Representante do cabelo 4C em #olivrodoscachos, a youtuber Taís Eustáquio faz um trabalho de formiguinha quando trata-se de empoderamento das mulheres negras. Com a pele retinta e com um crespo tido como extremo para os padrões, ela é discriminada, inclusive, pelas próprias mulheres com este biótipo. Segundo, Taís, isso acontece devido anos de uma lavagem cerebral racista feita pela sociedade em geral e meios de comunicação, que colocam negros em posição de inferioridade. Por isso sua luta começa dentro da própria família, onde cabelo duro é sinônimo para crespo, e na pré-escola, “onde todas eram diferentes, com os cabelos que balançavam”. Triste observar que mesmo youtubers como ela são exceções: “Quem tem a pele escura como eu e cabelo 4C, geralmente não quer ser assim. Elas se inspiram em quem tem os cachos esculpidos, dentro do padrão do negro socialmente aceito, que geralmente é fruto de um relacionamento inter-racial.

 

Houve um tempo que para ser aceita, o bonito era ser lisa, depois era ter as ondas da Gisele, e agora é possível ser aceita até mesmo sendo negra. Mas para ser negra bonita você tem que ter a pele café com leite e cachos definidos e esvoaçantes, além do corpo escultural.

 

 

 

 

 

Inspiração de beleza, ela só foi encontrar lá fora, com a atriz hollywoodiana, Lupita Nyong´o e a cantora americana Jill Scott, que nos mostram ainda o quanto o mercado artístico e sociedade em geral discrimina mulheres negras que fogem do perfil Camila Pitanga e Taís Araújo. Quantas Lupitas vemos no tapete vermelho, na TV, anúncios publicitários, ou mesmo na mesa ao lado do restaurante? Por isso considero Taís Eustáquio uma inspiração para outras mulheres, e uma referência de beleza e superação. Nessa entrevista ela conta não apenas sobre sua trajetória capilar e redescoberta de seu cabelo natural, mas também sobre o quanto é difícil provar para si mesma a cada dia o quanto é possível ser linda fugindo dos padrões de beleza excludentes, mesmo com uma indústria que não te enxerga como consumidora. Como missão, ela tenta ajudar mulheres negras com o seu biótipo deixarem de ser invisíveis para si mesmas e para o mundo. E que escancarem sua abundância de melanina e crespura para o mundo!

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As pessoas almejam um cabelo além de comprido, com extremo volume, o que o 4C não proporciona. E as próprias youtubers tem uma tendência de falar muito de cachos, cachos e mais cachos, mas um crespo como o meu dificilmente tem essa definição, que é considerada perfeita. O meu mesmo, os cachos só aparecem em alguns pontos a cabeça, o que foge totalmente deste perfil.

 

 

 

Sabrinah Giampá – Quando a convidei para ser uma das modelos de O Livro dos Cachos como representante do cabelo 4C, a questionei porque haviam tão poucas youtubers com o seu tipo de cabelo, e você prontamente respondeu que era muito difícil para estas mulheres se aceitarem, e que o preconceito/racismo com o crespo sem ‘cachos tidos como perfeitos’ é tão extremo, que já havia feito até uma youtuber desistir e retornar ao permanente/alisamento. Gostaria que falasse sobre isso.

Taís Eustáquio- Com relação ao cabelo 4C e minha pele retinta é negritute. Falando da internet, eu vejo hoje, entre os influenciadores, que existe sim um preconceito em relação a nós dentro do meio, inclusive pelos leitores e seguidores. As pessoas almejam um cabelo além de comprido, com extremo volume, o que o 4C não proporciona. E as próprias youtubers tem uma tendência de falar muito de cachos, cachos e mais cachos, mas um crespo como o meu dificilmente tem essa definição, que é considerada perfeita. O meu mesmo, os cachos só aparecem em alguns pontos a cabeça, o que foge totalmente deste perfil.

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Em relação às marcas, antes de trabalhar com internet, eu sou publicitária, e por isso vivo um conflito existencial muito grande. Por um lado, eu discordo do posicionamento das marcas por não levar meninas de pele retinta e 4C ao público, mas por outro lado eu entendo que se eu sou a dona de uma empresa, ou profissional de marketing, eu preciso vender o meu produto, e como falei antes, mesmo a consumidora que tem o cabelo 4C não aceita o cabelo 4C. Por isso meu trabalho é de formiguinha.

Sabrinah Giampá- O que eu percebo aqui no blog, que quando divulgo uma transformação de uma mulher branca com cachos padrões, as curtidas são inúmeras, mas recentemente compartilhei um big chop de uma mulher negra 4C, que era muito bonita, inclusive, e as curtidas não chegaram nem na metade que tiveram as outras. Acredito que seja um reflexo desse racismo, certo?

Taís Eustáquio- Sem dúvidas, o que percebo que com o passar do tempo, a mídia nos leva a viver de nichos, de modas. Teve um momento que para você ser aceita, só com o cabelo liso, depois na sequência vieram as ondas da Gisele Bundchen, agora os cachos perfeitos. Inclusive, hoje em dia, se você quiser ser negro você pode, é até legal, desde que você tenha a pele café com leite e cachos esvoaçantes, e corpo violão, é claro. Pra homem tem que ter a barba perfeita e o estereótipo do negro viril, com barriga tanquinho. E as pessoas não são assim! Elas tem gordurinhas, cabelo curto, crespo que não balança, como o meu. O problema é que se não conseguimos nos enquadrar nesses nichos, então estamos fora da jogada. É aí que a autoestima deixa de existir. Você não se enquadra, não se sente pertencer em lugar algum.

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Várias vezes, quando estou com a Marfim (Youtuber que representou o cabelo 3C em #olivrodoscachos), ou com a May (Youtuber crespa com cachos esvoaçantes)e a gente é abordada por seguidora, esta geralmente me ignora e pergunta diretamente pra elas como ter o cabelo daquele jeito. Ninguém pergunta pra mim porque ninguém quer ter o cabelo como o meu, mesmo sendo aquele que ela leva na cabeça e no DNA.

Sabrinah Giampá – E como você percebe esta exclusão nos anúncios publicitários, na indústria cosmética e na mídia em geral?

Taís Eustáquio – Em relação às marcas, antes de trabalhar com internet, eu sou publicitária, e por isso vivo um conflito existencial muito grande. Por um lado, eu discordo do posicionamento das marcas por não levar meninas de pele retinta e 4C ao público, mas por outro lado eu entendo que se eu sou a dona de uma empresa, ou profissional de marketing, eu preciso vender o meu produto, e como falei antes, mesmo a consumidora que tem o cabelo 4C não aceita o cabelo 4C, por isso o número inferior de curtidas que você citou. E por isso o trabalho que eu faço é um trabalho de formiguinha. Posso te dar um exemplo?

Sabrinah Giampá – Claro!

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Na minha casa, hoje ainda, com a posição que tenho e tomo publicamente, o meu cabelo é considerado duro. Por isso é muito triste constatar que para vender, é mais fácil pegar uma May, uma Marfim, uma Nanda Chaves do que colocar uma menina com o meu perfil, até porque o consumidor final é racista. Negra como eu só aparece representando escravos ou em posição sócio-econômica desfavorável na TV. O racismo no Brasil é velado. Vão falar pra você: negro é lindo, mas quem representa esse negro? A Camila Pitanga e a Taís Araujo, que têm a pele mais clara, cabelo esvoaçante e o corpo que a mídia crê que toda mulher negra deve ter.

Taís Eustáquio – Várias vezes, quando estou com a Marfim (Youtuber que representou o cabelo 3C em #olivrodoscachos), ou com a May (Youtuber crespa com cachos esvoaçantes)e a gente é abordada por seguidora, esta geralmente me ignora e pergunta diretamente pra elas como ter o cabelo daquele jeito. Ninguém pergunta pra mim porque ninguém quer ter o cabelo como o meu, mesmo sendo aquele que ela leva na cabeça e no DNA. Então, só um resumo, eu acho errado, eu não me sinto representada pelas marcas hoje, mas eu entendo, sou obrigada a entender… A última foi no dia do nosso ensaio para o livro. Eu estava com a Marfim me sentindo, super bem, ótima, e uma pessoa nos parou, com um cabelo muito parecido com o meu, conversou um pouco com a Marfim e uma hora falou: “detesto ter o meu cabelo duro!” E aí, dá uma desanimada. E ela repetia para Marfim que queria ter um cabelo como o dela. A Marfim ficou muito sem graça, mas é muito nítido que a pessoa que tem o cabelo crespo fala que o cabelo é duro. Na minha casa, hoje ainda, com a posição que tenho e tomo publicamente, o meu cabelo é considerado duro. Por isso é muito triste constatar que para vender, é mais fácil pegar uma May, uma Marfim, uma Nanda Chaves do que colocar uma menina com o meu perfil, até porque o consumidor final é racista. Negra como eu só aparece representando escravos ou em posição sócio-econômica desfavorável na TV. O racismo no Brasil é velado. Vão falar pra você: negro é lindo, mas quem representa esse negro? A Camila Pitanga e a Taís Araujo, que têm a pele mais clara, cabelo esvoaçante e o corpo que a mídia crê que toda mulher negra deve ter.

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O meu objetivo com meu canal é ser a luz no fim do túnel para meninas com o meu perfil, e mostrar para as marcas que nós existimos e consumimos. Fazer eles se questionarem: Se a Taís Eustáquio tem tanto engajamento, é porque ela não é invisível, então se ela não é invisível, pode vender. Mas claro, que para nós youtubers negras de cabelo 4C é um processo muito mais difícil

Sabrinah Giampá- Você acha que isso pode mudar? Porque na verdade sua luta é muito maior, é contra um sistema, é contra o racismo que criou entranhas em nossa cultura e atua de forma velada. O que você pretende com o seu canal?

Taís Eustáquio – O meu objetivo com meu canal é ser a luz no fim do túnel para meninas com o meu perfil, e mostrar para as marcas que nós existimos e consumimos. Fazer eles se questionarem: Se a Taís Eustáquio tem tanto engajamento, é porque ela não é invisível, então se ela não é invisível, pode vender. Mas claro, que para nós youtubers negras de cabelo 4C é um processo muito mais difícil, porque primeiro temos que conquistar mulheres como nós, que passaram a vida inteira se sentindo inadequadas e não conseguem se enxergar bonitas com o cabelo crespo e curto. E sim, é um trabalho de formiguinha muito grande e tem hora que bate um cansaço. Estou com uma situação de três pessoas próximas a mim, que estão em fase de transição e pós big chop, e depois da transição e bc fizeram permanente afro ou estão pensando em fazer permanente afro. Por que? Porque não conseguem se enxergar bonitas como são de fato. Eis o meu trabalho de desconstrução deste mito da beleza. Mas nem tudo está perdido. Há 3 anos atrás, consegui fazer um trabalho empoderador com minhas cunhadas. Hoje elas amam seus crespos naturais e tenho dó de quem ousar falar em alisamento ou permanente afro perto delas (risos).

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E sim, é um trabalho de formiguinha muito grande e tem hora que bate um cansaço. Estou com uma situação de três pessoas próximas a mim, que estão em fase de transição e pós big chop, e depois da transição e bc fizeram permanente afro ou estão pensando em fazer permanente afro. Por que? Porque não conseguem se enxergar bonitas como são de fato. Eis o meu trabalho de desconstrução deste mito da beleza.

Sabrinah Giampá – Como você enxerga a falta de representatividade para mulheres negras retintas com o cabelo 4C? Você teve alguma fonte de inspiração?

Taís Eustáquio – Com relação à representividade importa muito, a Lupita Nyong´o e Jill Scott foram imagens que me ajudaram a fortalecer a autoestima em relação ao cabelo curto, mas o que eu vejo, ela tem que ser muito melhor trabalhada. A Lupita ganhou o Oscar e é considerada uma das mulheres mais bonitas hoje, mas por que? Porque ela estava num filme que falava de escravos, um filme onde ela era protagonista de uma violência, de um estupro. Eu não me recordo de uma mulher negra de pele retinta no Brasil que tenha tido uma posição de representatividade positiva. A Cris Vianna, por exemplo, é sempre símbolo sexual, o que reforça o estereótipo da mulher negra vista como mercadoria, a Juliana ex-BBB, a mesma coisa, então a gente tem essa representatividade positiva lá fora, com mulheres como a Viola Davies, mas aqui dentro não temos. Então eu reforço que a representatividade importa e que ela tem que ser melhor trabalhada para fugir destes estereótipos de inferioridade e mercadoria que sempre recaem sob a mulher negra.

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Com relação à representividade importa muito, a Lupita Nyong´o e Jill Scott foram imagens que me ajudaram a fortalecer a autoestima em relação ao cabelo curto, mas o que eu vejo, ela tem que ser muito melhor trabalhada. A Lupita ganhou o Oscar e é considerada uma das mulheres mais bonitas hoje, mas por que? Porque ela estava num filme que falava de escravos, um filme onde ela era protagonista de uma violência, de um estupro.

 

 

 

Sabrinah Giampá – Além do racismo, as mulheres negras carregam o estigma de ser um eterno objeto sexual, gostaria que falasse sobre isso e de que forma vivenciar isso impactou em sua trajetória.

Taís Eustáquio – Somos a carne mais barata do mercado aos olhos da sociedade e aos olhos do homem em geral, seja ele negro ou não. Já passei por situações assim inúmeras vezes. Na minha pós adolescência eu tinha muito isso: Não ponha a mão em mim! Os homens não entendem que você não está sexualmente disponível. Já ouvi: Como assim não quer sexo? Mulher negra é quente! Tem aquele estereótipo de que a gente é mais forte, suportamos tudo, estamos prontas para tudo. Para eles mulher negra é pra se divertir. Hoje, sou casada, mas tive pouquíssimos relacionamentos por conta disso. É muito triste e solitário.

 

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Eu não me recordo de uma mulher negra de pele retinta no Brasil que tenha tido uma posição de representatividade positiva. A Cris Vianna, por exemplo, é sempre símbolo sexual, o que reforça o estereótipo da mulher negra vista como mercadoria,então a gente tem essa representatividade positiva lá fora, com mulheres como a Viola Davies, mas aqui dentro não temos. Então eu reforço que a representatividade importa e que ela tem que ser melhor trabalhada para fugir destes estereótipos de inferioridade e mercadoria que sempre recaem sob a mulher negra.

 

Sabrinah Giampá – E como você enxerga seu cabelo hoje mesmo com toda essa pressão ao seu redor? 

Taís Eustáquio – Antes de eu aprender a cuidar do meu cabelo eu tinha um toque no cabelo que era diferente do que tenho agora, hoje eu digo que tenho um poodle preto na minha cabeça, pois acho meu cabelo super fofinho. Antes eu não deixava nem que as pessoas o tocassem, achava estranho.

Sabrinah Giampá – Como foi sua trajetória capilar? Como fez as pazes com seu cabelo natural?

Taís Eustáquio – Eu sempre fui uma criança “cabeluda” (risos). Lembro de me sentar entre as pernas da minha mãe, ela no sofá e eu no chão, para trançar os cabelos. Dona Beth, manhê para três pessoas do mundo, sempre foi muito paciente e caprichosa. Eram tranças de todos os estilos, laços de fita, enfeites e pompons. Sempre um cabelo preso, baixinho e ‘controlado’. Não que eu não gostasse, afinal foi a melhor forma que minha mãe encontrou para cuidar dos meus cabelos. Mais aí a gente cresce, aliás a gente vai para escola.

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Foi na escola que meus olhos começaram a enxergar que o cabelo das outras pessoas balançavam e o meu não, e que isso era considerado ter um cabelo bonito. No começo ficou só uma dúvida, mas com a falta de referência, acabou se tornando um objetivo de vida: eu queria que meu cabelo fosse como o de todas aquelas pessoas. Não queria ser diferente.

 

 

 

 

Sabrinah Giampá – Imagino que a escola seja mesmo um divisor de águas na autoestima de toda criança crespa. Fale sobre isso.

Taís Eustáquio – Foi na escola que meus olhos começaram a enxergar que o cabelo das outras pessoas balançavam e o meu não, e que isso era considerado ter um cabelo bonito. No começo ficou só uma dúvida, mas com a falta de referência, acabou se tornando um objetivo de vida: eu queria que meu cabelo fosse como o de todas aquelas pessoas. Não queria ser diferente. Por isso depois de muito argumentar com minha mãe, fiz meu primeiro permamente afro, com 11 anos de idade. Foi lindo! Depois de horas de aplica, lava, enxágua, bigodins, enxágua, seca, neutraliza, eu estava com o cabelo solto e cacheado! Mas a belezura não durou 6 meses. No terceiro retoque de raiz o cabelo ficou todo estranho, esticado, e o ativador não fazia mais efeito. Pra piorar o cabelo começou a quebrar todo, então não tive alternativa: voltei para as tranças. Só que o sonho do balanço perfeito não havia terminado. Um ano depois estava em busca do alisante perfeito. Provei de tudo: guanidina, hidróxido de sódio, amônia. Isso sem contar a fase do pente quente e da chapinha, que não é essa da tomada não! Esquentávamos na boca do fogão mesmo! Também já fui prova de teste de hene, touca de gesso… tudo que você pode imaginar. O cabelo chegava no resultado que eu queria, e alguns meses depois, desandava. E lá vai a Taís recorrer às tranças, lace wigs, esperar o cabelo crescer e partir para a próxima química.

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Provei de tudo: guanidina, hidróxido de sódio, amônia. Isso sem contar a fase do pente quente e da chapinha, que não é essa da tomada não! Esquentávamos na boca do fogão mesmo! Também já fui prova de teste de hene, touca de gesso… tudo que você pode imaginar. O cabelo chegava no resultado que eu queria, e alguns meses depois, desandava. E lá vai a Taís recorrer às tranças, lace wigs, esperar o cabelo crescer e partir para a próxima química.

Sabrinah Giampá – E no meio de tantas torturas, nunca teve vontade de jogar tudo pro alto e encarar o natural?

Taís Eustáquio- Quase sempre. Entre uma transição e outra eu me pegava com essa ideia, mas logo vinha outra em mente: – Ele quebra demais, é poroso, sem vida. Me lembro da minha mãe me falar: “Seu cabelo tá cinza, Tatá”, se referindo ao ressecamento extremo do fio. Mas para o crespo, até os tratamentos vinham disfarçados de química, e em 2011 parti ao Rio de Janeiro rumo ao próximo milagre prometido. Sim, tinha caravana pra isso, tudo em busca do que diziam que seria minha beleza natural. E foi como sempre. Tudo lindo de início, e meses depois: a tragédia. Exausta de tantos gastos, sofrimento e frustração, decidi encarar o Big Chop.

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Mas para o crespo, até os tratamentos vinham disfarçados de química, e em 2011 parti ao Rio de Janeiro rumo ao próximo milagre prometido. Sim, tinha caravana pra isso, tudo em busca do que diziam que seria minha beleza natural. E foi como sempre. Tudo lindo de início, e meses depois: a tragédia. Exausta de tantos gastos, sofrimento e frustração, decidi encarar o Big Chop.

Sabrinah Giampá – E como foi?

Taís Eustáquio – Acordei num sábado decidida, liguei para o salão que eu conhecia e fui. Cortei tudo. Sobre esse primeiro BC, vale falar aqui que eu não estava preparada. Foi um grande arrependimento. Me sentia feia, não me senti feminina. Então como corrigir? Alongamento. Eu sempre, sempre, sempre fui contra o megahair/alongamento. Eu ficava pensando de onde vinha aquele cabelo, talvez de um defunto. Coisas de Taís (risos). Mas a vergonha de mim mesma era tanta que eu comprei os cabelos e fiz a pior das burradas da minha história capilar.

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Acordei num sábado decidida, liguei para o salão que eu conhecia e fui. Cortei tudo. Sobre esse primeiro BC, vale falar aqui que eu não estava preparada. Foi um grande arrependimento. Me sentia feia, não me senti feminina. Então como corrigir? Alongamento.

Sabrinah Giampá- O que aconteceu?

Taís Eustáquio – Aparentemente estava tudo lindo, e apesar de me sentir desconfortável com o cabelo ( doía demais, pareciam micro agulhinhas na minha cabeça) eu achei que era normal, adaptação. Porém com 2 meses de uso do entrelaçamento, tirei para manutenção e descobri que tinham buracos! Não, não eram simples falhas, e sim buracos por toda a cabeça! A tração das tranças tirou os fios pela raiz. Foi desesperador. Havia perdido a minha muleta. Dali em diante seria eu e meu cabelo curto e crespo. Foi então que fui procurar referências. Precisava ver uma negra com um crespo curto, bonita, para que pudesse acreditar que seria possível ser bonita assim, como eu realmente era. Pesquisei, busquei cortes diferentes, mas foi bastante difícil. Precisei também de ajuda médica para os cabelos perdidos voltarem a crescer, e já estou conseguindo conter essa queda. Black rumo ao céu!

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Aparentemente estava tudo lindo, e apesar de me sentir desconfortável com o cabelo ( doía demais, pareciam micro agulhinhas na minha cabeça) eu achei que era normal, adaptação. Porém com 2 meses de uso do entrelaçamento, tirei para manutenção e descobri que tinham buracos! Não, não eram simples falhas, e sim buracos por toda a cabeça! A tração das tranças tirou os fios pela raiz. Foi desesperador. Havia perdido a minha muleta.

 

 

Sabrinah Giampá – Qual foi o maior desafio de ficar sem a muleta do mega hair?

Taís Eustáquio – Um dos pontos que me levou a colocar o mega hair quando eu fiz, foi meu relacionamento. Estava iniciando meu relacionamento com o Luis, com quem moro hoje. Ficava na indecisão de colocar uma trança ou alguma coisa. Daí uma vez ele soltou: – Gosto tanto de cabelo comprido! Puts, pra que ele foi falar isso! Se minha insegurança estava no nível hard, foi para o nível extreme, na hora. E aí me levou a essa decisão. O tempo passou, comecei a ler, me aceitar, e cansei. Daí ele voltou no tema: – Não vai pôr cabelo? Mas já era outra Taís ali, a Taís empoderada, então eu joguei a real: Não vou, e aí? E estamos juntos até hoje. Mas a questão do relacionamento pega bastante para a maioria das mulheres negras, pois na maioria das vezes sentimos que precisamos daquele cabelo falso para sermos amadas. A pressão maior é o que as pessoas vão pensar? O que o meu parceiro vai pensar? Não é fácil. Por isso a foto da cacheada bomba de curtida e a sua não.

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Um dos pontos que me levou a colocar o mega hair quando eu fiz, foi meu relacionamento. Estava iniciando meu relacionamento com o Luis, com quem moro hoje. Ficava na indecisão de colocar uma trança ou alguma coisa. Daí uma vez ele soltou: – Gosto tanto de cabelo comprido! Puts, pra que ele foi falar isso! Se minha insegurança estava no nível hard, foi para o nível extreme, na hora.

 

 

 

Sabrinah Giampá – Dizer que o cabelo crespo natural dá mais trabalho que o quimicado é um mito? Explique o porquê.

Taís Eustáquio – Mito Sah. Sempre adorei cuidar do cabelo. Natural ou não eu hidrato semanalmente, a noite aplico algum óleo vegetal antes de dormir, evite pentes, corto duas vezes por ano para aparar as pontinhas. Se eu pudesse voltar no tempo eu voltaria para aquele primeiro permanente afro que eu fiz. Porque meu cabelo era um cabelo muito comprido, saudável. Usaria trança sim, porque eu gosto do meu cabelo, mas quando quero mudar eu alterno pra trança ou penteado afro. E esta sou eu, indo sempre contra o fluxo.

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