Assim que publiquei a matéria do meu
antes e depois pós consultoria visagista, recebi inúmeros pedidos de leitoras sobre indicações de profissionais em todo o país, e que não cobrassem preços exorbitantes. Como jornalista, me senti impulsionada a correr atrás dessas informações, e lá fui eu, navegando, inicialmente, web abaixo, até que me deparo com Philip Hallawell, autor de dois livros publicados sobre o tema.
Fizemos nosso primeiro contato através do facebook, e ele me convidou para participar do 1º Congresso de Visagismo (do mundo), que aconteceria entre domingo e segunda, no Anhembi. Mal pude acreditar em tamanha sorte, ou seria o universo conspirando ao meu favor? Digo isso porque já era sexta-feira!
|
Minha credencial do evento |
Sem pestanejar, corri atrás da assessoria de imprensa do evento para providenciar minha credencial, e lá fui eu domingo, bem cedinho. Logo que assinei a lista de presença, vi que além de mim, havia apenas uma blogueira, a Suzanne Mary, do blog Quarto Feminino, que observei assinando a lista de presença. Fiz questão de me apresentar e conhecer um pouco do trabalho dela, que é maquiadora, esteticista e depiladora, além de ser uma pessoa adorável.
Como meu fotógrafo/marido ou marido/fotógrafo (isso depende da ocasião) não pôde me acompanhar nesse dia, a Suzanne fez questão de me enviar algumas fotos (também tive o respaldo da assessoria) para que pudesse ilustrar essa matéria.
|
A blogueira, Suzane Mary, do blog Quarto Feminino |
Já no auditório, percebi que o moço de olhos acolhedores, que estava ao meu lado, tinha um rosto familiar. Senti que ele também estava me observando, e mais ágil do que eu, me perguntou afinal de onde nos conhecíamos, porque ele tinha certeza absoluta que me conhecia de algum lugar. Respondi que também sentia a mesma coisa, e papo vai, papo vem, descobri que ele fazia escova no meu cabelo, quando usava ele escovado (antes da era progressiva) há alguns anos.
|
Claudio Germano, que escovava meu cabelo, quando eu usava ele liso, tietando Philip Hallawell |
Também me recordei que ele era o único cabeleireiro do salão que eu frequentava, que não me olhava torto, pensando na dificuldade em esticar meus cachinhos saca-rolhas. E por isso, sempre nutri um carinho especial por ele, além de muita gratidão, é claro. Foi ele que me alertou que naquele salão, eles vendiam hidratação kerastáse, mas misturavam um creme vagabundo junto para ‘render’ mais. E nós clientes ludibriadas, caíamos como patinhas. Depois do alerta, ele ganhou ainda mais minha admiração e respeito.
Claudio também fez questão de me enviar umas fotos, quando ambos fomos tietar a estrela do evento. Extremamente simpático e solícito, Philip Hallawell me reconheceu no meio da multidão que o aguardava nos bastidores para uma foto: – Você é do blog, nos falamos pelo facebook! – se direcionou a mim. Eu e o Claudio ficamos estarrecidos com tamanha simplicidade. Cinco minutos depois, estava eu toda sorridente, sendo fotografada ao lado do artista. E esta é a prova que eu estava lá! Fora isso, a entrevista com Philip ficou para outra oportunidade, devido ao assédio que ele estava ‘sofrendo’ por ser o destaque deste grande acontecimento.
|
Momento de tietagem, com Philip Hallawell |
Mas na rápida troca de mensagens que tivemos pelo facebook, ele me explicou que não recomenda que se cobre pela consulta de
visagismo. Segundo ele, o trabalho do visagista tem que estar incorporado ao trabalho do profissional, seja ele cabeleireiro, maquiador, ou designer.
“Quem realmente abraçou o conceito não consegue fazer nenhum trabalho sem aplicá-lo! A aplicação do visagismo valoriza o trabalho, mas o cliente percebe que está investindo na construção de uma identidade visual e não simplesmente cortando o cabelo, ou fazendo uma maquiagem.”
Esse delicioso encontro foi apenas um abre alas para um dia repleto de boas surpresas. A abertura do evento foi feito pela esposa do Philip, Sônia, que é diretora de comunicação do Centro de Visagismo Philip Hallawell. Uma mulher com uma presença de palco incrível,e acima de tudo, extremamente agradável. E mesmo com toda pompa de mulher moderna, senti um ‘q’ de interior no ar, foi quando ela revelou que é natural de Itapetininga. Impressionante como uma interiorana reconhece outra, acho que nossas raízes ficam explícitas em nossa face.
Ela contou que conheceu o marido em Londres, onde ele atuava como artista plástico, pintando quadros. Embora tenha nascido em São Paulo, Philip se formou na Inglaterra e nos Estados Unidos.Ele é filho de um inglês com uma americana.
Renomado artista plástico, tem mais de 50 exposições no currículo, e é arte educador desde 1983. Também foi criador e apresentador da Oficina do Desenho, do extinto programa da TV Cultura, Revistinha; e da séria À Mão Livre – A Linguagem do Desenho, da mesma emissora, que acabou se tornando um livro da editora Melhoramentos. Pelo Senac, publicou Visagismo: harmonia e estética e Visagismo Integrado: identidade, estilo e beleza. Juntamente com sua esposa Sônia, dirige o Centro de Visagismo Philip Hallawell, em São Paulo, onde ministra cursos e conferências nas áreas de beleza, estética e artes.
|
Philip Hallawell, durante o 1º Congresso de Visagismo, no Anhembi, em São Paulo |
Esse dom artístico nato e a busca pelo conhecimento, fez com que Philip desbravasse os segredos do visagismo e se tornasse referência na área. Naquela época, não havia nenhuma bibliografia sobre o assunto. Fernand Aubry, quem criou a expressão deste conceito, não havia deixado nada em registro. E para Philip desenvolver esse conceito e apresentá-lo ao mundo, foi preciso sair do país de origem para mergulhar no universo das artes visuais e música clássica.
O artista também precisou romper preconceitos enraizados, como o de que a área da beleza tratasse de futilidades. Hoje entende que a imagem de uma pessoa está longe de ser uma futilidade, “ela é a identidade daquele indivíduo e tem que estar em harmonia com quem essa pessoa pensa que é”, ressaltou. “Nossa identidade é o que temos de mais precioso, e descobri-la é de importância tremenda e essencial ao ser humano”.
O visagismo existe há milhares de anos: “Os gregos já diziam que uma sociedade se constrói em cima da ética e da estética(…) O visagismo é muito mais do que combinar o cabelo com o rosto, é uma arte de expressar-se pela imagem pessoal, que é fundamental para o ser humano desde o início dos tempos. É uma arte que sempre existiu, ninguém criou, Aubry apenas batizou-a com esse nome maravilhoso. Sempre houve essa necessidade de se expressar, seja através de pinturas, danças, músicas, e porque não, pela imagem.”
|
Ilustração referente ao antigo Egito |
Para Philip, essa necessidade do ser humano se expressar pela imagem pessoal começou a se perder porque a expressão individual foi sendo substituída por uma classe dominante. “Se observarmos ilustrações do antigo Egito, podemos perceber que todos se vestiam e se maquiavam da mesma forma. Isso porque sucumbiam ao Faraó, que era o poder dominante, e não se permitiam mudanças significativas em sua aparência(…) O mesmo ocorreu no Japão, onde todos reconhecem uma gueixa; na Europa renascentista, e por aí vai. No século XIX ,tivemos algumas mudanças, mas nada muito significativo. A classe média adotou o estilo da classe dominante e se transformou numa massa homogênea”, esclareceu.
É fácil percebermos essa tendência à massificação, quando olhamos fotos antigas, dos anos 20, 40, 50. Elas são retratos de uma época porque retratam uma identidade única para todos, seja no vestuário, no cabelo e na forma de agir. “Nos anos 60 começou uma contracultura em prol da liberdade de expressão. Se antes o pensamento vigente era: você tem que ser assim, se vestir dessa maneira, a pergunta interna que ecoava era: e eu? Como fica a minha personalidade? Individualidade?”
|
Mulheres nos anos 20: todas iguais |
Philip Hallawell aproveitou a deixa para citar um dos maiores erros dos profissionais da beleza: não ouvir o cliente e projetar seu gosto pessoal em cima dele, ignorando a sua personalidade: “Essa história do achismo é mais propensa a erros que acertos, não dá pra ignorar a essência das pessoas e tratá-las apenas como uma embalagem”.
A trajetória de Hallawell no visagismo surgiu, segundo ele, de uma confluência de coisas. “Você nunca pode negar sua história, suas origens, é preciso reverenciá-la”, explicou enquanto narrava os primórdios de sua carreira.
Em 1971, aos 20 anos, apresentou a obra O Encontro, baseado em um tema que estuda até hoje: como você se encontra com o exterior, com o mundo em que vive? “Como criar harmonia e satisfação durante o encontro do eu com o ego, ou seja, aquele raro momento onde você se olha no espelho e se reconhece”.
Segundo ele, o primeiro passo para que você se encontre no mundo é um alto nível de saúde mental e psicológica, ou seja, equilíbrio: “sem isso, ninguém encontra o seu caminho”. Ele acredita, que atualmente, as pessoas estão impelidas a serem criativas e se destacarem no meio da multidão: “ninguém quer ser mais um, todos querem uma imagem para chamar de sua e que gere uma comunicação visual positiva. Essa linguagem se resume a capacidade de transformar intenção abstrata em externa”.
|
A Monalisa, de Da Vinci |
Leonardo da Vinci foi uma das fontes onde o artista bebeu para conceber o conceito do visagismo. “O mundo todo está carente de conhecimento em linguagem visual, é uma disciplina que desapareceu das escolas de todo mundo.A grande problemática era a forma como o desenho era ensinado, em cima de regras e não com o conhecimento que permitia criar livremente. Essa criatividade que deveria ter sido estimulada, foi tolhida, pois é o conhecimento que proporciona essa liberdade criativa”.
Luz e Sombra
Antes do período renascentista, não houve um artista que conseguisse pintar usando efeitos de luz e sombra. “É impressionante como isso aumenta sua capacidade de criar”. E por esse motivo, Philip abandonou a faculdade dos Estados Unidos e foi para a escola de artes em Londres, e investigando por si mesmo as obras de Da Vinci, Michelangelo e Rafael, conseguiu compreender os fatores que levavam à harmonia estética, equilíbrio e leveza e a percepção de todos eles juntos, ou seja, como funcionava essa engrenagem.
|
A criação, de Michelangelo |
“O que ensino em quatro dias, levei quatro anos para aprender. Em Londres, eu pude observar de perto uma das maiores coleções de desenhos renascentistas do mundo, que só perde para o Vaticano. Eu ia lá e observava como eram feitos, os pequenos detalhes, e daí eu tive um ‘start’: Sempre havia uma luz refletida no queixo das figuras retratadas. Depois disso comecei a reparar que havia a mesma luz entre os olhos, no braço, e por isso que a imagem adquiria o volume e consistência que tinha”. ‘Coincidentemente’, esses mesmos efeitos são fundamentais para conseguir uma boa maquiagem.
Gostou da matéria? Então não perca o próximo post sobre o 1º Congresso de Visagismo, que será publicado na próxima semana. Nele, vamos nos aprofundar no poder dos símbolos e seu impacto na imagem pessoal. Acompanhe!