raissa por raissa

Raíssa Rosa tem 23 anos, é nascida em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, mas mora em Viçosa, Minas Gerais, desde os quatro anos. Mulher, negra e moradora do morro Carlos Dias, o Rebenta Rabicho, ela já sofreu todo tipo de preconceito, mas conforme aprendeu com sua avó, já falecida, Maria Geralda Rosa (Naninha), “é preciso pegar as pedras atiradas e fazer elas de escada”. E foi o que ela fez. Enquanto a mãe, Carla Valéria Rosa, trabalhava como cozinheira, para criar quatro filhos sozinha, ela mergulhou nos estudos.

Bolsista num colégio particular, porque sua mãe também trabalhava lá como faxineira, teve que lidar com todos os tipos de apelidos pejorativos, e inclusive, chegou a ter o seu cabelo cortado dentro da sala de aula, o que a incentivou a recorrer aos alisamentos para ser aceita.

Com o apoio da ‘fada madrinha’,  a diretora do colégio, Dona Guiceia, ela descobriu sua verdadeira vocação: a de ajudar aqueles que estavam ao seu lado. E pensando nas crianças do morro, largadas a própria sorte pela prefeitura, foi estudar Ciências Sociais para ser professora. Mas para Raíssa, isso ainda não era o suficiente, ela queria mais. Arregaçou as mangas e foi buscar ajuda para as meninas de sua comunidade, e hoje é presidente da Associação Carla Rosa (que leva o nome de sua mãe), diretora da Casa Cultural do Morro, Vice-presidente do Conselho da Juventude da Prefeitura Municipal de Viçosa, e Coordenadora da sua atual ‘menina dos olhos’, o projeto Pérolas Negras, onde procura transmitir para a nova geração do morro, o que não foi lhe ensinado na escola. Raíssa ensina estas crianças a conhecer suas raízes e valorizar a sua cor, e, principalmente, a sua história.

perolinhas

Raíssa com suas Pérolas Negras

Se assumir como negra, para ela, foi mais que uma libertação, ela conseguiu transformar a vida de outras pessoas, e consequentemente, a construir um futuro melhor. É o que vocês irão conferir nesta emocionante entrevista. Espero que gostem!

Sabrinah Giampá – O que é e como funciona a Casa Cultural do Morro?

Raíssa Rosa – A Casa Cultural do Morro é uma ONG (Organização Não Governamental) que surgiu do descaso que a prefeitura tem para com os moradores do Carlos Dias (Rebenta Rabicho). Aqui no morro não tem nada que podemos dizer ser um retorno da prefeitura para os moradores. Só tem casa. Nada de lazer, nada de investimento na educação ou na saúde. NADA. Aí, em 2012, ano de eleição, o prefeito, que como a maioria dos políticos, ‘acredita saber’ qual é a necessidade dos moradores, chegou aqui com a ideia de que o morro precisava de asfalto, e então, asfaltaram. Porém, fizeram um trabalho de porco e sem nenhum respeito com os moradores. Jogaram terra na porta da casa das pessoas, e as trataram como criaturas isentas de opinião. Diante disso, eu e Ana Luísa (estudante de arquitetura da UFV- Universidade Federal de Viçosa) conversamos e nos questionamos sobre a falta de infraestrutura no morro: ” Por que nada fica aqui ?” E em uma reunião de moradores sobre a questão do asfalto, percebemos através de fotos tiradas pelas crianças, o olhar que elas possuíam sobre o lugar onde elas viviam, e isso nos causou um grande impacto, pois percebemos que as crianças estavam sendo esquecidas.

olhar de perola

Criança do Projeto Pérolas Negras

” Em uma reunião de moradores sobre a questão do asfalto, percebemos através de fotos tiradas pelas crianças, o olhar que elas possuíam sobre o lugar onde elas viviam, e isso nos causou um grande impacto, pois percebemos que as crianças estavam sendo esquecidas.”

Sabrinah Giampá – Ou seja, que o futuro daquele morro não tinha esperanças. Então foi assim que surgiu a Casa Cultural do Morro?

Raíssa Rosa – Isso mesmo. Me lembro que saí com algumas fotos que tinham sido tiradas pelas as crianças, explicando qual seria a ideia do projeto. Saí pedindo patrocínio mesmo. E assim surgiu a Casa Cultural do Morro, que foi inaugurada, oficialmente, no dia 07 de setembro de 2012.

Sabrinah Giampá- O objetivo era melhorar a qualidade de vida das crianças?

Raíssa Rosa – O objetivo sempre será valorizar a cultura da criança da periferia. Usar a arte como forma de educação. Hoje a casa possui sete projetos, todos ligados a educação. Em especial, a arte urbana. Precisamos valorizar as raízes dessas crianças.

raíssa e suas crianças

Através de atividades culturais, Raíssa ensina as crianças do projeto a valorizarem as suas raízes.

 

O objetivo sempre será valorizar a cultura da criança da periferia. Usar a arte como forma de educação. Hoje a casa possui sete projetos, todos ligados a educação. Em especial, a arte urbana. Precisamos valorizar as raízes dessas crianças.

 

Sabrinah Giampá – Gostaria que falasse a respeito do projeto “Pérolas Negras”, criado pela ONG.

Raíssa Rosa – O “Pérolas Negras”, que é um projeto da Casa Cultural do Morro,  surgiu da necessidade de trabalhar com as meninas a importância de ser negra. Percebia que elas não se assumiam como meninas negras, e  estavam sempre problematizando os cabelos. E como eu estava na coordenação do Projeto Crianças Arteiras, pedi para a Paula Viana e Dyjane Passos para iniciarem o projeto com as meninas. Corri atrás do patrocínio da Haskell (marca de cosméticos) e pedi para que o projeto se chamasse Pérolas Negras. Hoje somos três: eu, a Marina Gabriela e a Camila Christian, que é a nossa fotógrafa.

projeto crianças arteiras

Raíssa ainda estava a frente do projeto Crianças Arteiras, quando foi correr atrás de patrocínio para o Pérolas Negras

“O ‘Pérolas Negras’, que é um projeto da Casa Cultural do Morro,  surgiu da necessidade de trabalhar com as meninas a importância de ser negra. Percebia que elas não se assumiam como meninas negras, e  estavam sempre problematizando os cabelos.”

Sabrinah Giampá – E por que este projeto, Pérolas Negras, acabou se tornando a sua ‘menina dos olhos’?

Raíssa Rosa – Eu me via refletida naquelas meninas. Eu via todas as manifestações de racismo que sofria quando criança e adolescente. Eu via a mesma história se repetindo! A Paula e a Dyjane, por motivos de trabalho e envolvimento em outros projetos, precisaram deixar a coordenação. E por um tempo, a Tânia, a Hellen e a Karla trabalharam com as meninas, e elas até aprenderam a desfilar. Mas eu queria algo a mais para elas, eu queria que elas entendessem o que é ser uma mulher negra e o que tem por trás de todo esse racismo que sofremos. E foi a partir deste momento que eu deixei a coordenação das Crianças Arteiras e me dediquei às Pérolas Negras. Me entreguei para elas, e como educadora, comecei a desejar para estas meninas o que nunca me passaram na escola: a importância das nossas raízes.

Sabrinah Giampá – E como você trabalha a conscientização do que é ser negra dentro do projeto. Como é feito este trabalho?

Raíssa Rosa- . Elas começaram com fotos, mas temos as oficinas de história oral, turbantes e maquiagem. E eu me baseio na lei 10.639, porque quero que meus estudantes tenham poder crítico.

pérola negra

Criança do projeto Pérola Negra

Eu me via refletida naquelas meninas. Eu via todas as manifestações de racismo que sofria quando criança e adolescente. Eu via a mesma história se repetindo! (…) Por um tempo, a Tânia, a Hellen e a Karla trabalharam com as meninas, e elas até aprenderam a desfilar. Mas eu queria algo a mais para elas, eu queria que elas entendessem o que é ser uma mulher negra e o que tem por trás de todo esse racismo que sofremos.

Sabrinah Giampá – Explique para as leitoras do blog o que é esta lei 10.639.

Raíssa Rosa – Essa lei é de 2003, e torna obrigatória a disciplina de história afro-brasileira nas escolas. Mas para você ter uma ideia, até hoje não implantaram isso aqui em Viçosa, e em várias escolas que conheço fora daqui também. A minha prioridade é trabalhar com escolas de periferia. As escolas de periferia precisam de professores que saibam o que é ser de periferia!

Sabrinah Giampá- E o que é ser de periferia para uma mulher negra?

Raíssa Rosa – Periferia é resistência. Ser mulher, negra e de favela é lutar contra todos os preconceitos diariamente. Sou filha de mãe solteira e fui criada pela minha vó para que minha mãe pudesse me dar o que ela nunca teve, e ainda assim é muito difícil, porque o Brasil é um país racista e machista. O que eu passei, estas meninas passam, e muitas outras também enfrentam neste país. Tem a síndrome da escova de roupa, que é passar a escova de roupa no cabelo. É você ser chamada de cabelo duro, de Bombril, cabelo ruim. Eu sou da periferia e moro no Rebenta. Imagina que já cortaram o meu cabelo dentro da sala de aula, e neste ano cortaram de uma menina minha? Se passaram mais de 10 anos e pouca coisa mudou dentro da escola.

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Raíssa durante a oficina de turbantes, do projeto Pérolas Negras

“Periferia é resistência. Ser mulher negra e de favela é lutar contra todos os preconceitos diariamente (…) O que eu passei, estas meninas passam, e muitas outras também enfrentam neste país.  Imagina que já cortaram o meu cabelo dentro da sala de aula, e neste ano cortaram de uma menina minha? Se passaram mais de 10 anos e pouca coisa mudou dentro da escola.”

Sabrinah Giampá – E imagino que deva ser ainda mais difícil para uma criança. E ninguém melhor do que você, que vive no morro desde a infância, para falar sobre isso. Gostaria que me contasse um caso de preconceito que sofreu por ser negra e ter o cabelo crespo?

Raíssa Rosa – A ditadura da beleza impõe que para você ser bonita, tem que ser magra, branca e de cabelo liso. Eu e as pérolas não nos encaixamos nesse padrão. Já tive vários apelidos de horror. Tem um que não esqueço nunca, e que minha mãe sempre lembra. Me chamavam de ‘cocô preto’. Mas um episódio específico me marcou muito, e foi essa questão de cortarem o meu cabelo na escola. Eu tinha o cabelo natural, e a escola aonde eu estudava era particular. Eu era bolsista, filha da faxineira e a menina que mora no Rebenta Rabicho. Eu tinha uns 13 anos. Eu estava sentada na sala de aula, e o menino que estava sentado atrás de mim passou a tesoura no meu cabelo. Ficou torto. Muito torto. Eu estava de rabo de cavalo no dia. A partir daí, resolvi passar produto para alisar o cabelo. Uma tia que tem um salão no Rio de Janeiro veio à Viçosa visitar a família, e pedi pra ela realizar o meu sonho: deixar meu cabelo grande e sem volume. E foi assim que conheci a guanidina.

Sabrinah Giampá – E após sucumbir à química foram quantos anos de escravidão?

Raissa Rosa – Uns oito anos. Aos 20 eu resolvi parar. Estava cansada de diminuir o volume, queimar meu couro cabeludo, gastar dinheiro. Estava realmente cansada. Aí cortei toda a parte quimicada aos 22, e agora sou viciada em me olhar no espelho e ver como é linda a minha coroa. (risos) Sempre procuro algo na história das guerreiras para mostrar as pérolas e ajudar na reconstrução da autoestima.

raissa com pérolas

Raíssa, que já sofreu preconceito por causa do cabelo crespo, hoje ensina as meninas de sua comunidade a amarem seus crespos naturais e as suas origens.

A ditadura da beleza impõe que para você ser bonita, tem que ser magra, branca e de cabelo liso. Eu e as pérolas não nos encaixamos nesse padrão. Já tive vários apelidos de horror. Tem um que não esqueço nunca, me chamavam de ‘cocô preto’.

Sabrinah Giampá – Você contou que sofreu muito preconceito na escola por parte dos alunos. E quanto aos professores? Alguma vez já te fizeram se sentir discriminada?

Raíssa Rosa – Não diretamente. Mas sempre tem aquele que deixa claro que você é bolsista. Achamos que está tudo bem, mas não está nada bem.

Sabrinah Giampá – Então sofreu discriminação por parte de professores por ser bolsista?
Raíssa Rosa- Eles não falavam nada diretamente, mas mandavam indiretas, e você sente isto claramente. Eu só tive um professor negro no Ensino Médio, e no fundamental eu tinha a professora de reforço.

pérolas

Raíssa com suas pérolas: “Morenas não, somos negras!”

Sabrinah Giampá – Complicado não ter uma referência negra no ambiente escolar. E entre os professores brancos, teve algum apoio por parte de algum.

Raíssa Rosa – Os funcionários da escola e a diretora, que chamo até hoje de ‘fada madrinha’, sempre me fizeram querer o mundo.

Sabrinah Giampá – E isso repercutiu positivamente na sua vida? Como?

Raíssa Rosa- Lembro de quando eu pensava sobre o curso que eu ia fazer no vestibular, fui conversar com a dona Guiceia, a diretora, e ela me disse: “Raíssa, você tem que fazer algum curso que vai ajudar as pessoas que estão ao seu lado.” Foi então que escolhi ser professora. A minha vó sempre me dizia que temos que pegar as pedras atiradas e fazer elas de escada. Ninguém nunca botou fé em mim, nunca. Era para eu ser só mais uma no mundo. Mas as mulheres que fizeram parte da minha criação fizeram de mim o que sou hoje.

raíssa com a mãe e a irmã

Raíssa Rosa com a mãe e a irmã caçula.

 

“A minha vó sempre me dizia que temos que pegar as pedras atiradas e fazer elas de escada. Ninguém nunca botou fé em mim, nunca. Era para eu ser só mais uma no mundo. Mas as mulheres que fizeram parte da minha criação fizeram de mim o que sou hoje.”

 

Sabrinah Giampá – Você passou por um big chop pra se livrar da química? o que isso representou na sua vida? Como se assumiu como negra para si mesma e para o mundo, e aprendeu a amar seu cabelo natural e suas raízes?

Raíssa Rosa- Na verdade, fiz o big chop não apenas para tirar de vez a química do cabelo, mas para animar as meninas a cortarem também. ‘Dei de doida’, no domingo, a Dyjane falou: – Corta o cabelo, Raíssa. Na segunda, fui no Luiz e cortei, cortei quase tudo. Passei na minha mãe e ela falou que estava lindo. ” Eu sou linda de qualquer jeito mãe”, retruquei.

Sabrinah Giampá – E como foi se deparar com o cabelo natural pela primeira vez? Que mudanças isto trouxe para a sua vida?

Raíssa Rosa- Foi muito bom. Hoje eu sei como é o meu cabelo, do que ele gosta. Comecei a tratar meu cabelo como parte do meu corpo.

raissa e seu crespo

Comecei a tratar meu cabelo como parte do meu corpo(…)Costumo falar que quando se passa produto no cabelo(…)apenas para fazer parte da ditadura da beleza, você está estuprando ele. Há um tempo atrás, eu falava que era mulata, morena… Mas agora eu afirmo que sou NEGRA. E para que isso acontecesse foi necessário conhecer a minha história, minhas origens. Se isso tivesse sido ensinado na escola, como a lei dita, eu não teria passado por tanta negação.

Sabrinah Giampá – E esse processo de se libertar que a fez se redescobrir como negra?

Raíssa Rosa- Costumo falar que quando se passa produto no cabelo sem a vontade da pessoa, ou apenas para fazer parte da ditadura da beleza, você está estuprando ele. E sim, hoje eu falo que sou negra. Há um tempo atrás, eu falava que era mulata, morena… Mas agora eu afirmo que sou NEGRA. E para que isso acontecesse foi necessário conhecer a minha história, minhas origens. Se isso tivesse sido ensinado na escola, como a lei dita, eu não teria passado por tanta negação.

Sabrinah Giampá – Você pode afirmar com convicção que o conhecimento é libertador, e que cursar sociais lhe trouxe esta bagagem que tem hoje?

Raíssa Rosa – O conhecimento é, sim, libertador! Entrar na universidade só me fez perceber, que ser negra, pobre e com diploma é o medo de muitos. (risos)

resgate autoestima

Menina do projeto Pérola Negra, durante a oficina de turbantes: resgate da autoestima através da valorização das raízes.

 

“Entrar na universidade só me fez perceber, que ser negra, pobre e com diploma é o medo de muitos. (risos)”

 

Sabrinah Giampá – Você acha que o trabalho que desenvolve com essas crianças é uma espécie de catarse? Ou seja, conseguiu transformar seu trauma de infância numa missão?

Raíssa Rosa – Eu faço a minha parte como educadora, e sempre usarei as pedras que me foram atiradas como escada. Minha missão é mostrar o poder que as mulheres da periferia têm, é mostrar para essas crianças que elas podem ter o mundo, e, principalmente, que elas são lindas.

Sabrinah Giampá – E o que o cabelo tem a ver com isso tudo? Ou melhor, por que assumir o cabelo natural, aceitá-lo, tem a ver com isso tudo?

Raíssa Rosa – O cabelo é a primeira coisa que a sociedade analisa. Nas minhas oficinas, eu começo com uma pergunta: ” o que é cabelo bom ou ruim?” O meu cabelo conta a historia de quando os negros e as negras foram sequestrados na África. O meu cabelo conta a historia da organização das tribos africanas. O meu cabelo conta a história da mulher que inventou o alisamento capilar. O meu cabelo conta a historia das organizações feministas na época da escravidão, conta a história das quitandeiras, das amas de leite. O meu cabelo conta a história dos abusos sexuais que as minhas guerreiras sofreram no passado, conta a história da minha avó que criou a minha mãe como filha, conta a história da minha mãe que foi abandonada pela mãe biológica, que criou quatro filhos sozinha, sem um puto de dinheiro. O meu cabelo é a minha coroa, porque eu sou rainha, né, meu bem? (risos)

perolas maquiadas

As crianças da comunidade de Raíssa aprendem no projeto a valorizar sua beleza natural, e não a seguir um padrão de beleza.

 

Eu faço a minha parte como educadora, e sempre usarei as pedras que me foram atiradas como escada. Minha missão é mostrar o poder que as mulheres da periferia têm, é mostrar para essas crianças que elas podem ter o mundo, e, principalmente, que elas são lindas.

 

Sabrinah Giampá – E como você percebe esta sua influência, totalmente contrária à imposição social, na vida destas crianças?

Raíssa Rosa – Só da Thays e Gabrielly, de 8 anos, conversarem com você sobre racismo, já é uma vitória. Não sei se estou mudando alguma coisa, mas estou fazendo a minha parte. Tem uma música que eu adoro, que fala: ” quer ser o melhor? Vai ser o melhor para a sua comunidade.”

Sabrinah Giampá – E você concorda que existe uma cultura forte do cabelo longo e liso no Brasil como sinônimo de beleza e feminilidade? Isso impacta diretamente na autoestima dessas crianças?

Raíssa Rosa – Sim claro… e eu que te pergunto, por que mulher tem que ter cabelo grande e o homem cabelo curto? E se eu quiser raspar minha cabeça? É aquela ideia que mulher bonita tem que ter o cabelo na bunda. (risos)

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Criança do projeto Pérolas Negras

“Nas minhas oficinas, eu começo com uma pergunta: O que é cabelo bom ou ruim? O meu cabelo conta a historia de quando os negros e as negras foram sequestrados na África. O meu cabelo conta a historia da organização das tribos africanas, das quitandeiras, das amas de leite. Conta a história da minha mãe que foi abandonada pela mãe biológica, que criou quatro filhos sozinha, sem um puto de dinheiro. O meu cabelo é a minha coroa, porque eu sou rainha, né, meu bem? (risos)”

Sabrinah Giampá – Sempre tem quem diga que alisa o cabelo porque é mais fácil. Você concorda com isso? Cuidar do cabelo crespo é tão trabalhoso e caro assim?

Raíssa Rosa – Parece até piada, né? Quando eu era mais nova, eu queria ter o cabelo liso para não pentear, sou a preguiça em pessoa. Se eu soubesse que poderia ficar vários dias sem pentear o cabelo, eu teria deixado ele natural antes! Estou há uns dois dias sem pentear o cabelo, e o povo falando: Nossa, como seu cabelo tá bonito! (risos)

em comunidade

 

Não sei se estou mudando alguma coisa, mas estou fazendo a minha parte. Tem uma música que eu adoro, que fala: ” quer ser o melhor? Vai ser o melhor para a sua comunidade.”

 

Sabrinah Giampá – Que recado você deixaria para as meninas que ainda não conseguem assumir o seu cabelo natural por conta do preconceito enraizado?

Raíssa Rosa – Que eu tenho certeza que elas ficariam mais lindas de cabelo natural.

retranca_cachos

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  1. Míriam says:

    Sabrina, estudei na Univ. Federal de Viçosa e vi como era o preconceito com quem morava no Rebenta Rabicho. Moto bonita a estória dessa moça. Em relação ao cabelo era bem assim, alisar era mais fácil cuidar, segundo a minha mãe. Hoje estou com o cabelo 100 por cento natural e é libertador. O que essa moça faz com essas meninas é maravilhoso. Um dia, quando for a Sp vou marcar de ir no seu salão, com toda certeza.

    • sabrinah says:

      Miriam, fico muito feliz que apenas do preconceito, vocÊ conseguiu assumir o cabelo natural, e consequentemente, suas raízes. Também acho a história da Raíssa inspiradora, e por isso fiz questão de fazer esta entrevista com ela. Quando vier à SP, será muito benvinda em minha Garagem. bjks

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