Ariane Riehl, conhecida como Nane, é uma menina linda, de 27 anos, que viu sua vida mudar radicalmente, quando após o falecimento do pai, resolveu se mudar pra Alemanha, para trabalhar como babá. Como ela mesma disse, trocou a mesa do escritório pelas fraldas, e foi a melhor coisa que fez na vida. 

Entrar em contato com a nova cultura, a fez repensar velhos hábitos, como as duas horas diárias gastas com o secador de cabelo, para manter os fios lisos. Mas a economia de energia, que é cultural na Alemanha, não foi o único motivo que fez esta paulistana assumir o seu cabelo natural. Deparar-se com uma brasileira com um black power imponente, a fez se questionar sobre o fato de não conhecer o seu crespo de origem, e com isso, ganhou uma fada madrinha crespa, e consequentemente, um big chop, com direito a lágrimas, que serviram para deixar para trás uma rotina de tortura em prol da aceitação social, e principalmente, a de si própria. 

Após uma perda traumática, Nane Riehl resolveu dar uma guinada na sua vida e trocou um emprego promissor por uma passagem para a Alemanha, onde foi trabalhar como babá. Nesta foto, ela está num vilarejo em Wiesbaden, aonde mora desde que se casou com um alemão. Esta cidade fica a 20 minutos de Frankfurt am Main, uma cidade um pouco mais conhecida da Alemanha, aonde morou por dois anos, e que segundo ela, sempre terá um cantinho especial em seu coração.

Percebo a história de Nane Riehl, como o de uma cinderela pós-moderna, que após fazer de tudo para deixar de ser uma gata borralheira, finalmente encontrou seu sapatinho de cristal, chamado relaxamento. Mas com o tempo, percebeu que o príncipe, que veio a tiracolo com o sapatinho, era apenas uma ilusão que havia criado para si mesma, e que a verdadeira beleza, que brotava do seu verdadeiro eu, estava nos cachos tímidos que brotavam da raiz do seu cabelo, e que teimavam em lhe revelar a verdade que se negava a enxergar, como o espelho mágico da madrasta da Branca de Neve (por que não misturar as duas histórias?). 

Sendo assim, livrou-se da fragilidade dos sapatos que não lhe pertenciam, ao descobrir que não passavam de um anúncio publicitário, para lhe vender uma beleza irreal e fragmentada. Sendo assim, tomou para si o cavalo branco do príncipe inventado, e foi atrás de um real, porque para uma verdadeira mocinha, para uma princesa de verdade, não basta ficar sentada esperando, é preciso se jogar, correr atrás, desbravar o mundo. E foi o que Nane fez. E ainda por cima, se casou com um alemão, e fincou raízes no novo país, sem abrir mão das próprias raízes, crespas, é claro! Espero que se emocionem com esse, lindo e autêntico, conto de fadas.

“Eu queria algo bem maior do que esperar por um ‘príncipe encantado’ ou  o emprego dos sonhos. Eu queria bem mais do que me contentar em ouvir os outros me contarem sobre suas aventuras em outros países. Também não queria apenas uma viagem de quatro semanas, eu queria ir além!”




Sabrinah Giampá – O que te motivou a trocar o Brasil pela Alemanha?
Nane Riehl – Depois que perdi meu pai, minha mãe e minha irmã entraram em depressão, e conforme fui diagnosticar mais tarde, eu também. Neste momento difícil, eu senti que precisava dar uma guinada na minha vida. Eu queria algo bem maior do que esperar por um ‘príncipe encantado’ ou  o emprego dos sonhos. Eu queria bem mais do que me contentar em ouvir os outros me contarem sobre suas aventuras em outros países. Também não queria apenas uma viagem de quatro semanas, que faria com que me endividasse e ficasse pagando parcelas salgadas durante 12 meses. Eu queria ir além!

Sabrinah Giampá – Por que escolheu a Alemanha?


Nane Riehl – Eu sempre sonhei em morar fora do Brasil. Meu destino dos sonhos era os EUA. Mas, depois que comecei a trabalhar em um instituto francês em São Paulo, aprendi mais sobre as oportunidades de estudos na Europa, e foi assim que me interessei pela Alemanha.

“A única forma que encontrei de poder me sustentar na Alemanha, foi obtendo o visto como Au-Pair(…) Então foi isso que aconteceu, eu troquei minha mesa de escritório para trocar fraldas, o que foi a melhor que coisa que fiz na vida!”


Sabrinah Giampá – E como foi esse processo todo?


Nane Riehl – Tive que largar meu posto nesse instituto, onde eu havia chegado ao cargo de gerente em muito pouco tempo, mesmo tendo começado como a menina do café. Preciso dizer que tomar essa decisão não foi fácil. Foi tudo a base de muita oração e fé, ainda mais porque tive que pedir para ser mandada embora depois de quase três anos de casa.
Sabrinah Giampá – E como fez para se sustentar em um novo país?

Nane Riehl – A única forma que encontrei de poder me sustentar na Alemanha, por pelo menos um ano, até ter o nível de alemão exigido para estudar numa universidade, foi obtendo o visto como Au-Pair. Pra quem não sabe, Au-Pair é um programa de intercâmbio cultural que vários países fazem, onde em geral, uma jovem pode morar durante um ano com uma família local, desde que desempenhe algumas atividades domésticas e assuma a função de babá. Então foi isso que aconteceu, eu troquei minha mesa de escritório em São Paulo  para trocar fraldas na Alemanha, o que foi a melhor que coisa que fiz na vida!

Nane chegou na Alemanha com os fios relaxados,
como usava no Brasil

“Na Alemanha, os problemas para manter o visual chapado começaram a aparecer. Eu não podia fazer minha escova semanal, porque isso significaria quase duas horas de secador e prancha ligados, e os alemães prezam muito pela economia.”



Sabrinah Giampá – Na pré-entrevista, você me contou que fazia relaxamento nesta época. Como fez para dar continuidade a sua rotina capilar quando se mudou para a Alemanha?
Nane Riehl – Antes de sair do Brasil, fiz meu relaxamento como manda a regra: a cada três meses. A minha cabeleireira, muito querida, me ensinou como fazer o procedimento sozinha, então eu comprei os produtos necessários antes de viajar. Uma vez na Alemanha, os problemas para manter o visual chapado e perfeito do Brasil começaram a aparecer. Eu não podia fazer minha escova semanal, porque isso significaria quase duas horas de secador e prancha ligados, e os alemães prezam muito pela economia. Então como toda boa alemã, eu deveria usar meu secador por no máximo 10 minutos e pronto.

“Longe de mim pensar em desistir de ter meus cabelos ‘arrumados’! Eu pensava que assim que fizesse amigas, poderia ter alguém para me ajudar a cuidar dos meus cabelos. Cabeleireiro na Alemanha, nem pensar! Primeiro porque é super caro, e segundo porque eles não sabem tratar dos cabelos crespos.”


Sabrinah Giampá – Foi nesse momento que decidiu assumir o cabelo natural, ou arrumou uma nova solução para manter os fios ‘alinhados’?

Nane Riehl – Longe de mim pensar em desistir de ter meus cabelos ‘arrumados’! Eu pensava que assim que fizesse amigas, poderia ter alguém para me ajudar a cuidar dos meus cabelos. Cabeleireiro na Alemanha, nem pensar! Primeiro porque é super caro, e segundo porque ‘se’ algum cabeleireiro topasse fazer algo nos meus cabelos, além de ter que abrir mão de um braço ou uma perna, pelo custo elevado, eu correria o risco de sair igual a uma vassoura. Isso porque eles não sabem tratar dos cabelos crespos, exceto os cabeleireiros africanos. Mas mesmo assim eu também não teria coragem, porque nunca vi uma africana com cabelo de verdade na cabeça ou sem trancas, e como não era megahair ou trancas o que eu queria, resolvi esperar.

Sabrinah Giampá – E o que ocorreu durante essa espera? 

Nane Riehl – Durante essa espera, entrei no que chamamos de ‘Transição Capilar’, sem ao menos saber o que era isso. E como toda mulher moderna que se preze, a primeira coisa que fiz foi recorrer ao Google. (Se alguém tivesse acesso sobre minhas perguntas para o Google, saberia quase tudo sobre minha vida! rsrsrs).

“Entrei na ‘Transição Capilar’, sem ao menos saber o que era isso. O Google me mostrou fotos de mulheres de cabelos crespos MA-RA-VI-LHO-SAS. E pela primeira vez, me dei conta de que eu não fazia a menor ideia de como era o meu cabelo sem química.”

Sabrinah Giampá – O que aprendeu com o Google durante a sua transição involuntária?

Nane Riehl – O Google me mostrou fotos de mulheres de cabelos crespos MA-RA-VI-LHO-SAS. Eu acho que nunca tinha visto tantos tipos de crespos assim, e pela primeira vez, me dei conta de que eu não fazia a menor ideia de como eram os meus cabelos sem química. Foi nesse momento que comecei a tocar a raiz do meu cabelo e senti uma coisa estranha. Essa coisa estranha eram apenas CACHOS! E eu nem imaginava que tinha cachos. Eles eram pequeninos, mas graciosos. Depois disso, comecei a passar horas admirando a raiz do meu cabelo. Também passava um bom tempo pesquisando no Google sobre o assunto. O primeiro blog que encontrei foi o Cabelo Crespo também é Bom, que  já chamou minha atenção só pelo nome. Foi lá que aprendi o que era transição e os truques de texturização e tal.

“Comecei a tocar a raiz do meu cabelo e senti uma coisa estranha. Essa coisa estranha eram apenas CACHOS! E eu nem imaginava que tinha cachos. Eles eram pequeninos, mas graciosos. Depois disso, comecei a passar horas admirando a raiz do meu cabelo.”





Sabrinah Giampá – Durante nossa primeira conversa, você me disse que a decisão de voltar ao cabelo natural surgiu apenas quando já estava morando na Alemanha, e que no Brasil jamais teria a coragem de se assumir. Me falou também que teve uma madrinha crespa. Comente sobre isso. 
Nane Riehl – Depois de passar quase seis meses com os cabelos suplicando socorro, eu encontrei uma brasileira em uma perfumaria, e ela tinha um cabelo black lindo. Gente, eu me senti obrigada a pedir pra tocar, e ela deixou! Conversamos um pouco, e pra minha surpresa, ela era cabeleireira. Então marcamos para ela cortar meus cabelos. Eu ainda não sabia que até então, o que eu estava prestes a fazer se chamava ‘Big Chop’.

“Eu encontrei uma brasileira que tinha um black lindo. Eu pedi pra tocar, e ela deixou! Conversamos um pouco, e pra minha surpresa, ela era cabeleireira. Então marcamos para ela cortar meus cabelos. Eu ainda não sabia que o que eu estava prestes a fazer se chamava ‘Big Chop’.”

Sabrinah Giampá – E como foi o seu Big Chop?

Nane Riehl – Finalmente, o grande dia havia chegado. Eu estava tranquila, mas ainda não tinha entendido o que eu iria fazer. Então ela me perguntou:  – Quer cortar tudo que tem química? –  Eu disse  que sim, porque achava que já tinha bastante comprimento por conta do volume. Eu também já estava farta de andar de coque, e me sentir feia. A texturização não dava mais certo porque o cabelo com química estava praticamente podre, até por que a água daqui é cheia de cal, e isso detonou ainda mais os meus cabelos quimicados. Enfim, na hora do Big Chop, ela cortou tudo de uma vez só, e com ele na mão, o balançou diante dos meus olhos, dizendo: – Olha quanto cabelo! –  Então eu entrei em choque e chorei. Quando olhei no espelho, percebi que ela também havia ficado nervosa. Nessa hora, ela tentou me acalmar e terminou o corte.  Daí  começou a me mostrar os cachinhos, o que me ajudou muito, pois eu nunca tinha tido cabelos tão curtos na vida. O meu consolo foi que eu estava na Alemanha, as pessoas aqui jamais iriam caçoar de mim na rua, e eu não teria que encarar amigos, conhecidos e  a família.

“Na hora do Big Chop, ela cortou tudo de uma vez só, e com ele na mão, o balançou diante dos meus olhos, dizendo: – Olha quanto cabelo! –  Então eu entrei em choque e chorei.  O meu consolo foi que eu estava na Alemanha, as pessoas aqui jamais iriam caçoar de mim na rua, e eu não teria que encarar amigos, conhecidos e  a família.”




Sabrinah Giampá – Nesse sentido, o que o novo país trouxe de bom na sua vida?
Nane Riehl – Se eu estivesse no Brasil, eu JAMAIS teria feito isso. Meus cabelos eram minha glória, era a primeira coisa que as pessoas elogiavam em mim, e o que eu mais gostava em mim mesma. Hoje, posso dizer que qualquer mulher que mora no Brasil, e que tenha coragem para assumir seus cabelos crespos, tem o meu total respeito e admiração.

Sabrinah Giampá – Você acha que no Brasil as pessoas são mais preconceituosas que na Alemanha? Por que?

Nane Riehl – Eu acho que os alemães são muito preconceituosos sobre tudo quando é assunto, seja em relação a estrangeiros ou classe social. Mas, mesmo assim, embora os alemães pertençam à raca branca, e muitos tenham cabelos loiros, você vai encontrar muito mais programas de televisão, propagandas e outdoors com pessoas de outras raças, o que não acontece no Brasil. O povo alemão não costuma ser gentil se você é um estrangeiro que não domina a língua, aí são bem rudes mesmo. Mas apesar disso, pra um alemão te xingar na rua ou soltar piadinhas grosseiras, ele tem que estar bêbado, ter problemas mentais ou ser um daqueles velhos nazistas. Claro que também têm exceções, mas são bem poucas se compararmos com o Brasil. A Alemanha é um país que abriga muitos estrangeiros, e em geral, eu tenho problemas com os árabes, turcos e polacos, que são mega preconceituosos com relação a negros. Eles sim tem aquela coisa brasileira da falta de educação e bom senso. Falando especificamente sobre os alemães, embora sejam  preconceituosos, eu tenho bem menos problemas com eles porque são discretos, e no geral, ficam na deles. Aliás, se eu comparar os alemães com os demais citados, posso dizer que sou até feliz com eles, porque sempre me param na rua para me elogiar ou pra pedir pra tocar nos meus cabelos. (Gesto do qual não sou muito fã, mas passa).


“Se eu estivesse no Brasil, eu JAMAIS teria feito isso. Meus cabelos eram minha glória, era a primeira coisa que as pessoas elogiavam em mim, e o que eu mais gostava em mim mesma. Hoje, posso dizer que qualquer mulher que mora no Brasil, e que tenha coragem para assumir seus cabelos crespos, tem o meu total respeito e admiração.”




Sabrinah Giampá – Fale mais sobre essa diferença midiática entre Brasil e Alemanha. Acha que no Brasil, um país com a maioria negra, o negro ainda é mostrado de forma inferior?

Nane Riehl – No Brasil, você só vai ver um negro em um outdoor, comercial ou outro tipo de propaganda se for pra falar de bolsa família e outros programas do governo em geral. Também vê negros em anúncios de empréstimo consignado ou carnaval, o que é um absurdo, se você considerar que mais de 70% da população é composta de afrodescendentes. A gente cresce com a televisão, e quem são as heroínas da TV brasileira? As loiras, as lisas… Tem alguma famosa e influente com cabelos crespos na TV brasileira? Acho que a resposta já diz tudo né?! Eu acho que a maioria das mulheres brasileiras pensam como eu pensava… “Preta sim, ‘cabelo duro’, jamais!”

“Falando sobre os alemães, embora sejam preconceituosos, eu tenho bem menos problemas com eles porque são discretos. Sou até feliz com eles, porque sempre me param na rua para me elogiar ou pra pedir pra tocar nos meus cabelos. “


Sabrinah Giampá – Concorda então que faltam referências positivas sobre a raça negra no Brasil?

Nane Riehl – Concordo. Acho também que no Brasil as pessoas são muito mal educadas., elas não se respeitam. As crianças são educadas pela televisão, assim como eu fui, e expostas a esse sistema preconceituoso e podre, onde impera o padrão de beleza europeia. A mídia brasileira encara o cabelo crespo como exceção, como se representasse a minoria das mulheres, por isso, só se posiciona para falar e dar dicas sobre cabelos lisos. Quando você ouve falar sobre algum especialista em cabelos crespos, sua especialidade, na verdade, é transformar o crespo em algo lindo,que no caso, seria algo liso. Para mim isso é uma grande piada!

“No Brasil, você só vai ver um negro em propaganda se for pra falar de bolsa família, anúncio de empréstimo consignado ou carnaval (…) A gente cresce com a televisão, e quem são as heroínas da TV? As loiras, as lisas… Tem alguma famosa e influente com cabelos crespos na TV brasileira? Acho que a resposta já diz tudo né?! Eu acho que a maioria das mulheres brasileiras pensam como eu pensava… “Preta sim, ‘cabelo duro’, jamais!”

Sabrinah Giampá – Esteve no Brasil depois de assumir o cabelo natural? Como foram suas percepções sobre o preconceito relacionado ao cabelo crespo, que está diretamente ligado ao preconceito étnico?

Nane Riehl – Quando eu estive de férias no Brasil, em agosto do ano passado, aproveitei para conhecer Salvador, onde eu pensava que ia ver um monte de meninas como eu, porque pensava que a Bahia seria onde eu iria encontrar mais mulheres com os cabelos crespos assumidos, e por isso, achei que iria me sentir em casa. Mas, infelizmente, eu estava sonhando. Quando cheguei lá, todas as mulheres estavam com os cabelos alisados. Já no trajeto do ônibus do aeroporto até a casa da minha amiga, pude sentir aqueles olhares estranhos. Vi mulheres me olhando por cima do ombro e balançando a cabeça em sinal de reprovação, pode??? Mas o ponto alto dessa viagem viagem foi o dia em que eu estava saindo do supermercado e ouvi uma voz chamando: –  Ô ‘cabelo duro’… Ô ‘cabelo de bombril’! – E quando eu me virei, me deparei com uma garotinha de, aproximadamente, uns oito anos, que voltava da escola com as amiguinhas. A rua inteira começou a rir de mim.  Detalhe: a menina era da minha cor e tinha o cabelo crespo como o meu, mas estava todo trançado. 

“A mídia brasileira encara o cabelo crespo como exceção, por isso, só se posiciona para falar e dar dicas sobre cabelos lisos. Quando você ouve falar sobre algum especialista em cabelos crespos, sua especialidade, na verdade, é transformar o crespo em algo lindo, que no caso, seria algo liso. Para mim isso é uma grande piada!”



Sabrinah Giampá – O movimento do big chop e transição capilar tem chegado aos poucos, posso dizer que bem timidamente em nosso país. Mas percebo que ainda existe um preconceito, mesmo que velado, às vezes das próprias meninas que estão no processo, principalmente em relação aos cabelos do tipo 4. Como você percebe isso? Como denomina o seu tipo de cabelo?
Nane Riehl – Me irrita  muito essa busca pelo cacho perfeito. Embora eu ache legal você mostrar pra uma mulher de cabelo 4C, que é possível fazer cachos no cabelo dela com técnicas como o Twist, não acho que deva ser assim a forma de convencê-la de que ela pode assumir seu crespo sem medo, afinal, ela pode cachear e ficar parecida com uma cacheada tipo 3 qualquer coisa, e não com ela mesma, como deveria ser. O meu cabelo é crespo do tipo 4A (acredito eu… não tenho certeza). Eu tive muita dificuldade para me identificar com as fotos dos tipos de cabelos que a maioria das Fan Pages apresenta.

“Pensava que na Bahia eu iria encontrar mais mulheres com os cabelos crespos assumidos. Mas, infelizmente, eu estava sonhando. Quando cheguei lá, todas as mulheres estavam com os cabelos alisados. Já no trajeto do ônibus do aeroporto até a casa da minha amiga, pude sentir aqueles olhares estranhos. Vi mulheres me olhando por cima do ombro e balançando a cabeça em sinal de reprovação, pode???”

Sabrinah Giampá – Acredita que o preconceito com o cabelo crespo, mas especificamente os do tipo 4, é maior?

Nane Riehl – Sem dúvida. As meninas com cabelos tipo 4 são as principais vítimas de preconceito, e por isso, são as que mais precisam de ajuda e apoio. Além disso, tenho a certeza de que mulheres com os cabelos tipo 4B e C, que são minoria na hora de assumir o crespo, têm sempre a expectativa, ou sonham em obter um cabelo do tipo 3A ou B.

Sabrinah Giampá – Como é o trabalho que desenvolve em sua fanpage?

Nane Riehl – Na minha fanpage, Crespas e Cacheadas, eu tento mostrar todos os dias, que o crespo na sua forma natural é lindo também. Mas ainda há MUITA rejeição, sobretudo em relação as fotos de mulheres negras (estilo africana) com um grande afro 4C. Percebo isso porque as fotos recebem poucas curtidas se comparada com as outras. Eu observo muito o publico da minha Fan Page, e notei por exemplo, que há meninas que tem o cabelo tipo 4C que apenas curtem fotos de meninas com o cabelo tipo 3C, por exemplo. Além disso, eu sempre faço testes, e na primeira semana, entre as várias fotos de crespas que eu postei, tinha uma de uma menina com cachos tipo 3A, e essa recebeu muito mais curtidas que as outras, do tipo 4. Fiquei p… da vida! A mulher brasileira tem muita dificuldade em se identificar com uma personagem negra com cabelos 4C, mesmo quando sabemos que nossa origem também vem do povo africano, que possui essas características. Mesmo assim, eu continuo insistindo em mostrar o crespo em suas várias formas, mantendo o foco no temido 4C, e aos poucos percebo uma melhora na aceitação. Acho que esse é o caminho.

“Mas o ponto alto da viagem foi o dia em que ouvi uma voz chamando: –  Ô cabelo duro… Ô cabelo de bombril! – E quando eu me virei, me deparei com uma garotinha de, aproximadamente, uns oito anos, que voltava da escola com as amiguinhas. A rua inteira começou a rir de mim.  Detalhe: a menina era da minha cor e tinha o cabelo crespo como o meu, mas estava todo trançado.”



Sabrinah Giampá – Onde você acha que está a maior dificuldade nesse processo de aceitar o cabelo crespo sem cachos, como o 4C?

Nane Riehl – Eu aprendi que quando você vê algo diferente, automaticamente você rejeita, mas quando o que você vê se torna constante diante dos seus olhos, você começa a aceitar aquilo que antes era tido como estranho e diferente.

Sabrinah Giampá – Me fale mais sobre sua trajetória capilar, na época em que ainda morava no Brasil e ainda não tinha assumido o seu crespo natural.
Nane Riehl – Me lembro que quando eu morava no Brasil, só encontrei uma cabeleireira, que pela primeira vez, fez uma escova perfeita no meu cabelo, com 19 anos. Então passei a fazer uma escova por semana e, a cada 15 dias, uma hidratação. A cada três meses eu complementava com um relaxamento. Durante cinco anos ou mais, nem me lembro agora, eu não fiquei sequer uma semana sem escova. Eu podia passar até 15 dias com a cabeça imunda, mas não saia sem escova. O mundo parava quando eu estava na minha cabeleireira. Com o salão sempre lotado, eu quase sempre esperava horas pra ficar pronta. Já cheguei a sair de lá às quatro da manha, e com isso, me colocar em risco, ao voltar pra casa sozinha, tarde da noite. Me submetia a isso porque era o único horário que eu tinha, em algumas ocasiões, para fazer a minha escova.

“Me irrita  muito essa busca pelo cacho perfeito. Embora eu ache legal você mostrar pra uma mulher de cabelo 4C, que é possível fazer cachos no cabelo dela, com técnicas como o Twist, não acho que deva ser assim a forma de convencê-la a assumir seu crespo sem medo, afinal, pode ficar parecida com uma cacheada tipo 3, e não com ela mesma, como deveria ser.”


Sabrinah Giampá -Como era a sua relação com o seu cabelo na infância e adolescência? 
Nane Riehl – Eu comecei a fazer relaxamento aos 12 anos. Depois do meu primeiro relaxamento, eu me senti a menina mais linda do universo, foi como a realização de um sonho. Eu, que era a ‘vassoura da turma’, estava linda, e então eu me senti aceita, me senti normal, porque, finalmente, os cabelos estavam para baixo, e não para cima, e o comprimento alcançava minha cintura. Foi sem dúvida um dos dias mais felizes da minha vida! Hoje eu sei que, se até os 12 anos nunca havia visto cachos na minha cabeça, foi porque nunca dei chance pra eles aparecerem. Eu cuidava do meu cabelo como se fosse liso. Tudo que as meninas de cabelos lisos faziam nos cabelos delas, eu fazia nos meus. Eu escovava a todo momento porque eu vi na TV que os cabelos de uma princesa, para ganharem brilho, precisavam levar 100 escovadas, e assim eu fazia. Eu pedia pra minha mãe comprar xampu e produtos para cabelos lisos, porque eu acreditava que se eu tratasse meu cabelo como liso, ele responderia como tal, e ficariam idênticos aos da mulher da embalagem. Era comum que eu deixasse condicionador no cabelo se não tivesse creme de pentear. Eu estava sempre umedecendo os fios, para que eles não ficassem ‘cheios’. Perdi as contas de quantas vezes eu manchei minhas roupas com o excesso dos cremes, e sempre tinha alguém pra me cutucar e falar: – Teu cabelo tá branco de tanto creme. Sim, essa fui eu na infância e adolescência.

“As meninas com cabelos tipo 4 são as principais vítimas de preconceito, e por isso, são as que mais precisam de ajuda e apoio. Além disso, tenho a certeza de que mulheres com os cabelos tipo 4B e C, que são minoria na hora de assumir o crespo, têm sempre a expectativa, ou sonham em obter um cabelo do tipo 3A ou B.”



Sabrinah Giampá – Assumir o cabelo natural é uma mudança, antes de tudo, interna? O que mudou na Nane após reassumir a própria identidade?
Nane Riehl – Sabe aquela menininha da Bahia que me chamou de ‘cabelo duro’ e ‘cabelo de bombril’? Eu era ela. Preconceituosa sem ter a menor noção do que isso significava. No lugar dela, e com a personalidade que eu tinha antes, com certeza teria feito a mesma piada. Eu acho que nada mudou mais a minha vida do que assumir o meu cabelo natural.  A mudança foi completa, alterou minha personalidade, e inclusive a minha forma de pensar e analisar o mundo ao meu redor. É como se eu fosse cega de nascença e, de repente, passasse a enxergar.  Tudo na vida muda depois dessa escolha.

“Eu observo muito o público da minha Fan Page, e notei por exemplo, que há meninas que têm o cabelo tipo 4C que apenas curtem fotos de meninas com o cabelo tipo 3C, por exemplo. Além disso, eu sempre faço testes, e na primeira semana, entre as várias fotos de crespas que eu postei, postei uma de uma menina com cachos tipo 3A, e essa recebeu muito mais curtidas que as outras, do tipo 4. Fiquei p… da vida!”



Sabrinah Giampá – Assumir o natural trouxe a tona algum tipo de preconceito familiar? 

Nane Riehl – Antes de fazer o Big Chop, eu não contei nada para ninguém. Como eu estava do outro lado do mundo, minha mãe só soube do corte semanas depois, porque eu estava cansada de dar desculpas esfarrapadas para não realizar uma chamada de vídeo. Pelo Skype, minha mãe e minha irmã, enfim puderam avaliar o meu ‘novo corte’. Não preciso dizer que ambas levaram um choque. Enquanto minha irmã caía na gargalhada, minha mãe chegou a ensaiar um choro. Todos da minha família tem cabelos cacheados ou crespos, mas eu tenho os cabelos mais crespos de todos. A reação de ambas mexeu comigo, minha irmã me deixou insegura e com um pouco de raiva, já a minha mãe me deixou bem surpresa e até preocupada, isso porque ela começou a achar que as coisas iam muito mal pra mim na Alemanha. Minha mãe encarou o fato de eu assumir meus cabelos crespos como uma vergonha, um sinal de fracasso. Ela entrou em desespero e disse com lágrimas nos olhos: – Ô filha, volta pra casa, volta pro Brasil, porque aqui você pode continuar bonita, cuidando dos seus cabelos, na sua cabeleireira, com os produtos que você conhece, você não precisa passar por isso, você não precisa passar por essa humilhação, volta pra casa. – Eu tentei explicar pra ela dizendo: –  Mãe, é só cabelo – também disse que estava tudo bem, mas pra ela não era só cabelo, significava que eu havia perdido algo de valioso, que eu havia perdido minha beleza, minha autoestima. Enfim, com a reação da minha mãe, até minha irmã mudou de atitude e disse que não estava tão ruim assim, e que ia crescer bonito. (Quem conhece minha irmã sabe, uma falsa né ?! rsrsrsrs). Depois disso, minha mãe foi se acostumando e melhorando seu ponto de vista ao ver minhas fotos: super feliz e linda com os cachos que iam crescendo, mas a verdade é que acho que ela não iria se opor se eu decidisse alisar de novo. Quando estive no Brasil, depois de mais de dois anos longe de casa, ela ficava me olhando, tentando me reconhecer. De manhã, ela sempre ria de como meu crespo acordava e falava pra eu ir arrumar os cabelos se não ia perder meu noivo.


“Pelo Skype, minha mãe e minha irmã, enfim puderam avaliar o meu ‘novo corte’. Não preciso dizer que ambas levaram um choque. Enquanto minha irmã caía na gargalhada, minha mãe chegou a ensaiar um choro. A reação de ambas mexeu comigo”




Sabrinah Giampá – Por falar em noivo/marido, como ele lidou com essa mudança? E os seus amigos?

Nane Riehl – E falando do meu noivo, hoje meu marido, ele me dá 100% de apoio. Não importa se meus cabelos estão super ouriçados, e  às vezes, com nós. Ele ama, brinca com eles, e se diverte com cada um dos penteados malucos que eu faço. Em algumas ocasiões, eu faço um penteado bem extravagante, pra ver se ele vai pedir pra eu mudar, e ele sempre tem a mesma reação. Ele diz: -Wow sehr schön Maus!!!- que em português quer dizer: -Uau muito lindo, ratinha!!!” (o equivalente de ratinha em alemão seria gatinha para nós no Brasil). Quanto aos amigos daqui da Alemanha, posso dizer que a maioria elogia, mas tem aqueles que não dizem nada (não aprovam). Também teve aqueles que faziam perguntas do tipo: – Mas você não vai deixar crescer né? Senão vai virar um black! – e ainda fazem o sinal com as mãos pra mostrar o quão enorme ficaria (tarde demais, já virou um black rsrsrs). O mais engraçado é quando ‘certas pessoas’ com o cabelo tão crespo quanto o meu, fazem piadas e comentários do tipo sobre meus cabelos, esse é o caso de muitas africanas por aqui. Aqui eu tenho amigos de tudo quanto é nacionalidade e a reação não difere muito da dos amigos no Brasil. Falando do Brasil, a maioria é positiva, e teve aqueles que quando me reencontraram não tiravam os olhos dos meus cabelos, falaram de tudo, mas não fizeram nenhum comentário sobre meu crespo, e claro, sempre vai ter aquelas que dizem que preferem ser sinceras e dizem que era melhor liso. Sabe, não existe ninguém que eu gostaria mais de mostrar meus cabelos do que para ele… meu pai. Ele não viveu o suficiente pra ver tudo o que eu fiz e me tornei, embora pareça que foi ontem, devem fazer quatro anos ou mais que ele se foi, mas eu gosto de pensar que se ele visse meus cabelos crespos, ele diria que eu estou maravilhosa. Hoje, felizmente, eu tenho a certeza de que cabelos crespos não são um defeito. Eles não foram um erro… foram feitos assim de propósito… Eu tenho certeza, de que se um dia eu acordasse em um paraíso, onde tudo e todas as pessoas, inclusive eu fossem perfeitas, meus cabelos ainda seriam crespos… e lindos do mesmo jeitinho!



Nane Riehl, na Alemanha, aonde mora atualmente

“Eu podia passar até 15 dias com a cabeça imunda, mas não saía sem escova. Com o salão sempre lotado, eu quase sempre esperava horas pra ficar pronta. Já cheguei a sair de lá às quatro da manha, e com isso, me colocar em risco, ao voltar pra casa sozinha, tarde da noite. Me submetia a isso porque era o único horário que eu tinha, em algumas ocasiões, para fazer a minha escova.”




Sabrinah Giampá –  Você acredita que existe uma ditadura dos cabelos longos e lisos no Brasil, o que acha sobre isso? Acha que influencia meninas para o lado oposto do big chop? Isso existe na Alemanha? 
Nane Riehl – No Brasil, o padrão de beleza é europeu. Eu nem vou falar da cor da pele, mas ter cabelos lisos, e de preferencia longos, é padrão por aí. Eu cresci achando que ter cabelo crespo era um defeito, e que para ser perfeita e linda, somente era possível para quem tivesse os cabelos lisos e longos. Por isso, alisar o cabelo foi a primeira coisa que fiz quando me tornei adulta. Só assim me transformei na mulher que sempre havia sonhando em ser, com lindos e longos cabelos lisos.

“Depois do relaxamento, eu me senti a menina mais linda do universo, foi a realização de um sonho. Eu, a ‘vassoura da turma’, estava linda, e então eu me senti aceita, me senti normal, porque, finalmente, os cabelos estavam para baixo, e não para cima, e o comprimento alcançava minha cintura. Foi sem dúvida um dos dias mais felizes da minha vida!”

Sabrinah Giampá – E o que mudou quando você se tornou a mulher que sempre quis ser, aquela que ostentava os cabelos longos e lisos?

Nane Riehl – A vida social ficou muito melhor depois disso. Como estava com a minha autoestima em alta, arranjei meu primeiro namorado e muitos pretendentes surgiram. Era sempre elogiada por onde eu passava, e sim, posso afirmar que ter cabelo liso e longo no Brasil me ajudou muito na vida. Eu me sentia segura, linda e aceita. Infelizmente, essa é a grande verdade do Brasil, o brasileiro é muito preconceituoso, e mentiroso também, porque nunca vi um povo pra se achar livre de preconceitos como esse.

“Eu cuidava do meu cabelo como se fosse liso. Eu escovava a todo momento porque eu vi na TV que os cabelos de uma princesa, para ganharem brilho, precisavam levar 100 escovadas, e assim eu fazia. Eu pedia pra minha mãe comprar xampu e produtos para cabelos lisos, porque eu acreditava que se eu tratasse meu cabelo como liso, ele responderia como tal, e ficariam idênticos aos da mulher da embalagem.”

Sabrinah Giampá – Você contou sobre sua dependência da escova e do relaxamento e até das madrugadas que passou no salão para manter o cabelo liso. Com o crespo atual, quais são os seus cuidados diários?   
Nane Riehl – Lavo de uma a duas vezes por semana. Uso xampu e condicionador da Pantene para cabelos secos, e uma vez por mês, tenho usado a máscara intensiva da Dove, com óleo de argan. Durante a semana, para arrumar, uso apenas água. Penteio os fios apenas molhados, debaixo do chuveiro, e sempre finalizo com difusor. Agora vou começar a fazer as receitas caseiras que estou aprendendo nos grupos, e também vou testar novos produtos. Ah, antes que eu me esqueça, um óleo para finalizar também é sempre benvindo.

“Eu estava sempre umedecendo os fios, para que eles não ficassem ‘cheios’. Perdi as contas de quantas vezes eu manchei minhas roupas com o excesso dos cremes, e sempre tinha alguém pra me cutucar e falar: – Teu cabelo tá branco de tanto creme. Sim, essa fui eu na infância e adolescência.”




Sabrinah Giampá –  É preciso gastar rios de dinheiro para ter fios crespos bonitos?
Nane Riehl – Teoricamente, uma mulher que faz megahair gasta muito mais do que uma que relaxa e escova os cabelos, esta, por sua vez, gasta bem mais que aquela que tem os fios 100% naturais. Mas eu posso dizer por experiência própria, que na prática, as coisas mudam um pouco de figura, porque as meninas que assumem o crespo, ficam loucas pra testar novos produtos. Isso acontece porque nossos cabelos se tornam nossos bebês, e você só quer dar o melhor pra eles, e tudo tem que ter muita qualidade, justamente para não danificar as madeixas naturais, conquistadas com tanto esforço.

“Eu acho que nada mudou mais a minha vida do que assumir o meu cabelo natural.  A mudança foi completa, alterou minha personalidade, e inclusive a minha forma de pensar e analisar o mundo ao meu redor. É como se eu fosse cega de nascença e, de repente, passasse a enxergar.  Tudo na vida muda depois dessa escolha.”


Sabrinah Giampá – Como é atualmente a sua relação com seu cabelo natural? 
Nane Riehl – Eu tenho uma relação de AMOR ETERNO com meus cabelos crespos, eu gosto de mudar o penteado sempre que possível,  e já aprendi a fazer alguns, que em breve mostrarei em vídeos, que serão postados no meu blog, o Crespas e Cacheadas, que deve ser lançado agora em março.

“Minha mãe entrou em desespero e disse com lágrimas nos olhos: – Ô filha, volta pra casa, volta pro Brasil, porque aqui você pode continuar bonita, você não precisa passar por essa humilhação. – Eu tentei explicar: –  Mãe, é só cabelo” – mas pra ela significava que eu havia perdido algo de valioso, que eu havia perdido minha beleza, minha autoestima.”

Sabrinah Giampá – Ostentar um cabelo crespo maravilhoso como o seu dá trabalho?

Nane Riehl – Preciso confessar que, a partir de um comprimento como o meu, dá trabalho cuidar dos cabelos crespos. É preciso ter força nos braços na hora de desembaraçar e fazer penteados. Mas as meninas que fazem sua própria escova e prancha, vão tirar de letra, mas no meu caso é difícil, porque eu nunca cuidei sozinha dos meus cabelos, sempre tive minha mãe e minha cabeleireira, só nos últimos dois anos que passei a me virar sozinha, e só agora estou me acostumando.

 “Eu cresci achando que ter cabelo crespo era um defeito, e que para ser perfeita e linda, somente era possível para quem tivesse os cabelos lisos e longos. Por isso, alisar o cabelo foi a primeira coisa que fiz quando me tornei adulta. Só assim me transformei na mulher que sempre havia sonhando em ser, com lindos e longos cabelos lisos.”

Sabrinah Giampá – Segue uma das rotinas: low poo/no poo?

Nane Riehl – Ainda estou aprendendo sobre isso. Confesso que quando eu leio, minha cara vira um ponto de interrogação. Mas preciso dizer que lavo uma vez por semana, e somente no verão eu lavo mais de uma vez, até por que a água daqui não é boa, e como havia falado, tem muito cal e resseca o cabelo. Mas levo uma hora entre lavagem e secagem, nunca saio com os fios úmidos ou molhados, sempre uso o difusor para finalizar, o que considero um segredo para deixar meus cabelos lindos e pra cima, do jeito que eu gosto.

“Como estava com a minha autoestima em alta, arranjei meu primeiro namorado e muitos pretendentes surgiram. Era sempre elogiada por onde eu passava, e sim, posso afirmar que ter cabelo liso e longo no Brasil me ajudou muito na vida. Eu me sentia segura, linda e aceita. Infelizmente, essa é a grande verdade, o brasileiro é muito preconceituoso, e mentiroso também, porque nunca vi um povo pra se achar livre de preconceitos como esse.”


Sabrinah Giampá- Quais são seus produtos preferidos?
Nane Riehl – Atualmente, meu produto preferido é minha mascara intensiva da Dove, com óleo de argan. Eu já cheguei a usar duas vezes por mês, mas percebi que o resultado foi melhor usando apenas uma vez por mês. Além disso, não vivo sem meu borrifador de água, pra ajeitar durante a semana, e meu difusor, que é meu melhor amigo.

“Sabe, não existe ninguém que eu gostaria mais de mostrar meus cabelos do que para ele… meu pai. Ele não viveu o suficiente pra ver tudo o que eu fiz e me tornei, embora pareça que foi ontem, devem fazer quatro anos ou mais que ele se foi, mas eu gosto de pensar que se ele visse meus cabelos crespos, ele diria que eu estou maravilhosa.”



Sabrinah Giampá – Costuma fazer algum penteado?  
Nane Riehl – Eu amo fazer topetes  e deixar um black atrás, ou até mesmo um puff. Eu amo fazer puff duplo, que é aquele que você faz em cima do outro. Adoro o efeito pufão que fica, uma explosão de volume!

“Eu vejo meninas que passaram pela transição,  mas ainda assim não estão transformadas por dentro. Elas passaram por toda a experiência externa sem fazer as mudanças internas necessárias.”



Sabrinah Giampá – Qual o recado que você deixaria para outras meninas que tem uma história parecida com a sua, mas que não conseguem se aceitar devido ao preconceito?
Nane Riehl – Acompanhe os grupos do facebook, pesquise sobre o assunto, acesse os blogs, assista a vídeos, aprenda e converse com pessoas que já viveram essa experiência de parar de usar quimica, mas tome muito cuidado com pessoas negativas. Eu vejo meninas que passaram pela transição, já estão com seus cabelos 100% naturais, mas ainda assim não estão transformadas por dentro. Elas passaram por toda a experiência externa sem fazer as mudanças internas necessárias. Essas são aquelas que tinham uma outra expectativa, como a de obter ‘cachos perfeitinhos’, e aquelas que não sabem lidar com as críticas da família, amigos, ou que começam um relacionamento amoroso pouco tempo depois de assumir o crespo, e se sentem inseguras com o visual. Resumindo: seja positiva e procure pessoas positivas para se relacionar e falar sobre o assunto. Esse é o meu recado!

Gostou da entrevista? Leia mais aqui! Também tem uma história de superação para compartilhar com a gente? Escreva para cachosefatosoficial@gmail.com

  1. Anonymous says:

    Eu amei tdo q ví e lí! vc é linda,seu cabelo tá lindo!vc é lindíssima!gostei d tdo q vc disse,até me emocionei,isso me serve d inspiração.obrigado.realmente,as proprias d cabelo crespo são preconceituosas.aq no Brasil é assim mesmo,oportunidade na tv p negras e negros é quase impossivel,muito triste.

  2. Amei essa entrevista! ACho que muitas negras cacheadas/crespas se identificam. Também comecei a alisar com 12 anos, quando me achava horrível e que morreria sozinha Tenho vergonha de admitir que eu renegava minha cor. sabia que eu era negra, mas deseja no meu íntimo ser branquinha. Me sentia inferiorizada. Nunca conversei com ngm a respeito e carreguei essa “culpa” durante muito tempo sozinha. Hoje, ao 27, estou super de bem comigo e com meu cabelo totalmente natural. Nunca recebi tantos elogios como agora.

  3. Brizza, fico feliz que, assim como a Nane, você conseguiu superar a fase da não aceitação e conseguiu valorizar o seu cabelo natural, e consequentemente, você mesma. bjks

  4. Cara assim eu tô apaixonada por essa menina *_* tudo sobre o q ela falou eu concordo pois passar pela transição aqui no brasil é muito mais difícil, eu digo isso por experiência própria pois estou com 5 meses de transição (entrando para o sexto mês) e vejo a cara das pessoas para meu cabelo,quando eu falo sobre o assunto noto a reprovação na hora. infelizmente o preconceito ainda é muito grande.

  5. Anonymous says:

    A cada foto sua fico chocada com a beleza de seus cabelos e, claro, consequentemente a sua!! Parabéns!!!!

  6. Anonymous says:

    Para todos os casos um conhecido não teria problema em comentar…
    Estou muito orgulhoso de você… E desde que você se foi daqui do brasil, sinto em seu olhar o quanto você esta feliz com tudo. E mais linda a cada dia.
    Não deixe de acreditar em sí mesma e continue seu lindo trabalho 🙂
    bjs e enorme abraço de urso nani.
    ATT. seu eterno cunhadinho 😀

  7. Sempre achei vc muito bonita… mas agora vc é belíssima, Ariane! A Europa arejou sua cabeça, seus cabelos, sua vida! Estou muito feliz por poder acompanhar essa sua evolução! Estou indo dormir agora, já de madrugada, pq quis ler cada palavra dessa boa entrevista. Confesso que aumentou ainda mais a minha admiração por vc! Muito sucesso e que Jah bless u so much! (jailton mateus)

  8. Ola, adorei a entrevista. Adoro o seu cabelo. Eu também fiz o big chip e está agora a crescer. Confesso que aninda ha muito preconceito em relação ao cabelo crespo. Eu tb passo por isso. Mas não LIGO. O nosso cabelo é lindo e estou adorando a minha nova eu, o meu cabelo natural. O teu cabelo é um maximo. Muitos beijinhos e parabéns. 💋

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

<a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

Comentários no Facebook