Nunca é tarde para ser feliz
Nos EUA, já ocorre, há alguns anos, um processo de libertação dos cabelos massacrados por químicas alisantes, o chamado BIG CHOP, que pode ser traduzido como o grande corte. Ele surgiu quando as negras americanas, cansadas da imposição cultural do longo e liso e ao mesmo tempo aflitas pelos danos capilares que conquistaram com tantos procedimentos químicos, resolveram unir forças e remar contra a maré.
Então o que fizeram? Elas simplesmente decidiram se livrar da química da forma mais radical possível. Elas rasparam os seus cabelos e aprenderam de uma vez por todas a cuidar, e principalmente, a aceitar os seus fios naturais.
Tem um vídeo, que eu acho maravilhoso, veja ele aqui! Se não conseguir abrir , procure no google por documentário de Zina Saro-Wiwa. Gosto dele porque mostra de perto a experiência com o big chop e o processo de autoaceitação. É impressionante o desabrochar desta mulher e o quanto ficou bem mais bonita quando assumiu seus fios naturais:
Este é um processo que acontece geralmente de dentro para fora. Com a conscientização, a mulher sente uma necessidade absurda de recuperar o tempo perdido e ressuscitar seu verdadeiro eu, massacrado por uma infinidade de produtos cancerígenos.
Algumas não têm coragem de eliminar os fios de uma vez, pois ainda estão arraigadas à cultura de que o comprimento capilar está diretamente ligado à feminilidade. (Gostaria de saber quem inventou isso…) Sendo assim, acabam dificultando o seu processo de descoberta, pois dá muito trabalho tratar de texturas diferentes. Entretanto, é uma forma menos radical. E eu respeito que cada um escolha o caminho que melhor lhe convém.
No meu caso, como meu cabelo sempre teve alta porosidade, foi mais fácil livrar-se da química (progressiva). O fio poroso absorve os procedimentos capilares como uma esponja, mas por outro lado não consegue reter por muito tempo, pois sua cutícula é naturalmente aberta. Isto foi a minha salvação. Depois de lavar pelo menos uma vez por semana os fios com um shampoo sem resíduo, sim, aquele repleto de sulfatos que resseca até a alma, consegui rapidamente eliminar a química, mas ainda me sobraram parte do comprimento e pontas espigadas e artificialmente lisas, mas nada que uma boa tesoura não resolvesse.
Em busca de um ‘hairstylist’ pra chamar de seu
Só cacheadas e crespas sabem da dificuldade de encontrar no mercado um profissional que saiba tratar dos nossos fios. Não sei o que ensinam em escolas de cabeleireiros, mas acredito que a maioria ignora os nossos cabelos, ou melhor, a natureza deles. E os profissionais que saem destes cursos, saem gabaritados em alisar, esticar e massacrar os fios crespos e cacheados, mas são poucos os que têm noção de estrutura capilar e cortes adequados.
Cortes retos e em V (típicos dos anos 80 e destinados aos fios lisos) são reproduzidos por profissionais mal preparados, na cabeleira de centenas de mulheres cacheadas e crespas, que têm, como única opção, amordaçar seus fios com elásticos e presilhas, ensebá-los de cremes, causando danos, às vezes irreparáveis. E não digo isso apenas pelos danos estéticos, e sim, pelos psicológicos, que são bem piores.
Há mulheres que passam longe de um cabeleireiro há anos por conta dos traumas. Esses dias, conheci uma negra lindíssima, que é gerente de uma loja de roupas que entrei por acaso. O que mais me impressionou foi o seu cabelo crespo muito bem tratado, volumoso e cheio de personalidade. Quando a questionei sobre onde ela cortava, ela se assumiu como cabeleireira responsável: – Deus que me livre colocar meus cabelos nas mãos de um zé navalha. Mas mesmo assim ela se ressentia da falta de ter um ‘hair stylist’ pra chamar de seu.
Papo vai, papo vem, falei pra ela sobre minhas mais novas descobertas e como cheguei até o Miro Nunes, do Floreal Clínica dos Cachos. Confesso até que ela se animou com a possibilidade deste tipo de entrega e eu saí de lá feliz por ter ajudado, pois eu já senti na pele o quanto esta peregrinação pode ser desastrosa.
Com os cabelos cortados por um profissional que desconhece os fios encaracolados, o resultado aterrador é ainda pior, porque na tentativa de libertar os cachos, estes são besuntados com cremes, que na maioria das vezes não foram feitos para permanecerem sobre os fios. O resultado são cabelos emplastados, com caspa, queda e que visivelmente não secam nunca!
O volume que geralmente é apontado como problema na verdade é a solução. É ele que faz a beleza deste tipo de cabelo, que emoldura o rosto. O que a maioria das mulheres rejeitam em seus cabelos não é especificamente o volume em si, mas a falta de formato e proporção, que faz com que o volume se transforme em um vilão que não é. Na verdade o inimigo são dois: o corte errado e os produtos errados ( falaremos sobre isto em outro post).
O cabelo cacheado sem corte, ou com um corte mal feito, contribui para que a estrutura volumosa do cabelo se concentre no comprimento e pontas, dando aquele efeito ‘abajur’ que as mulheres odeiam. Este é facilmente revertido com um corte em camadas arredondadas, que automaticamente distribui esse volume de forma harmoniosa, e com isso devolve a harmonia ao conjunto.
Cortes e Cachos
Ao contrário do que a maioria pensa, existe uma infinidade de cortes para cabelos cacheados e crespos, inclusive os que fogem dos fios longos. Acreditar que este tipo de cabelo não pode ser curto porque arma é uma crença que deve ter sido espalhada por um péssimo profissional, porque se não tem conhecimento em cortar este tipo de cabelo e reproduz um corte feito para fios lisos, o efeito ‘abajur’ é inevitável, ainda mais se o tamanho for drasticamente reduzido.
O corte ideal para cabelos cacheados e crespos é feito, preferencialmente, a seco. Isto porque quando o fio está molhado, o cabelo é outro porque estica e fica difícil analisar o comprimento ideal.
Veja alguns exemplos:
Unknown says:
desde que vc me indicou o Pedro Bonani da Retro, minha vida mudou Sa! Sou eternamente grata! 🙂
Sabrinah Giampá says:
Que ótimo, Be ( é você, né?)! Fico muito feliz. O corte ficou realmente maravilhoso!!! Mas imagino que agora em Londres você vai encontrar um ainda mais poderoso!!! bjks
Vanessa Aguiar says:
Sabrinah, adorei o post.
Eu já cortei no Lunablu que fica na República com a Soraia, gostei da forma como ela te ouve e explica oq pode ser feito, por ém ainda estou com progressiva (estou em transição), mesmo assim o corte foi a seco, adorei o resultado. Porém semana passada fui lá fazer um tratamento e vi a Soraia cortando um cabelo totalmente natural, cacheadão, e o trabalho realmente é ótimo. Vale a pena conferir!!
Sabrinah Giampá says:
Muito obrigada pela dica, Vanessa! Já tinha ouvido sobre o trabalho deles, mas pretendo conferir de perto. bjks
Juliana says:
Adquirindo mais coragem para fazer o meu BC. Estou caminhando para o 5º² mês de transição.
Sds,