Embora a maioria das mulheres brasileiras tenha os cabelos cacheados e crespos, a falta de referências midiáticas ainda é gritante. De acordo com uma pesquisa do Data Popular para o Instituto Patrícia Galvão, 83% dos entrevistados enxergam mais mulheres com cabelos lisos nas propagandas de TV. A pesquisa foi feita com 1.500 pessoas (homens e mulheres) de 100 municípios do país.
Entretanto, essas pessoas gostariam que as propagandas tivessem mais mulheres com cabelos crespos e cacheados. Vale ressaltar que a população enxerga que na vida real, a maioria das mulheres tem cabelo liso. Acredito que isso aconteça devido à quantidade de mulheres que utilizam de artifícios para esticar os fios, seja chapinha, escova progressiva, ou outros métodos. É raro encontrar uma cacheada ou crespa assumida na rua, e quando eu acho, geralmente no metrô, é uma agulha no palheiro.
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Sheron Menezes, atriz |
O mesmo acontece em relação às mulheres negras. 80% dos entrevistados afirmam que as mulheres brancas são maioria nas propagandas de TV, entretanto, cinco em cada 10 gostariam de ver mais mulheres negras nos anúncios televisivos. Resumindo: as propagandas não nos representam, ou melhor, não representam a realidade do país. De acordo com a última Pesquisa Nacional de Domicílios, do IBGE, 51% da população brasileira se declara negra ou parda.
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Georgia Pedro, jornalista e blogueira |
“Não me sinto representada em nenhum aspecto, infelizmente o preconceito impera na mídia e em pleno ano de 2013, ainda sentimos falta de ver negros e negras na TV. Claro que podemos citar Taís Araújo, Sheron Menezes que são lindas, mas perto de um Brasil que possui a maior população negra fora do continente africano, temos a sensação que não existem negros no país. Não vejo negros em comerciais, programas de TV, novelas… não vejo em lugar algum. Então o que resta é admirar os belos artistas americanos”, desabafa a blogueira negra, Georgia Pedro, do blog Modismos e Makes.
Segundo o presidente do Data Popular, Renato Meirelles, especialista em mercados emergentes, a visão da elite, que aprova o anúncio publicitário, ainda segue o padrão de beleza europeu:
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Renato Meirelles, presidente do Instituto de Pesquisas Data Popular |
“ Isso acontece porque as pessoas que criam e aprovam os anúncios pertencem às classes A e B. E essa elite é branca, tem olhos claros e ainda dialoga com esses padrões que sempre foram privilegiados no mercado consumidor. Entretanto, nada justifica a questão racial: os negros são mais da metade da população e movimentam R$ 720 bilhões em consumo por ano, e o seu aspiracional não é ser branco”, explica.
Essa visão elitizada dos publicitários, pode ser vista claramente na nova propaganda do Boticário como me alertou a blogueira, Juliana Ferreira, do blog O preto nada básico. A propaganda fala sobre a beleza da mulher brasileira, mas só mostra biotipos europeus, como loiras de olhos azuis. Alguém viu alguma negra? Enfim, estamos na Suécia, ora bolas, ou o IBGE deve ter se enganado…
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Juliana Ferreira, advogada e blogueira |
“O Boticário possui diversas franquias espalhadas no Brasil e, mesmo assim, insiste em não reconhecer a diversidade nos tons de pele da brasileira. O negro só é visto de forma ‘cuspida’ na mídia, geralmente, na época do carnaval, onde as ‘mulatas’ são exaltadas como um produto. A única exceção são os negros famosos na música, artes ou esportes, os quais têm vaga garantida em comerciais, para que demonstrem que ‘não existe preconceito no Brasil'”, destacou Juliana.
Enquanto eu redigia essa matéria, aproveitei para fazer uma enquete no blog, onde perguntei às leitoras se elas se sentiam representadas nas propagandas de TV. E até o presente momento, obtive os seguintes resultados como resposta:
52% responderam: Muito pouco, elas ainda priorizam as mulheres de cabelos lisos
39% responderam: De jeito nenhum, a maioria só têm mulheres de cabelos lisos
4% responderam: Sim, vejo bastante crespas e cacheadas em propagandas
4% responderam: Sim, mas de forma depreciativa
E você, o que acha em relação a estes resultados? Acha que as propagandas de TV te representam? E as novelas? Sua opinião é muito importante, compartilhe-a!
Georgia Pedro says:
Como sempre arrasando. Show!
Sabrinah Giampá says:
Mais uma vez, agradeço pela ajuda, Georgia! bjks
Mariana Leal says:
Olá, passei apenas pra dizer que já estou te seguindo e voltarei aqui futuramente pra fazer comentários sobre os posts.
Seu blog é maravilhoso, convido você e suas leitoras a conhecer meu blog
https://toobege.blogspot.com.br/
Beijinhos
Quem seguir no insta, sigo de volta https://instagram.com/theworldofmari
Erika Nasch says:
Oi Sah, ótimo post como sempre!
Bem, vc já deve saber minha opinião a respeito disso… eu simplesmente tenho OJERIZA à mídia, e com certeza, ela não representa o Brasil em nada.
Bjkssss
https://www.clubedocabeloecia.com.br/
tatiane mendes cesario says:
A mídia brasileira é lamentavel.
E coisa dificil é você achar na partelra de um mercado um condicionador que seja pra cabelos crespos, achar na perfumaria um pó compacto q seja escurinho… É tudo liso, tudo claro.
Naira Évine Pedra says:
Sou baiana. Aqui há uma cidade que auto intitula-se “suíça baiana”, a partir daí podemos tirar várias interpretações, cito duas principais:
1. A cidade mais fria da Bahia
2. Assim como a Suíça se acha superior dos outros países europeus, a cidade sente o mesmo diante de todo o estado por ser mais “evoluída”.
Partindo desse exemplo, eu penso que o Brasil sente o mesmo em relação a toda América Latina, tornando-a equiparada a países europeus e, principalmente, os EUA. Até DIZEM POR AÍ que o Brasil é um PAÍS EMERGENTE (Faz-me rir).
Ao mesmo tempo que o Brasil construiu sua história e “cultura”, foi também deixado claro que o LADO NEGRO DA HISTÓRIA é o lado FEIO, RUIM, MALIGNO, diferenciando-se do branco que transmite paz, bondade e tudo de melhor.
Deixa eu finalizar porque falo demais, rs. O Brasil SE ACHA branco e SE ACHA rico. Se a comunicação de massa desde sua criação foi o espelho da maioria, porque AINDA NEGAMOS A NOSSA ETNIA PREDOMINANTE E NOSSOS CABELOS NATURAIS?
Belíssimo texto, amei muito seu blog, parabééns !!! 😀
Sabrinah Giampá says:
Naira, eu concordo em gênero, número e grau com você. E o mais engraçado de tudo, é que mesmo o branco mais branco tem sangue negro no Brasil. Eu, por exemplo, sou 49% afrodescendente, segundo meu exame de sangue.