Relembrei, hoje, uma situação que passei com um amigo meu, quando ambos éramos viciados nessas porcarias de cupons de descontos, e resolvi compartilhar, até porque esta história é um retrato do que um título ou status pode fazer por você. Havíamos comprado cupons para um bistrô francês recém aberto nos jardins. Estávamos tão ansiosos para conhecer que conseguimos chegar 10 minutos antes de abrir. Aguardamos. Fomos os primeiros a sentar. Queríamos a mesa que ficava no ambiente superior, do jardim de inverno, mas segundo o garçom, este ainda não estava aberto. Sentamos no térreo mesmo. Logo descobrimos que não poderíamos usar os dois cupons simultaneamente, era apenas um por vez. Recusamos a carta de vinhos insistentemente oferecida pelo garçom e pedimos uma cerveja e um crepe para cada. Esperamos. Esperamos. Esperamos. MUITO! Intercedi pela cerveja, que mais 10 minutos depois apareceu. Achei estranho que as pessoas das mesas vizinhas, que chegaram bem depois de nós, já haviam terminado de comer os mesmos crepes que aguardávamos. O nosso chegou meio a trancos e barrancos. Degustamos. A fome já imperava há tempos. Na hora de pagar, coincidentemente, o dono ( reconhecido pelo sotaque francês) passava ao lado, e fiz questão de pedir a conta a ele. Disse que como havíamos esperado tanto pela cerveja e pelo prato, não queria correr o risco de chamar o funcionário dele novamente. Solícito, o proprietário nos perguntou se morávamos perto. Respondi dizendo que trabalhávamos perto, mas não resisti e usei uma mentirinha daquelas irresistíveis de contar: – Na revista Comer Bem, conhece? ( Detalhe, inventei o nome na hora e depois me certifiquei que nem existe). O francês prontamente respondeu: – sim, claro. E começou a nos tratar absurdamente bem e falar sobre a procedência dos ingredientes pré-selecionados e sobre o excelente carrè de cordeiro. Eu, prontamente o alertei que era o prato preferido do meu amigo
( vegetariano rsss). Ironias a parte, o Francês nos ‘convenceu’ a retornar. Éramos obrigados porque ainda tínhamos dois cupons pra usar ( meu amigo fez a infelicidade de comprar dois). Mas o melhor dessa história foi o retorno na semana seguinte. Reconhecidos pelo francês, que só faltou estender um tapete vermelho para adentrarmos o recinto, fomos levados com toda pompa e circunstância para o piso superior (que estava ‘fechado’ na semana anterior). Nossa cerveja chegou em menos de 5 minutos e ainda fomos agraciados com um couvert de queijos nobres ( odiei o de cabra). E o dono ainda ficou ali na nossa cola. Mal conseguíamos conversar. Era atendimento VIP do VIP. E pra piorar, uma emissora de TV estava gravando no local e a produtora perguntou se eu e meu amigo éramos um casal, pois pagariam um jantar para ilustrar a matéria. Recusamos e insisti na mentira quando ela perguntou onde os dois jornalistas trabalhavam. Ela também conhecia a Comer Bem. No final, ficamos tão sufocados pelo tal francês que pegamos ojeriza do lugar. Meu amigo acabou perdendo o cupom adicional, pois concluímos que entre ser mal atendido e bajulado, a primeira opção era menos pior. Na verdade o que queríamos era apenas ser atendidos como todos os outros. Acreditamos que o fato de estarmos com o cupom gerou um preconceito peculiar, que também havíamos observado em outros restaurantes. Concluindo: nunca mais compramos cupons e jamais passamos na frente do tal bistrô francês. O proprietário está até hoje esperando o e-mail com a matéria em PDF.