Exausta e atordoada, a moça caminhava cabisbaixa e em ritmo frenético pela Avenida Paulista, beirando a Consolação. O ponto de ônibus estava próximo e na ânsia de chegar logo em casa, ela se desviava com destreza da multidão descontrolada, que vinha no sentido contrário também em passos cavalares. De repente, uma pausa. Ou melhor, uma dor forte, seguida de uma pausa. Uma perna paralisada e uma abelha africana que ali se alojara. A picada se deu em cima de uma legging que a moça usava. O ferrão atravessou sem piedade o tecido grosso e na pele se instalou. No desespero, ao constatar o ataque e o inseto dependurado em sua perna, a moça usou da única arma disponível no momento, o bilhete único que estava em suas mãos. Ela usou o bilhete para remover o inseto, que se encontrava morto após o ataque. A dor era tanta que ela mal conseguia andar, se arrastou até o ônibus com o turbilhão de sensações provocadas pela picada, além das indagações: será que sou alérgica a picada? E se for, será que posso morrer no caminho de casa? Deveria ir a um hospital? Chamar uma ambulância? Cansada e sem paciência para discutir consigo mesma, tentou uma farmácia no caminho. O farmacêutico irredutível disse que não poderia medicá-la nem com uma simples pomada, pois era um caso clínico. Agora, os farmacêuticos que me desculpem, mas se eles não podem receitar nem uma pomada, o que fazem na farmácia? Inconformada, a jovem saiu revoltada e foi pra  casa. Se contentou com a primeira pomada que encontrou no seu kit de primeiros socorros. As possibilidades negativas ficaram para trás. Restou apenas uma inquietação, a de que no cenário urbano havia inúmeras chances de acontecimentos desagradáveis: um assalto, um atropelamento, uma bala perdida, mas ela havia sido surpreendida por uma abelha africana perdida na selva de pedra. Talvez mais perdida do que ela. O encontro, portanto, não teria sido casual. Destinos traçados? Talvez. Se a vida não lhe dava o mel, ela finalmente, seria obrigada a se contentar com o fel.

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