Alê Hammond: Mudanças não a intimidam!

Alessandra Gouveia, mais conhecida como Alê Hammond nos grupos de cacheadas, é uma carioca de 27 anos, que mora em Duque de Caxias-RJ, mas está de mudança para o interior paulista, mas especificamente, Campinas, onde mora seu noivo, com quem vai oficializar a relação.

Mudar de estado e de cidade, que costuma ser uma mudança drástica na vida de muitas pessoas, para Alessandra é apenas mais uma ‘transição’ positiva em sua vida.

Segundo esta secretária executiva, a aceitação, a determinação, e principalmente o foco, são capazes de gerar resultados surpreendentes. E por isso, seu lema é viver para ser feliz, porque o resto é o resto.

Movida por esta filosofia e cansada de lidar com duas texturas de cabelo (o crespo original e os fios alisados), ela não pensou duas vezes quando apanhou a tesoura de costura de sua mãe. Antes mesmo da sua colação de grau, entrou no banheiro com o cabelo alisado ainda na cabeça, e saiu com, praticamente, todo ele, enrolado no jornal.

Este foi o ‘enterro’ simbólico que ela arrumou para se livrar de uma etapa de sofrimentos e privações, onde o cabelo ditava as regras. Alessandra se libertou dos grilhões sociais, redescobriu o crespo e se apaixonou pelo volume imponente, que, naturalmente, não se opunha com a sua personalidade.

Hoje, depois de pesquisar e aprender com outras meninas, ela segue a rotina Low Poo e ostenta um crespo imponente, cheio de vida e com muito, mas muito volume, para sua total alegria. Alessandra também aprendeu que mudanças radicais, por mais difíceis que sejam, podem ser extremamente benéficas, mas para que estas aconteçam, só dependemos de uma única pessoa: nós mesmas e nossa capacidade de seguir em frente, sem olhar pra trás.

Espero que gostem da entrevista!

Participar de eventos como o amigo oculto crespo,
além de grupos de cacheadas e crespas no facebook,
ajudou Alê Hammond  (6ª da esq. para dir. em pé)
a aprender a cuidar do seu cabelo natural

“São três anos de cabelo natural. Comecei a aprender sobre cabelos em junho do ano passado, onde fui indicada por minha amiga a participar do grupo de cacheadas. Durante todo esse tempo de transição, BC e crescimento, cuidei do meu cabelo sozinha, pois eu ainda não tinha conhecimento de grupos.”


Sabrinah Giampá – Há quanto tempo você usa o seu cabelo natural? 
Alê Hammond – São três anos de cabelo natural.Comecei a aprender sobre cabelos em junho do ano passado, onde fui indicada por minha amiga a participar do grupo de cacheadas.
Sabrinah Giampá – Como foi a sua transição e/ou big chop?

Alê Hammond – Durante todo esse tempo de transição, BC e crescimento, cuidei do meu cabelo sozinha, pois eu ainda não tinha conhecimento de grupos. Além disso, tinha pouco acesso à internet, por conta de minhas atividades profissionais, então cuidava da forma como achava que era certo.

Alê Hammond (1 ª da esq. para dir.)durante o evento Encrespa Geral, no Rio de Janeiro.
Amigas cacheadas serviram de inspiração para assumir os fios naturais
“Observar pessoas próximas retornando aos fios de origem, me encheu de vontade de resgatar os meus também, mas não sabia como, nem por onde começar.”

Sabrinah Giampá – O que te levou a retornar aos fios de origem?

Alê Hammond – Quando comecei a ver amigas e colegas minhas assumirem seus cachos e crespos, fiquei encantada, e ao mesmo tempo me questionava sobre o porquê da minha decisão de esconder meu natural. Observar estas pessoas próximas retornando aos fios de origem, me encheu de vontade de resgatar os meus também, mas não sabia como, nem por onde começar, afinal eram cinco anos de processos químicos.

A história capilar de Alê Hammond: do primeiro alisamento, aos 15 anos, à transição, big chop, e finalmente, de volta ao crespo imponente que exibe nos dias atuais.

 

Sabrinah Giampá – E mesmo sem informações sobre transição e big chop você interrompeu com o alisamento por vontade própria?

Alê Hammond – Exatamente. Eu deixei de alisar e escovar sem saber  o que significava transição, então isso ocorreu de forma bem natural, até porque fiz por conta própria, sem nenhuma informação. Tempos depois, fui fazer minhas unhas em um salão, e entrou uma moça dizendo que queria voltar aos cachos novamente. A cabeleireira virou e disse: – Só cortando tudo! Daí eu pensei: -Tudo??? Mais algumas semanas se passaram e continuei com esse pensamento na cabeça, e foi quando, num momento de coragem, peguei a tesoura de costura da minha mãe, entrei no banheiro com cabelo e sai sem ele, com o que sobrou da química, enrolado no jornal.

“Eu deixei de alisar e escovar sem saber o que significava transição, então isso ocorreu de forma bem natural, até porque fiz por conta própria, sem nenhuma informação. Tempos depois, fui fazer minhas unhas em um salão, e entrou uma moça dizendo que queria voltar aos cachos novamente. A cabeleireira virou e disse: – Só cortando tudo! Daí eu pensei: -Tudo??? Foi quando, num momento de coragem, peguei a tesoura de costura da minha mãe, entrei no banheiro com cabelo e sai sem ele, com o que sobrou da química, enrolado no jornal.”


Sabrinah Giampá – E qual foi a reação das pessoas mais próximas, após seu big chop, feito com a tesoura de costura da sua mãe?
Alê Hammond –  Todos disseram: – MENINAAAAA, O QUE VOCÊ FEZ??? (Eu não sabia que isso era BC, e detalhe, fiz isso duas semanas antes da minha colação de grau!
Sabrinah Giampá – E como cuidou dos fios naturais após o grande corte?
Alê Hammond- Fui cuidando então do meu cabelo com tranças e bastante hidratação de abacate, que minha mãe havia me ensinado, e babosa também. Quando ele começou a ganhar tamanho, parei com as tranças e continuei o tratamento da forma mais simples possível, até mesmo por desconhecer essa gama de informações que se tem hoje. Mas, confesso que o controle da ansiedade foi essencial nisso tudo.

“Todos disseram: – MENINAAAAA, O QUE VOCÊ FEZ??? (Eu não sabia que isso era BC, e fiz isso duas semanas antes da minha colação de grau). Da parte da minha família, nunca houve nenhum um tipo de preconceito . O que me levou a alisar o cabelo foram as amizades de escola, que faziam com que eu achasse que mantendo o meu cabelo liso, seria aceita, ou seja, alterar meu cabelo natural me tornaria ‘bonita’. Hoje percebo isso tudo como uma grande ilusão.”


Sabrinah Giampá – Como era a sua relação com o seu cabelo na infância e adolescência? Seus pais demonstravam algum tipo de preconceito com o  seu cabelo?  

Alê Hammond – Da parte da minha família, nunca houve nenhum um tipo de preconceito com relação ao meu cabelo. Na minha infância e adolescência, o que me levou a alisar o cabelo foi o preconceito vindo  de amizades de escola, que faziam com que eu achasse que mantendo o meu cabelo liso, seria aceita, ou seja, alterar meu cabelo natural me tornaria ‘bonita’. Hoje percebo isso tudo como uma grande ilusão.

Alê Hammond de tranças nagô: ” Fui cuidando então do meu cabelo com tranças e bastante hidratação de abacate, que minha mãe havia me ensinado, e babosa também. Quando ele começou a ganhar tamanho, parei com as tranças e continuei o tratamento da forma mais simples possível, até mesmo por desconhecer essa gama de informações que se tem hoje. Mas, confesso que o controle da ansiedade foi essencial nisso tudo.”

 

Sabrinah Giampá – Você não sofreu preconceito familiar na infância e adolescência em relação ao seu cabelo natural, e sim, acabou sofrendo uma imposição social, que geralmente ocorre com a maioria das meninas crespas. Assumir o natural, depois de tantos anos de alisamento, trouxe a tona algum tipo de preconceito?

Alê Hammond – Resgatar o meu cabelo natural não me trouxe preconceito familiar. Minha mãe apenas se espantou com a minha quantidade de cabelo, que triplicou( kkkkk). Ela sempre me pede para pentear ‘um pouquinho’, mas essa é minha característica mais forte:  sem volume, não sou eu!

Atualmente, Alê é apaixonada pelo volume de seu cabelo natural

“Minha mãe apenas se espantou com a minha quantidade de cabelo, que triplicou (kkkkk). Ela sempre me pede para pentear ‘um pouquinho’, mas essa é minha característica mais forte:  sem volume, não sou eu!”

Sabrinah Giampá – E no ambiente de trabalho? Sentiu algum tipo de preconceito?   

Alê Hammond – Já no ambiente de trabalho, sofri preconceito sim, justamente por acharem que meu cabelo é ‘exagerado’, e até me cogitaram a possibilidade de  fazer escova. Também recebi pedidos para que eu ‘abaixasse’ ele um pouquinho, mas minha resposta foi exatamente esta: ” No ato de minha entrevista, não escondi minhas raízes, portanto, me julguem pela minha capacidade profissional, e não pelo cabelo, porque caso meu cabelo entre em questão, permaneço com ele até o fim, apenas trocarei de emprego.”

Preconceito no ambiente de trabalho não intimidou Alê

“No ambiente de trabalho, sofri preconceito sim, justamente por acharem que meu cabelo é ‘exagerado’, e até me cogitaram a possibilidade de  fazer escova. Também recebi pedidos para que eu ‘abaixasse’ ele um pouquinho, mas minha resposta foi exatamente esta: ” No ato de minha entrevista, não escondi minhas raízes, portanto, me julguem pela minha capacidade profissional, e não pelo cabelo, porque caso meu cabelo entre em questão, permaneço com ele até o fim, apenas trocarei de emprego.” 



Sabrinah Giampá – No trabalho, pelo visto, sua decisão de assumir suas raízes não foi fácil. E nas relações pessoais, como seu noivo encarou essa mudança?
Alê Hammond – Meu noivo sempre me apoiou na minha decisão pelo natural. Ele já teve black power e curte muito minha fase multi fios e cachos (kkks).
Sabrinah Giampá -Acha que o preconceito com os cabelos crespos está diretamente ligado ao preconceito étnico? 

Alê Hammond – Ao meu ver, está ligado sim. Cabelos crespos e cacheados sempre sofreram com comentários vazios e sem argumentos lógicos. Nestas situações, eu sempre me posiciono com uma resposta bem sucinta e direta, ou até ignoro, para não gastar meu precioso tempo.

Alê e o noivo: apoio incondicional na valorização dos fios naturais

 

“Meu noivo sempre me apoiou na minha decisão pelo natural. Ele já teve black power e curte muito minha fase multi fios e cachos (kkks).”






Sabrinah Giampá – Assumir o cabelo natural é uma mudança, antes de tudo, interna? 

Alê Hammond – Sim, porque parte da aceitação é se amar e valorizar o próprio cabelo como ele realmente é,  e não dar ouvidos ao que A,B e C pensam a respeito. É preciso se importar com o seu próprio bem estar e autoestima. Como no meu caso, eu não me aceitava como era, achava que o cabelo cacheado e minha magreza, na época, eram os fatores que faziam as pessoas se afastarem de mim. Tudo isso fez com que preferisse me isolar na adolescência. Nesta época, também acreditei que o alisamento fosse minha porta de acesso para ser aceita nos grupos de amigos na escola e etc, o que no futuro acabou se mostrando uma utopia. Então, decidi largar isso tudo e ser eu mesma, a Alê, sem nenhuma vergonha de dizer que sou uma cacheada crespa, com muito orgulho.

Alê entre a nova geração de crespas da baixada fluminense:
crianças lindas e saudáveis, longe das químicas agressivas.

“Eu não me aceitava como era, achava que o cabelo cacheado e minha magreza, na época, eram os fatores que faziam as pessoas se afastarem de mim. Tudo isso fez com que preferisse me isolar na adolescência.”





Sabrinah Giampá-  Você acredita que existe uma ditadura dos cabelos longos e lisos no Brasil, o que pensa a respeito? Acha que influencia meninas para o lado oposto do big chop?

Alê Hammond – Existe sim, e isso ocorre através da mídia, que usa e abusa do Photoshop, criando belezas irreais, capazes de mexerem   com o subconsciente do consumidor final, o que o faz este acreditar, que abolindo com os cachos e crespos, no final, tudo ficará ‘lindo de viver’. Deixo claro que tenho admiração por todos os tipos de cabelos naturais, sendo eles, crespos, cacheados e lisos! Mas, já fico um pouco mais aliviada em perceber que esta ditadura da beleza está sendo quebrada aos poucos, e hoje já é possível ver através da internet, TV, e até mesmo nas ruas, várias meninas, e até rapazes, que estão assumindo suas verdadeiras raízes.

 

Depois de redescobrir o crespo natural,
Alê inova na coloração
“Na adolescência, eu acreditei que o alisamento fosse minha porta de acesso para ser aceita nos grupos de amigos na escola e etc, o que no futuro acabou se mostrando uma utopia. Então, decidi largar isso tudo e ser eu mesma, a Alê, sem nenhuma vergonha de dizer que sou uma cacheada crespa, com muito orgulho.”





Sabrinah Giampá – Embora perceba algumas mudanças positivas em relação com a forma que o cabelo crespo é mostrado na mídia, acha que ainda faltam referências midiáticas para as mulheres crespas? Como isso influenciou seus hábitos capilares?

Alê Hammond – Embora ainda existam poucas referências crespas na mídia, já conseguimos ter grandes nomes que nos representam, sejam atrizes, atores, cantores… Sempre acompanho as entrevistas e fotos destas celebridades, e apoio totalmente a causa, porém, no momento atual, não busco inspiração neste tipo de referência, prefiro ler artigos e me espelhar em minha própria história e força de vontade, que me fizeram chegar até aqui. Também me inspiro em colegas conhecidas e anônimas, que possuem histórias lindas de autoaceitação.

Alê com a blogueira cacheada, Bruna Caixeiro,
durante o Encrespa Geral,
do Rio de Janeiro

“Embora ainda existam poucas referências crespas na mídia, já conseguimos ter grandes nomes que nos representam. Porém, no momento atual, não busco inspiração neste tipo de referência, prefiro ler artigos e me espelhar em minha própria história e força de vontade, que me fizeram chegar até aqui. Também me inspiro em colegas conhecidas e anônimas, que possuem histórias lindas de autoaceitação.” 


Sabrinah Giampá – Como cuida do seu cabelo atualmente?
Alê Hammond – Sou básica demais. Não sigo cronograma capilar por não ter tempo disponível, por isso, sempre que posso, faço hidratações e restaurações, por conta também das descolorações que realizo nele. Embora tenha pouco tempo, minha relação com meu cabelo é de total carinho. Procuro sempre usar shampoo sem sulfato e condicionador, creme para finalizar e máscaras sem silicones. Na finalização, uso os dedos para pentear.
 
Sabrinah Giampá – É preciso gastar muito dinheiro para ter fios crespos bonitos?
Alê Hammond – Na minha opinião, não, até porque, eu mesma não gasto muito com produtos. Fiz a opção de usar produtos simples, mas que me trazem resultados positivos, sem precisar fazer grandes investimentos.

 

Alê interagindo com o anúncio de sua marca favorita
de produtos para cabelos crespos

“Embora tenha pouco tempo, minha relação com meu cabelo é de total carinho. Procuro sempre usar shampoo sem sulfato e condicionador, creme para finalizar e máscaras sem silicones. Na finalização, uso os dedos para pentear.” 


Sabrinah Giampá –  É mais fácil cuidar de um cabelo natural ou progressivado?

Alê Hammond – Na minha opinião, não há trabalho em realizar os cuidados com o cabelo crespo, ainda mais se compararmos com o tempo que é preciso passar sentada na cadeira do salão, fazendo a progressiva, e muitas das vezes, queimando até o couro cabeludo, que também sofre agressões com pranchas e escovas. Isso sem contar a sensação pavorosa de inalar o cheiro forte daqueles produtos por horas e horas. Sinceramente, hoje, o cabelo natural pra mim está sendo muito mais fácil, e nem posso falar que me dá trabalho. Você pode usar seco, molhado, passar os produtos (sem químicas) que você deseja, criar penteados, e o melhor: ser livre, sem se preocupar em marcar presença no salão, de três em três meses, para alisar raiz .
Sabrinah Giampá- Quais são seus produtos preferidos?
Alê Hammond – Creme de estilizar Wella ProSerie Hydration, Kit Creoula Lola Cosmetics e sabonete de glicerina Johnson Baby.

 

A linha Creoula, da Lola Cosmetics, é uma das preferidas de Alê Hammond, para cuidar do seu cabelo crespo

 

Sabrinah Giampá – Costuma fazer algum penteado?  Qual?

Alê Hammond – Sim! Costumo chamar de moicano de ladinho.

Alê Hammond não costuma gastar muito dinheiro
para cuidar dos fios naturais
“Se vivermos na dependência do que os outras pessoas irão dizer, viveremos enclausuradas dentro de um mundinho tão pequeno, que sempre irá gerar limitações, que automaticamente, causarão baixa autoestima, depressão etc.. Então não deixe que isso aconteça, e tome você mesma o primeiro passo para a mudança.”


Sabrinah Giampá – Qual o recado que você deixaria para outras meninas que tem uma história parecida com a sua, mas que não conseguem se aceitar devido ao preconceito que elas próprias internalizaram?
Alê Hammond – Se existe, realmente, interesse em assumir o natural, não se importe com o que terceiros venham  falar ou opinar, não tenham  medo de ‘supostas’ aceitações da sociedade, pois essa aceitação deve vir primeiro de si mesmo. Ser natural é ter de volta o que um dia o ‘modismo’ nos tirou, e isso não tem preço.  Não tenha medo de ser natural, críticas sempre existirão, porém, devemos seguir em frente no que realmente desejamos. A aceitação, a determinação e o foco são capazes de gerar resultados surpreendentes. Portanto, vivam, sejam felizes, porque o resto é o resto. Se vivermos na dependência do que os outras pessoas irão dizer, nunca iremos viver, ou melhor, viveremos enclausuradas dentro de um mundinho tão pequeno, que sempre irá gerar limitações, que automaticamente, causarão baixa autoestima, depressão etc.. Então não deixe que isso aconteça, e tome você mesma o primeiro passo para a mudança.

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