agora-2

Embora aparente ter 16 anos de idade, Aline França está no auge dos seus 26 anos! Mas não se engane! Por trás do rosto de menina, há uma mulher forte e empoderada, que embora tenha tido sua autoestima mutilada na infância, como 99,9% das mulheres negras, deu a volta por cima, e hoje ostenta seu crespo com orgulho. Consciente que é mais do que algo estético, hoje ela ajuda muitas mulheres a se amarem como são, e não ter uma visão distorcida da própria imagem, como se o cabelo crespo fosse um defeito. Ela sabe que todo crespo é lindo e merece ser contemplado, independentemente do racismo de nossa sociedade. Com apenas 5 anos de idade teve seu primeiro contato com ele, e infelizmente, não parou por ali. Por isso seu blog vem com esta missão, afinal: “Só quem passa ou passou por tudo isso tem ideia do quanto dói”. Aline é uma das youtubers convidadas para o #projetosecretodoscachos, ela ilustra o crespo 4A com muito orgulho, e se tornou referência de beleza para todas nós. Espero que amem esta entrevista como eu amei.

cabelos-relaxados-desde-crianca

Comecei com químicas relaxantes com apenas seis ou sete anos de idade. Na época, lançaram um ‘relaxamento para crianças’, e como eu não deixava minha mãe pentear o meu cabelo, pois doía muito, ela acabou relaxando. Eu nunca tive problemas em ter o cabelo cacheado, mas tinha pavor do volume do meu cabelo.

Sabrinah Giampá- Você sempre usou o seu cabelo crespo natural ou também foi adepta de químicas? Conte sobre sua trajetória capilar e relação com o cabelo, da infância aos dias atuais.

Aline França – Comecei com químicas relaxantes com apenas seis ou sete anos de idade. Na época, lançaram um ‘relaxamento para crianças’, e como eu não deixava minha mãe pentear o meu cabelo, pois doía muito, ela acabou relaxando. Eu nunca tive problemas em ter o cabelo cacheado, mas tinha pavor do volume do meu cabelo. Por anos sofri com piadinhas e apelidos na escola, o que só fez a minha autoestima diminuir. Na adolescência, além do relaxamento eu só viva com o cabelo preso. Era minha forma de escondê-lo e tentar evitar as piadas, o que obviamente não acontecia. Eu lembro de sempre achar cabelos cacheados bonitos, mas eu não sabia lidar com o meu cabelo, não finalizava da forma correta, penteava quando não deveria, tudo isso contribuía para que ele não ficasse bonito e para que eu achasse que meu cabelo dava muito trabalho. Aos 21 anos, depois de incontáveis relaxamentos e duas situações em que a cabeleireira alisou a raiz do meu cabelo, eu decidi que iria descobrir como era o meu cabelo de verdade. Deixei o cabelo crescer por um ano e meio, fiz o meu big chop e comecei a me apaixonar pelo meu cabelo natural.

quando-o-relaxamento-alisou-meu-cabelo-2

Ainda com relaxamento

Por anos sofri com piadinhas e apelidos na escola, o que só fez a minha autoestima diminuir. Na adolescência, além do relaxamento eu só viva com o cabelo preso. Era minha forma de escondê-lo e tentar evitar as piadas, o que obviamente não acontecia.

Sabrinah Giampá- Assumir o cabelo natural é um ato político e de empoderamento feminino?

Aline França – Com certeza assumir o cabelo crespo é um ato político e de empoderamento feminino. Se descobrir linda apesar dos rótulos que a sociedade nos impõe é empoderador e sair pelas ruas com seu crespo para cima é de uma certa forma um afrontamento. Muita gente preconceituosa não entende como podemos achar os nossos cabelos bonitos, mas independente da opinião delas estamos ali, nos orgulhando das nossas raízes. Com o tempo, percebemos que assumir nossos cabelos deixou de ser algo apenas estético e passou a ser algo muito maior.

em-transicao

Aline em transição

Eu lembro de sempre achar cabelos cacheados bonitos, mas eu não sabia lidar com o meu cabelo, não finalizava da forma correta, penteava quando não deveria, tudo isso contribuía para que ele não ficasse bonito e para que eu achasse que meu cabelo dava muito trabalho. Aos 21 anos, depois de incontáveis relaxamentos e duas situações em que a cabeleireira alisou a raiz do meu cabelo, eu decidi que iria descobrir como era o meu cabelo de verdade.

Sabrinah Giampá – Já sofreu preconceito por conta do cabelo natural. Como mulher negra já passou por alguma situação de racismo? Comente.

Aline França – Infelizmente eu já enfrentei algumas situações de racismo, muitas de racismo velado e algumas mais explícitas. A primeira lembrança que tenho de racismo foi aos 5 anos. Eu estava entrando em uma escola nova e a professora me pediu para ir para a sala enquanto ela conversava com a minha mãe. O ano letivo já havia começado e as turmas já estavam formadas. Então, quando eu entrei, uma menina começou a gritar todo tipo de palavrão direcionado a mim. Eu não lembro exatamente as palavras que ela usou, mas naquele momento eu sabia que ela estava fazendo aquilo por causa da minha cor. Lembro que algumas palavras eram sobre isso. Também lembro que meu comportamento mudou completamente depois daquele dia, eu passei de uma menina alegre e falante para alguém que não abria a boca em sala de aula, que não queria ser notada, isso só foi mudar aos 9 anos.

big-chop

Após o big chop: livre!

Deixei o cabelo crescer por um ano e meio, fiz o meu big chop e comecei a me apaixonar pelo meu cabelo natural(…)Se descobrir linda apesar dos rótulos que a sociedade nos impõe é empoderador e sair pelas ruas com seu crespo para cima é de uma certa forma um afrontamento(…) Com o tempo, percebemos que assumir nossos cabelos deixou de ser algo apenas estético e passou a ser algo muito maior.

Sabrinah Giampá – Imagino que esse tipo de situação, lamentavelmente não ficou apenas em sua infância…

Aline França – Há alguns anos atrás passei por outra situação constrangedora. Eu estava em uma loja de cosméticos, sendo seguida pelas vendedoras, como sempre acontece, e olhando os produtos, as novidades. Ao passar por um dos corredores, lembro de ouvir uma vendedora falando para a outra “acho que essa aí está roubando”. Na hora, eu pensei que poderia ser coisa da minha cabeça, tomei consciência que não era mas pensei, se eu a confrontar, ela vai desmentir, vou passar por louca, não tem ninguém por perto para confirmar minha versão. Até hoje penso nisso, em como eu poderia ter agido diferente, me culpo por não ter feito nada, mas saí da loja imediatamente e nunca mais voltei.

fazendo-low-poo

A primeira lembrança que tenho de racismo foi aos 5 anos. Eu estava entrando em uma escola nova e a professora me pediu para ir para a sala enquanto ela conversava com a minha mãe(…) Uma menina começou a gritar todo tipo de palavrão direcionado a mim. Eu não lembro exatamente as palavras que ela usou, mas naquele momento eu sabia que ela estava fazendo aquilo por causa da minha cor.

Sabrinah Giampá- Dizer que o cabelo natural dá mais trabalho que o quimicado é um mito? Explique o porquê.

Aline França – Para mim é um mito bem grande. Eu nunca fui escrava da chapinha ou do secador, mas era do relaxamento. A cada quatro meses eu precisava ir ao salão para relaxar o meu cabelo. Passava horas por lá, com aquela química fortíssima, e como resultado, meu cabelo ficava opaco e até perdia parte da pigmentação. Hoje em dia, eu só preciso ir ao salão para cortar as pontas, não fico neurótica achando que meu cabelo está estranho e nem gasto com tratamentos e procedimentos químicos. Agora eu lavo o meu cabelo duas vezes na semana, hidrato durante o banho e fico com o cabelo lindo, sem nem precisar revitalizar nos outros dias.

agora

Sabrinah Giampá- Por que criou o canal e qual a mensagem que pretende passar para as suas seguidoras?

Aline França – Eu criei o canal com a intenção de ajudar pessoas que já passaram pelas mesmas situações que eu. Pessoas que em algum momento não se acharam bonitas, pessoas que enfrentaram o bullying e o racismo no colégio, pessoas que por não saberem a forma correta de cuidar dos seus cabelos, achavam que seria impossível usar seu cabelo natural. Muitas meninas que possuem o cabelo crespo e cacheado tem uma visão distorcida de si mesmas, e eu quero conseguir tirar essa venda que distorce a autoimagem delas. Porque só quem passa ou passou por tudo isso tem ideia do quanto dói.

Siga a Aline:

Blog: www.alinefranca.com
Canal: www.youtube.com/alinefrancablog
Insta: @aline_franca
Facebook: www.facebook.com/alinefrancablog

retranca_cachos

Gostou da entrevista da Aline? Quer conhecer outra youtuber participante do #projetosecretodoscachos? Clique aqui! Quer ler outras entrevistas? Clique aqui!

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

<a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

Comentários no Facebook