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Leonardo Gomes chama atenção por onde passa devido ao impacto causado pelo cabelão cacheado, que já fala por si só. Volumoso e bem tratado, é motivo de inspiração para as mulheres em geral: “Nas lojas de produtos especializados elas ficam LOUCAS. Teve uma que até brincou uma vez: -Tu não vai embora não? Olhando pro teu cabelo não consigo trabalhar!”.

Nos vários grupos específicos para cabelos cacheados, em que participa no facebook, causa frisson a cada foto postada, mas garante: “Não é fácil ser homem de cabelo longo no Brasil”.

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Lidar com o machismo de um lado e o racismo do outro sempre foi rotina para este porto alegrense de 21 anos. Já aos cinco anos, a avó paterna mal dava tempo de um cachinho se formar por completo e logo recorria à tesoura contra a vontade do menino. E pelo visto, ele já superou esta fase.

‘Surfista de internet’ como ele próprio se autodenomina, aprendeu tudo sobre como cuidar dos cachos, e principalmente, adquiriu conhecimento de sobra para colocar o preconceito sofrido em último plano na sua vida: ”Nem sempre o preconceito é uma questão de má índole. As pessoas são moldadas pelo meio ambiente, e se lhes faltam perspectivas sobre a realidade é por falta de recursos e referências, e pra mim, o melhor jeito de transpor esse tipo de barreira é tendo paciência e ensinando”.

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“Acho que meu truque é ficar jogando o cabelo pra um lado e pro outro, assim ele fica sempre com volume (risos).”

Sabrinah Giampá – A primeira pergunta que não quer calar: Cara, que cabelo é esse?!? Há quanto tempo cultiva esses cachos? Como faz para os manter assim tão bonitos? Tem algum truque especial?

Leonardo Gomes: Então Brasil, é uma loucura mesmo. Mantenho os fios longos desde 2008. Em geral, faço hidratação ou nutrição todo fim de semana, mas ultimamente ando bem preguiçoso, e acabo caprichando mais na finalização, fazendo fitagem com bastante calma. Xampu eu uso só nos dias de hidratação, daí uso com sulfato, já que a maioria dos produtos que uso tem parafina líquida. Eu costumava ter uma rotatividade maior de produtos, mas agora estacionei com o condicionador e leave-in da linha cachos da TRESemmé. Também me apaixonei pelo condicionador de coco e algodão da Phytoervas, que gosto de usar depois da hidratação. Acho que meu truque é ficar jogando o cabelo pra um lado e pro outro, assim ele fica sempre com volume (risos).

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“Eu fui criado pela minha avó paterna desde os cinco anos, e ela sempre me obrigou a cortar o cabelo. Meu cabelo demora um pouco pra formar cachos quando cresce, então eu passo pela fase ‘capacete’, e ela achava hor-ri-vel. Só aos quatorze anos, quando fui morar com minha mãe, que descobri que tinha cachos, e fui deixando crescer ao natural.”

Sabrinah Giampá – Você sempre assumiu os cachos ou também já foi escravo de alisamentos e afins? Comente sobre seu histórico capilar, da infância até os dias atuais.

Leonardo Gomes: Eu fui criado pela minha avó paterna desde os cinco anos, e ela sempre me obrigou a cortar o cabelo. Meu cabelo demora um pouco pra formar cachos quando cresce, então eu passo pela fase ‘capacete’, e ela achava hor-ri-vel. Só aos quatorze anos, quando fui morar com minha mãe, que descobri que tinha cachos, e fui deixando crescer ao natural. Nunca me senti mal por conta dele ser volumoso, nem fiz progressiva. Meu primeiro alisamento com prancha também foi mais tarde, lá pelos 17 anos. Na época até curti, mas logo que senti que ia ficar escravo de um habito, já larguei de mão. Nessa época, adquiri acesso à internet e comecei a pesquisar sobre melhores métodos de cuidar do meu tipo de cabelo.

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“Nunca me senti mal por conta dele ser volumoso, nem fiz progressiva. Meu primeiro alisamento com prancha também foi mais tarde, lá pelos 17 anos. Na época até curti, mas logo que senti que ia ficar escravo de um habito, já larguei de mão. Nessa época, adquiri acesso à internet e comecei a pesquisar sobre melhores métodos de cuidar do meu tipo de cabelo.”

Sabrinah Giampá- Você já sofreu preconceito por assumir os cachos, ou até mesmo por manter os fios compridos? Comente. O que é maior nesta esfera: o racismo ou o machismo?

Leonardo Gomes: Já sofri sim. Percebo que homens em geral ficam claramente ofendidos quando se deparam com um homem com os cabelos compridos. Eles dizem pra eu tomar jeito de homem, coisas do tipo. Nessa hora, o machismo impera, querendo ditar o que é ou não ser homem, coisa também já experimentada por mim de outras formas, desde a infância, junto com racismo.

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“Percebo que homens em geral ficam claramente ofendidos quando se deparam com um homem com os cabelos compridos. Eles dizem pra eu tomar jeito de homem, coisas do tipo. Nessa hora, o machismo impera, querendo ditar o que é ou não ser homem, coisa também já experimentada por mim de outras formas, desde a infância, junto com racismo.”

Sabrinah Giampá- O que você acha da cultura do cabelo longo e liso que impera no Brasil?

Leonardo Gomes – A primeira vez que alisei meus cabelos com a prancha foi por sugestão da minha cabeleireira, logo após um corte de cabelo. Imagino que ela não soubesse finalizar cabelos de outras formas, o que declara uma deficiência na formação profissional dela, coisa que noto em vários salões, pois muitos deles são sabem lidar com cabelos crespos e cacheados. É clara também a maneira como a indústria descaracteriza valores étnicos em prol do lucro, e no caso do alisamento, literalmente escraviza com um procedimento irreversível. A respeito do ‘cabelo longo’, vejo a mulherada se sentindo mais insegura em não conseguir parceiros do que incomodadas consigo mesmas na hora de cortar os cabelos mais curtos, o que é um traço óbvio do machismo, de fazer a mulher pensar sempre em prol do benefício dos homens, ou de se qualificar como objeto desejável. No que tange essas duas questões, pra mim, o jeito mais simples de reverter esses conceitos é no empoderamento, tanto da mulher quanto do negro(a). Quanto à imposição do cabelo liso,pra mim, o discurso de ‘isso não me atrai e é minha opinião’ é balela, toda nossa sociedade e gostos são uma construção, e só a gente muda.

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“A primeira vez que alisei meus cabelos com a prancha foi por sugestão da minha cabeleireira, logo após um corte de cabelo. Imagino que ela não soubesse finalizar cabelos de outras formas, o que declara uma deficiência na formação profissional dela, coisa que noto em vários salões, pois muitos deles são sabem lidar com cabelos crespos e cacheados.”

Sabrinah Giampá – Como seus pais lhe educaram em relação ao cabelo cacheado natural?

Leonardo Gomes – Como dito anteriormente, minha vó demonstrava grande repudio ao meu cabelo natural; já minha mãe sempre me apoiou em praticamente tudo que eu fazia, mas minha educação sobre cabelos foi inteiramente adquirida sozinha.

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“É clara também a maneira como a indústria descaracteriza valores étnicos em prol do lucro, e no caso do alisamento, literalmente escraviza com um procedimento irreversível. A respeito do ‘cabelo longo’, vejo a mulherada se sentindo mais insegura em não conseguir parceiros do que incomodadas consigo mesmas na hora de cortar os cabelos mais curtos, o que é um traço óbvio do machismo, de fazer a mulher pensar sempre em prol do benefício dos homens, ou de se qualificar como objeto desejável.”

Sabrinah Giampá- Assumir os cachos é uma questão de estética ou um ato político?

Leonardo Gomes – Numa sociedade dominada pela estética branca, rica e heterossexual, só existir é um ato político. E mesmo dizendo que pra mim é uma questão de vaidade, não me excluo do ativismo. Mas quando se trata de me expor, faço sempre pela visibilidade, as minorias (que na verdade nem são tão minorias assim) têm que mostrar que existem, e que seus princípios e valores não devem ser ignorados.

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“Nem sempre o preconceito é uma questão de má índole. As pessoas são moldadas pelo meio ambiente, e se lhes faltam perspectivas sobre a realidade é por falta de recursos e referências, e pra mim, o melhor jeito de transpor esse tipo de barreira é tendo paciência e ensinando.”

Sabrinah Giampá – Que recado você daria para as cacheadas e cacheados que lêem este blog?

Leonardo Gomes – Digo que não tenham medo de dar a cara a tapa, de defender os seus princípios, o seu orgulho, e que não se encham de raiva, principalmente quando a crítica vem de gente que amamos, porque nem sempre o preconceito é uma questão de má índole. As pessoas são moldadas pelo meio ambiente, e se lhes faltam perspectivas sobre a realidade é por falta de recursos e referências, e pra mim, o melhor jeito de transpor esse tipo de barreira é tendo paciência e ensinando.

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Tem uma história de superação para compartilhar? Escreva para cachosefatosoficial@gmail.com. Coloque ENTREVISTA no assunto e conte uma prévia da sua história.

  1. luiz fernando says:

    O cabelo desse cara e perfeito. Se bem que ele poderia fazer videos no you tube de dicas e tudo mais…srs

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