Se tem uma coisa que me provoca um misto de revolta e repulsa é propaganda de cerveja. Sempre com uma conotação machista, vulgar e um apelo sexual exacerbado e desnecessário. Como mulher, me sinto extremamente ofendida. Não sei se tenho mais raiva das marcas ou das agências de publicidade responsáveis. Vejo nelas um nítido reflexo social da nossa cultura latina, que coloca as mulheres num patamar inferior, onde só têm destaque quando aparecem colocadas como objetos de figuração. Algo do tipo, o amendoim que combina com a cerveja. Comestível e descartável. A última que assisti e achei lamentável, e que continua sendo exibida, é a da Nova Schin. Ela mostra um ato de abuso sexual como divertido e aceitável socialmente. A sacadinha publicitária do homem invisível faz com que este invada o banheiro feminino, dispa e agarre as mulheres ali presentes, que fogem desesperadas. A cena é retratada como cômica e no mínimo me faz pensar que reproduções do tipo da realidade não são mera coincidências. Penso naqueles homens das cavernas, que encontramos em pleno século XXI pelos bares da vida, que ainda apelam para a tática de aproximação do ‘mim Tarzã e tu Jane’ e puxam a primeira vítima pelos cabelos. Sim, muitos desta espécie não sabem nem dialogar. Educados pela mídia, são impulsionados a acreditar que ser ‘cool’ é colecionar mulheres como objetos de decoração, que somos desprovidas de inteligência e que manter um vínculo com qualquer uma de nós remete a uma vida de sofrimentos e privações. Afinal, para que se contentar com o amendoim X se você pode desfrutar o Y e o Z. Simples assim. A campanha Skol Folia seguiu esta mesma linha, e usou e abusou da trilha do Aerosmith para ridicularizar a dor da perda de uma esposa que via seu marido partir para uma ‘suposta’ guerra, inventada para camuflar as noites de farra que ele teria pela frente. Como se um casamento fosse empecilho para o cara se divertir com os amigos e que ter um relacionamento fosse sinônimo de estar preso.
Mas obviamente, que a apologia às traições não são descartadas. Ou seja, ferir os sentimentos alheios e se privar de qualquer tipo de vínculo, que ao meu ver, são responsáveis em grande parte pela evolução humana, é uma meta a ser seguida. Praticamente uma religião. Não sou puritana, não tenho nada contra sexo casual, mas não me conformo com esta religião pregada pelas marcas de cerveja, uma bebida que eu tanto gosto. Sim, mulheres reais também apreciam cerveja, mas não pra serem degustadas como amendoins pelos homens. Confesso que algumas marcas já me descem quadrado só de olhar pra garrafa. Tenho dado preferência aos rótulos internacionais, que não fazem este tipo de apologia e ainda não patrocinam rodeios e afins. Não, eu não sou vegetariana, mas também acho um despropósito, a Antarctica Subzero, além da conotação machista, ridicularizar este modo de vida em seu comercial. A forma como é retratado é repugnante. É como se existissem dois mundos, o das pessoas legais e das chatas e tediosas que não sabem aproveitar a vida, e consequentemente, não comem carne. Nenhum tipo. Inclusive a carne do tipo mulher. Isso mesmo. Somos comparadas a amendoins, picanhas e afins. A ligação do vegetarianismo com a homossexualidade também é clara. E esta também faz parte do mundo dos chatos. Nessa linha tênue não me encaixo de nenhuma forma. Até porque não me vejo como um morango, uma maça e muito menos um melão. Ah, e eu como carne e tomo cerveja da boa (não a ‘boa’) sem me colocar na posição de objeto de figuração ou acompanhamento da bebida. Seria uma consumidora em potencial se não fosse desrespeitada pelas marcas. Aliás, conheço muitas mulheres que bebem muito mais do que homens, mas como amendoim não bebe…
Claudia Sciré says:
Muito válida essa analogia da mulher com o amendoim – algo que é igual em todo lugar, aonde quer que você vá, você sabe o que vai encontrar… isso dialoga muito com o texto anterior, com a homogeneização da aparência e dos modos de agir das mulheres
Claudia Sciré says:
infelizmente estamos caminhando para um processo de desumanização seja de homens, seja de mulheres. É clarp que neste contexto a desumanização de um vem servir e se encaixar aos aotos de outros…