdes que começou a tentar se aproximar. Eu achava que era uma brincadeira de mal gosto (eu sempre anchei que estavam tirando com a minha cara quando um rapaz se aproximava), ele insistiu até que eu disse sim e voei para Siena na Italia.

    Meu cabelo ainda era alisado e eu usava sempre a chapinha. Ele e outros amigos diziam: mas deixa esse cabelo ao natural… um dia eu cortei ele todinho e fiquei quase careca. me maquiava bem para ficar feminina e esperei ele crescer.

    Descobri que meu cabelo nem era assim tao “ruim”, mas era mal cuidado e maltratado. HOje ele é ondulado e precisa de hidratacao constante, mas é muito maleavel.

    Hoje se eu voltasse atras no tempo mandarei a tomar ****** tantas pessoas que mi fizeram sofrer na minha vida.

    Hoje mia tia tem um cabelo todo estourado e feio porque a tinta massacrou ele todinho, e cabelo com o tempo muda, e o dela mudou para a pior.

    Desculpem os erros mas o meu teclado nao é adapto para escrever em portugues

    Me chamo Luisa

  10. Anonymous says:

    Oi Sabrina, sou Luisa, te invio um email porque nao tenho facebook, te escrevo depois da primeira semana de janeiro ok?

    Beijo grande e feliz ano novo

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

<a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

Comentários no Facebook