Conheci a Bru em 2014, na Garagem dos Cachos, com 21 anos, onde chegou timidamente querendo se livrar da progressiva em doses homeopáticas, pois como a maioria das mulheres, estava apavorada em lidar com a textura natural que desconhecia. Para alegria geral, o ‘monstro oculto’ se revelou um ondulado maravilhoso, e hoje brinco que ela é meu ‘case de sucesso’. Digo isso porque além da questão do empoderamento que assumir o cabelo ondulado lhe proporcionou, ela se transformou numa youtuber de sucesso,  e aos 23 anos, atrai mais e mais seguidoras que se espelham em suas rotinas de cuidados para  assumirem suas ondas naturais e serem felizes consigo mesmas. E claro, não poderia deixar de convidá-la para ingressar o time de youtubers convidadas para #olivrodoscachos, onde representa o ondulado 2C. Nesta entrevista, ela compartilha sua história aqui com a gente. Além do canal do youtube, ela tem uns instablog, é fotógrafa e estilista.

cabelo ondulado natural

Na Garagem dos Cachos pela primeira vez após seu semi-big chop. Ondas emergindo…

 

Sofria muito bullying na escola (onde praticamente só tinha meninas de cabelo liso) por causa do cabelo, por ser muito magra e feia rs (e usava aparelho ainda por cima). Implorava para minha mãe deixar eu alisar, mas ela não deixava. Só consegui isso aos 13, após muita insistência

 

 

 

 

 

Sabrinah Giampá- Quem te vê agora no youtube, ostentando seu cabelo ondulado natural maravilhoso, nem imagina que sua relação com ele nem sempre foi assim. Conta pra gente como era  na sua infância e adolescência. Você sempre foi ondulada, ou como a maioria, também teve a fase lisa? 

Bru Serrano – Quando eu era criança, meu cabelo era liso e minha mãe cortava tijelinha rs Por volta dos meus 6 anos o meu cabelo começou a ondular e ficar bem volumoso e sem definição, já que eu penteava ele a seco. Minha pré-adolescência foi bem complicada em relação à minha autoestima no geral, e o cabelo só piorava a situação. Sofria muito bullying na escola (onde praticamente só tinha meninas de cabelo liso) por causa do cabelo, por ser muito magra e feia rs (e usava aparelho ainda por cima). Implorava para minha mãe deixar eu alisar, mas ela não deixava. Então eu só andava com meu cabelo preso num rabo de cavalo baixo (e horrível). Eu lavava o cabelo e muitas vezes já prendia com ele molhado mesmo, para que secasse com o volume controlado. Só deixava solto quando estava na praia, tirando isso era sempre preso. Na escola, para me zoar, as pessoas tentavam arrancar o elástico do meu cabelo para que eu ficasse constrangida com o cabelo solto. Era uma guerra com o meu cabelo, eu o odiava. Ele sempre foi bem comprido, e as pontas (no rabo) formavam cacho largos, mas a raiz era muito ressecada, frizada e sem forma. Aos 13 anos, minha mãe deixou eu alisar, depois de muita insistência. Como eu gostava dos cachos largos das alisei só a parte da raiz até a altura do rosto. Então ficou aquele cabelo lindo liso com cachos nas pontas. Aí conseguia me sentir mais aceita socialmente, e me sentir mais confortável com a minha imagem. Com o tempo, a raíz foi virando pontas, e eu fui perdendo os cachos. Então passei a alisar todo o cabelo, e foi assim dos 13 aos 21 anos.

cabelo ondulado natural

Os cabeleireiros sempre disseram que eu tinha muito cabelo, que ele era muito volumoso e difícil de alisar, embora fosse a única alternativa que me davam. No início eu fazia relaxamento e depois progressiva. Como os produtos foram se aperfeiçoando, com o passar do tempo só a progressiva era suficiente. Comecei com a comum, depois fui para a inteligente. Fui escrava disso durante 8 anos.

Sabrinah Giampá – E como foi o processo com os alisamentos?

Bru Serrano – Os cabeleireiros sempre disseram que eu tinha muito cabelo, que ele era muito volumoso e difícil de alisar, embora fosse a única alternativa que me davam. No início eu fazia relaxamento e depois progressiva. Como os produtos foram se aperfeiçoando, com o passar do tempo só a progressiva era suficiente. Comecei com a comum, depois fui para a inteligente. Fui escrava disso durante 8 anos. Retocava a raiz de 2 em 2 meses ou quando tinha alguma viagem, pois meu cabelo sempre cresceu muito rápido. Passava por todo aquele sofrimento de passar horas no salão com uma toalha no rosto, e saía de lá com a rinite atacada e os olhos ardendo. Uma vez o cabeleireiro passou uma quantidade muito grande de produto, encharcou minha raiz e eu sai do salão passando mal, com o estômago ardendo. Foi a única vez que eu me senti preocupada mesmo com os danos que aquela química podia fazer ao meu corpo, me assustei. Mas o sacrifício sempre valia a pena para ter o cabelo dentro do padrão. Com o tempo, parecia que a química já não fazia tanto efeito, e mesmo retocando a raiz com frequência, o cabelo nunca estava liso o suficiente. Então eu passava cerca de 2 horas secando e passando chapinha todos os dias, pois minha raiz se tornou extremamente oleosa, e eu tinha que lavar o cabelo todos os dias. Aquilo me estressava demais. Ter que passar tanto tempo dentro do banheiro, aquele esforço todo, no calor então, era um tormento. Quando tinha algum compromisso tinha que começar a me arrumar horas antes para dar tempo de sair com o cabelo lindo e liso. Até quando viajava para praia, levava o secador e a chapinha, ficava as 2 horas alisando, para sair, suar e desmanchar tudo. Por volta dos meus 18 anos, eu que sempre tive cabelo bem comprido, resolvi cortar mais curto, um pouco além da altura dos ombros e um corte todo repicado. Quando fiz o corte, a minha raiz estava um pouco grande, então o cabelo deu uma boa ondulada. Tentei então usar ele natural. Mas na época não tinha a MENOR informação e conhecimento. Comprei um creme de pentear e um umidificador de cachos, mas não sabia nada sobre finalização, e como ele também não estava 100% natural eu não conseguia arrumar direito. Eu passava os produtos, ficava legal, mas quando secava, ficava meio sem forma. Passei poucos meses assim, perdi a paciência e logo voltei a alisar.

cabelo ondulado natural

 

Uma vez o cabeleireiro passou uma quantidade muito grande de produto, encharcou minha raiz e eu sai do salão passando mal, com o estômago ardendo. Foi a única vez que eu me senti preocupada mesmo com os danos que aquela química podia fazer ao meu corpo, me assustei. Mas o sacrifício sempre valia a pena para ter o cabelo dentro do padrão.

 

 

 

 

Sabrinah Giampá – O que te fez querer parar com as químicas, abrir mão do liso perfeito e encarar o natural?

Bru Serrano – Depois de mais uma temporada alisando, cheguei aos meus 20 anos e não aguentava mais aquela rotina maçante de escovar e passar chapinha, me privar de coisas por causa do meu cabelo. Resolvi parar de alisar e procurar uma alternativa para meu cabelo. Fiquei 7 meses sem química e fui pesquisando: mega hair, permanente… foi então que me apareceu no facebook uma sugestão de grupos: No/low poo e Amigas onduladas. Entrei nos dois e descobri o universo do cabelo natural.Nesses grupos, aprendi quase tudo do que sei hoje, e descobri que meu cabelo era ondulado. Descobri que estava há 7 meses em transição, sem nem saber. Postei uma foto do meu cabelo nos grupos, pedindo ajuda, e me disseram que eu precisava cortar a parte alisada, e me indicaram você! Te mandei mensagem, perguntando se meu cabelo tinha algum jeito. E você respondeu que sim, que era apenas cortar, e que sim, ele era ondulado. Marquei um horário, toda animada. Na verdade, eu ainda estava desconfiada rs pois não acreditava no potencial do meu cabelo. Mas fui esperançosa. Chegando na Garagem dos Cachos, disse que queria cortar no máximo uns 4 dedos. Estava insegura em cortar tudo, na verdade, não pelo medo de ficar curto, pois eu não ligo muito. Mas eu tinha medo de cortar e depois não conseguir usar ele natural, medo dele não definir, pois eu ainda estava com o pé atrás de que aquilo daria certo rs. Você fez um chanel de bico em camadas, cortou os 4 dedos combinados, e meu cabelo se transformou. Mesmo com um pouco de química nele ainda (pois foi um semi big chop), eu sai de lá me sentindo a cacheada kkk pois nunca tinha visto meu cabelo com aquela definição (que vendo hoje, nem estava tanto assim rs). Ele ficou um 2b no momento.

transicao

Transição

Sabrinah Giampá- O que o big chop mudou na sua vida?

Bru Serrano – A partir daquele momento minha vida mudou completamente. Iniciou uma fase de autoconhecimento, que não tenho nem palavras para descrever. Eu não me arrependi nem me senti insegura com a minha decisão em nenhum momento. A cada dia era uma descoberta, era um estreitamento na relação entre eu e meu cabelo. Nascia um caso de amor mesmo. Um resgate de identidade, um resgate das raízes, um resgate de um amor próprio que, na verdade, nunca havia existido. Eu sempre tive baixa autoestima, e por mais que eu me achasse bonita de cabelo liso, não existia esse amor próprio, pois eu queria na verdade a aceitação e aprovação dos outros, o amor dos outros. Assumir meu cabelo me deu forças, me deu segurança, me deu amor próprio, me deu autoconhecimento, empoderamento, te tornou muito mais forte. Mudou completamente a minha relação com as outras pessoas, principalmente relações amorosas. Me sentia também mais forte para conquistar meus objetivos. Parece loucura dizer que uma transformação de cabelo mudou tudo isso na minha vida, mas só quem passa por isso sabe. Percebi como aquele cabelo era verdadeiramente meu, como combinava comigo, como me pertencia, como era único. Foi o que você me disse quando saí da garagem pela primeira vez ”Esse cabelo é seu, e é lindo”. Aquilo resumia tudo. Percebi como passei anos tentando me enquadrar no padrão, apenas para deixar de sofrer bullying, apenas para ser aceita socialmente. Eu adorava meu cabelo enorme e liso, achava que combinava comigo, muita gente que me conheceu depois das químicas achava que meu cabelo era liso natural. Mas o meu cabelo natural combinava ainda mais, me trazia infinitamente mais identidade, era muito mais meu e muito mais eu.

cabelo ondulado natural

Eu sempre tive baixa autoestima, e por mais que eu me achasse bonita de cabelo liso, não existia esse amor próprio, pois eu queria na verdade a aceitação e aprovação dos outros, o amor dos outros. Assumir meu cabelo me deu forças, me deu segurança, me deu amor próprio, me deu autoconhecimento, empoderamento, te tornou muito mais forte. Mudou completamente a minha relação com as outras pessoas, principalmente relações amorosas. Me sentia também mais forte para conquistar meus objetivos. Parece loucura dizer que uma transformação de cabelo mudou tudo isso na minha vida, mas só quem passa por isso sabe.

Sabrinah Giampá- Como surgiu o instablog e canal do youtube?

Bru Serrano – Após assumir meu cabelo e iniciar essa fase maravilhosa de autoconhecimento e empoderamento, eu recebi um retorno muito positivo de todos a minha volta. Como muitos não imaginavam que meu cabelo não era liso natural, ficaram surpresos e achando que eu tinha feito algum processo químico para cachear. Então surgiram muitos interessados em saber, passei a receber muitas mensagens de pessoas querendo saber o que eu fiz para cachear, outros que sabiam que eu alisava, queriam saber como fazia para cuidar, onde cortei, etc. As mensagens começaram a surgir de amigas e familiares, de conhecidas e passou a vir de desconhecidas também. Depois de responder muitas mensagens, que eram sempre com as mesmas perguntas, resolvi criar uma conta no instagram, para colocar todas essas informações lá. Assim todos poderiam ver, e eu não precisaria responder uma por uma, e poderia até chegar a outras pessoas. Naquele momento, a minha intenção não era me tornar youtuber, nem nada disso. Era apenas facilitar a transmissão da informação às interessadas. E uma foi indicando para outra, foram surgindo outras seguidoras, e assim o meu “Instablog” foi crescendo e eu me envolvendo mais com aquilo, pois minha intenção sempre foi ajudar a passar informação. Informação é algo que eu nunca tinha tido, e se tivesse, não teria passado por toda essa guerra com meu cabelo. Então para mim é muito gratificante poder ajudar e informar outras meninas. Seis meses depois criei o canal no youtube, pois as meninas me pediam para explicar como eu finalizava meu cabelo, o que era no/low poo, coisas que ficavam difíceis serem explicadas só em texto ou foto, em vídeo facilitaria bastante. Hoje são mais de 18 mil pessoas me acompanhando no Insta e 14 mil no youtube, porém meu objetivo continua o mesmo: ajudar a passar informação e conhecimento, para que mais pessoas possam se assumir e se empoderar como aconteceu comigo. Para que eu possa contribuir na vida delas e mostrar que o cabelo delas tem jeito sim, e que esse processo leva ao auto conhecimento e o resgate do amor próprio.

julho2016

Sabrinah Giampá – Você acredita na democratização da beleza, das mulheres se amarem com o cabelo que nasceu com elas, sem criar uma dependência de químicas agressivas e escovas? Que mensagem você gostaria de transmitir com o seu canal?

Bru Serrano – Acredito totalmente na democratização da beleza, nós nascemos com o cabelo que mais combina com a gente, que mais reflete nossa identidade e raízes, e amá-lo e fazer as pazes com ele faz com que a gente se ame mais. E não existe nada que nos faça melhor que o amor próprio, ele nos traz segurança com a nossa imagem e empoderamento, e isso reflete em todas as outras áreas da nossa vida.

cabelo ondulado natural

 

Hoje são mais de 18 mil pessoas me acompanhando no Insta e 14 mil no youtube, porém meu objetivo continua o mesmo: ajudar a passar informação e conhecimento, para que mais pessoas possam se assumir e se empoderar como aconteceu comigo. Para que eu possa contribuir na vida delas e mostrar que o cabelo delas tem jeito sim, e que esse processo leva ao auto conhecimento e o resgate do amor próprio.

 

 

 

Sabrinah Giampá- Acredita que o cabelo ondulado é o mais difícil de finalizar? Por que? Como costuma cuidar do seu cabelo para que ele fique sempre com ondas marcadas?

Bru Serrano – Sim, com certeza. Acho que é tanto mais difícil de finalizar, quanto difícil de ser identificado, isso que torna a relação das onduladas com seus cabelos bem difícil. Uma vez sabendo que seu cabelo é ondulado tudo fica mais fácil, e claro, tendo acesso a informação de como cuidar dele. A finalização para mim é o ponto principal, a fitagem faz meu cabelo ficar bem definido. E o que é bem importante também é o cuidado com hidratação/nutrição, pois o cabelo saudável e hidratado fica definido com mais facilidade, enquanto aquele cabelo que está ressecado tende a ficar volumoso e sem forma. Nisso o low poo contribui muito também.

cabelo ondulado natural

 

 

Acredito totalmente na democratização da beleza, nós nascemos com o cabelo que mais combina com a gente, que mais reflete nossa identidade e raízes, e amá-lo e fazer as pazes com ele faz com que a gente se ame mais. E não existe nada que nos faça melhor que o amor próprio, ele nos traz segurança com a nossa imagem e empoderamento, e isso reflete em todas as outras áreas da nossa vida.

 

 

Sabrinah Giampá- Que dica você daria para onduladas que vivem em guerra com o próprio cabelo e acham que a escova e chapinha ainda são melhores opções?

Bru Serrano – A minha dica é: dê uma chance para o seu cabelo. Se você alisa a muito tempo, provavelmente você nem conhece o seu cabelo de verdade (como eu não conhecia). Praticamente toda ondulada teve as mesmas experiências traumáticas com o seu cabelo, sempre achou que ele era um ”liso estranho”, um ”liso volumoso”, um ”liso rebelde”, os cabeleireiros sempre disseram que o único jeito era alisar, que não podia cortar curto senão ia armar. Hoje, com informação de fácil acesso e muito mais opções de produtos vai ser muito mais fácil cuidar e se entender com o seu cabelo, então dê uma chance de conhecê-lo, e ver como ele é naturalmente lindo e único. Mas claro, o importante é você se amar e se sentir bem, como for.

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